Exclusivo Credores obrigacionistas da Efacec ainda à espera da Mutares
O Governo anunciou que o acordo com o fundo alemão será assinado até ao final do mês, mas os credores obrigacionistas da Efacec ainda não receberam qualquer informação sobre o plano da Mutares.
Os investidores institucionais que emprestaram 58 milhões de euros à Efacec em 2019 — através de uma emissão obrigacionista a cinco anos com uma taxa fixa de 4,5% — ainda não tinham recebido, no final da semana passada, qualquer informação sobre o processo de venda da empresa ao fundo alemão Mutares já anunciado pelo Governo e que, segundo o próprio ministro da Economia, pressupõe um plano de reestruturação e a aprovação prévia dos credores, incluindo precisamente os que compraram as referidas obrigações.
O Governo anunciou a venda da Efacec ao fundo Mutares, sem revelar quaisquer dados do plano de reestruturação, nomeadamente as perdas a assumir pela banca e pelos obrigacionistas e o próprio Estado, nem sequer o valor a pagar pelo fundo pela aquisição dos 71,73% do capital. Mas como o próprio ministro da Economia confirmou, depois das notícias do ECO, há condições precedentes para o negócio avançar, da DG Comp (Bruxelas), e depois da luz verde da Autoridade da Concorrência e do Tribunal de Contas, mas também os credores. Ora, apesar das garantias de que o contrato será assinado no prazo de duas semanas desde o anúncio, os credores obrigacionistas ainda aguardam por informação, nomeadamente se a Mutares quer também impor perdas numa emissão que vence em 2024 e que, segundo informação oficial divulgada à data, foi colocada sobretudo em Espanha (64% do total), e o remanescente em Portugal.
O Estado injetou 132 milhões de euros na Efacec, a que se somam mais 85 milhões de euros em garantias. A empresa tinha uma exposição à banca de 150 milhões, dos quais os referidos 85 milhões garantidos pelo Estado, e os obrigacionistas detêm 58 milhões em títulos de dívida. E segundo informação não oficial, ambos os grupos de credores serão chamados a assumir perdas na reestruturação da empresa de modo a assegurar a viabilidade financeira da Efacec. Ora, no caso dos obrigacionistas, qualquer mudança tem de ser avaliada e decidida em assembleia de obrigacionistas, cuja realização não tem qualquer data marcada.
O ECO contactou oficialmente a Mutares, mas não obteve qualquer resposta até à publicação desta notícia.
O ministro da Economia voltou a garantir no Parlamento, num debate de urgência pedido pelo PSD, que o Estado poderá recuperar parte do investimento feito na empresa, sem contudo revelar quaisquer dados que permitam detalhar o que se vai passar. “A Mutares fez uma proposta inovadora, um modelo de investimento que é baseado numa espécie de recuperação escalonada desse investimento. Tem experiência em recuperar empresas industriais e está disponível para partilhar o valor que vai gerar na empresa com o Estado”, sublinhou Costa Silva. Mas o ministro argumenta que não podem ser divulgados dados do acordo — ainda por assinar — porque a Mutares é uma empresa cotada. E pediu “sentido de Estado” à oposição.
“O PS tem o toque de Midas ao contrário”, ironizou por seu turno Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, concentrando a sua intervenção nos prejuízos registados pela Efacec e no facto de uma empresa com mão-de-obra qualificada, com produtos de ponta, não ser capaz de gerar lucro. A razão? “Ter o pior acionista do mundo, o Estado português”, criticou.
A companhia liderada por Ângelo Ramalho fechou o ano com um prejuízo operacional de 90,6 milhões de euros e um resultado líquido consolidado negativo de cerca de 52 milhões, enquanto os capitais próprios revelam também uma situação líquida negativa de 50 milhões de euros (e ainda assim ajudada por 66 milhões de crédito fiscal por impostos diferidos).
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