Conduril sobe lucros na construção em 25% e fecha operação no Zimbabué
Com 2.800 trabalhadores, construtora de Ermesinde faturou 219 milhões de euros no ano passado e encerrou atividade na subsidiária africana devido à “exiguidade de projetos e instabilidade económica".
Num contexto marcado por “constrangimentos” à atividade da indústria da construção, que inclui uma maior instabilidade nas cadeias de fornecimento e a subida “significativa” dos preços da energia e das matérias-primas, a Conduril fechou o último exercício com uma subida de 25% nos lucros, para 7,3 milhões de euros, e um volume de negócios de 219 milhões de euros, 40% acima do registado no ano anterior – e que compara com os 124 milhões faturados no ano do início da pandemia.
Em Portugal, onde o setor da construção beneficiou dos “elevados números de adjudicações” feitas em 2020 e em 2021 – e perspetivando um “dinamismo” este ano impulsionado pelos investimentos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e para finalizar o PT2020 –, a construtora com sede em Ermesinde e liderada por Benedita Amorim Martins, que emprega um total de cerca de 2.800 pessoas, contabiliza ter realizado mais de 60% da atividade no mercado nacional.
Entre as grandes empreitadas em curso, salienta a Conduril no mais recente relatório e contas, atingiu “fases basilares” na construção da barragem e central do aproveitamento hidroelétrico do Alto Tâmega (coroamento da barragem), tendo completado a execução estrutural na terceira fase da expansão do molhe leste do Porto de Sines. Em destaque esteve igualmente o envolvimento nas obras férreas em curso no país e as novas angariadas no âmbito do projeto Sines 4.0, empreendimento responsável pela construção de um mega centro de dados em Sines.
Já nos mercados africanos, nos quais as construtoras portuguesas têm sido afetadas por um abrandamento no lançamento de novos projetos e por uma “competição cada vez mais forte” com empresas estrangeiras – “com a consequente queda abrupta dos preços, via redução das margens ou, até, via sacrifícios nos custos”, assinala –, o grupo nortenho fundado por António Luís Amorim Martins, que morreu em fevereiro deste ano, acabou por fechar aquela que era a sua operação internacional mais pequena e também mais recente, iniciada em 2019.
“Perante a exiguidade de projetos e a instabilidade económica que o Zimbabué atravessa, o grupo Conduril reequacionou a sua atuação neste país e optou por encerrar a sua atividade”, revela no mesmo documento. De acordo com os últimos dados disponibilizados, relativos a 2021, este mercado gerou um volume de negócios líquido de quase 600 mil euros. O ECO contactou a empresa para obter mais detalhes sobre a operação e este desinvestimento, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.
No continente africano, onde no final do ano passado estavam mais de sete em cada dez trabalhadores do grupo fundado em 1959 e participado pelo banco BPI, conquistou várias obras públicas novas em Angola, onde arrancou com a internacionalização em 1990, nomeadamente para o Governo Provincial de Benguela e para o Ministério das Obras Públicas. Já a atividade em Moçambique teve uma “elevada estagnação”, por via da “instabilidade terrorista” no norte do país, que originou a paralisação dos projetos de gás natural.
Na Zâmbia, onde diz ter “perspetivas animadoras”, angariou a nova obra de reabilitação e extensão da rede de águas e esgotos em Mufulira, com financiamento internacional, e a obra de reabilitação e encerramento de barragens na mesma região para o Ministério de Minas, o que potencia o desenvolvimento e a presença neste mercado para os próximos anos. Apesar de não ter ganho qualquer projeto novo no Malawi, a construção de parte do canal de irrigação de Shire Valley, em execução, teve um “ritmo de produção considerável”. Finalmente, destaca a execução de uma obra de abastecimento de águas no Gabão, após terminar uma obra de drenagem em Libreville.
Carteira de encomendas de 520 milhões
Mesmo que o setor da construção continua a sentir dificuldades como a falta de matéria-prima e mão-de-obra, ou o aumento dos preços e do custo de financiamento – o grupo diz ter “apenas uma pequena parte do endividamento” indexado a taxas de juros variáveis –, após transitar de ano com uma carteira de encomendas avaliada em 520 milhões de euros, no caso de Portugal, expressa otimismo com os investimentos privados na área da energia e públicos ao nível das infraestruturas. A Conduril integra o consórcio português para a alta velocidade ferroviária, com a Mota-Engil, Teixeira Duarte, Casais, Gabriel Couto e Alves Ribeiro.
“Em África, a estabilidade política e económica almejada parece querer começar a produzir resultados, trazendo consigo um incremento dos concursos de obras públicas e particulares. Existem perspetivas muito positivas para o grupo Conduril continuar a angariar novas obras e até novos mercados, com garantias de financiamento internacional, prevendo-se assim um crescimento de 20% no volume de negócios”, detalha o grupo, que atualmente possui sucursais em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Zâmbia, Malawi e Marrocos.
A 31 de dezembro de 2022, o grupo tinha assumido responsabilidades por garantias bancárias prestadas no montante de 92 milhões de euros, “fundamentalmente para efeitos de concursos, como garantia de boa execução de obras e financeiras”. Por outro lado, os gastos com pessoal ascendiam a 54,8 milhões de euros, 20% acima do registado um ano antes, com o número médio de empregados a passar neste período de 2.369 para 2.806 no final do ano passado.
Ainda na área dos recursos humanos, ao longo do ano passado, a construtora da família Amorim Martins contabiliza que foram ministradas mais de 14 mil horas de formação. As despesas relacionadas com a atividade da Conduril Academy, um centro credenciado pelos organismos que tutelam a formação profissional nos países onde atua, ascenderam em 2022 a 148 mil euros, financiadas na íntegra pelo grupo de Ermesinde.
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