Seguradoras só ganharam 0,2% com os 51 mil milhões que investiram
O setor que é o maior investidor institucional em Portugal sofreu nos últimos dois anos com a incerteza nos mercados de ações e obrigações, mas há confiança que o vento está a mudar.
As seguradoras em Portugal têm permanentemente investido valores acima dos 51 mil milhões de euros em diferentes instrumentos dos mercados financeiros, em imobiliário ou em depósitos bancários. Em dinheiro nos bancos, em contas não remuneradas, têm em média 1,8 mil milhões de euros, uma liquidez com a prontidão necessária para ocorrer ao pagamento imediato dos sinistros dos seus clientes, mas que os torna excelentes dos clientes dos bancos.
No entanto, as companhias têm passado por maus momentos nos últimos dois anos. Segundo números mais atuais agora divulgados pela ASF, supervisora do setor, esta revela uma rentabilidade de 0,2% para o conjunto das seguradoras portuguesas em 2022. Na prática significa que as seguradoras em Portugal apenas conseguiram ganhar cerca de 81,8 milhões de euros para os 51,5 mil milhões que tiveram em média à sua disposição em 2022 para investirem. Essa rentabilidade tem vindo a baixar desde 2018, à medida que os mercados financeiros se complicaram pela quebra das cadeias logísticas devidas à Covid-19, à inflação acelerada pela invasão da Ucrânia e à consequente volatilidade dos mercados financeiros.
“Parece que é fenómeno sem igual há mais de um século”, comenta Nelson Machado, responsável pela área Vida do Grupo Ageas Portugal, ou seja, “existir num mesmo ano depressão simultânea no mercado de ações e obrigações”. De facto, as desvalorizações aconteceram nos mercados preferidos das seguradoras.
As seguradoras têm de forma simples duas fontes de rendimento para o seu negócio. O principal vem dos resultados de subscrição, ou seja, da diferença do que recebem em prémios com o que pagam em indemnizações aos segurados adicionadas das despesas como comissões de venda, rendas de lojas ou custos com os seus colaboradores. Depois, como são legalmente obrigados a constituir provisões para fazer face aos seus compromissos com os seus segurados, e precisam de obter rendimentos com elas por via de investimentos para aumentar as receitas.
As maiores seguradoras do ramo Vida são também as que mais têm valores investidos. São essas as mais sofrem em valor pelas turbulências do mercado. Em relação ao rendimento, com contas feitas com base em dados da ASF, os grandes problemas apontados em 2022 como ganhos líquidos negativos de 437 milhões de dólares são menos valias potenciais em relação a valores de obrigações de ações que estão abaixo do valor comprado pelas seguradoras. Ainda não são perdas reais e, dada a solidez das seguradoras, nunca serão já que não se antevê necessário vender esses títulos com prejuízo.
A questão do risco do investimento é uma das limitações que se coloca mais às seguradoras que a outras operadoras do mercado, como fundos de investimento. As suas carteiras precisam ser prudentes e daí o enorme peso de obrigações de dívida pública nas suas carteiras de investimento. Quase 40% do total de 51,5 milhões estava investido no último dia do ano passado, em títulos do Estado, 13 mil milhões em obrigações de empresas privadas, e em capital de risco, as ações, apenas cerca de 8%. No imobiliário, embora a propriedade das seguradoras seja muito visível nas cidades e em toda a paisagem portuguesa, apenas 600 milhões de euros estão investidos.
Os investimentos das seguradoras devem, como todas as carteiras de investimento de grande dimensão, de assegurar diversificação de instrumentos, de geografias e de setores de atividade. As companhias portuguesas preferem reduzir os riscos políticos investindo mais de 60% das carteiras em países da União Europeia ou da Europa ficando mais salvaguardadas do risco político e do risco cambial.
Os setores preferidos das seguradoras acabam por ser as grandes empresas nos setores onde existem as maiores empresas. Note-se alguma exposição maior ao setor financeiro, cujo risco conhecem bem e em setores e em empresas com retornos e valorizações mais previsíveis.
Os investimentos das seguradoras já estão a recuperar este ano, dizem fontes do setor, as altas taxas de juro já começam a funcionar favoravelmente aos ativos detidos pelas companhias. Põe-se assim um fim a dois anos em que a limpeza de produtos de capital ou mesmo de rendimento garantido penalizou o setor ao mesmo tempo que ações e obrigações estavam sem controlo.
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