Seguradoras suspeitam de fraude em um de cada dez sinistros participados
Custo potencial das fraudes aos seguros atingiu 67 milhões de euros no ano passado, mas seguradores e peritos explicam que muitas não são detetadas o que leva a aumento dos prémios de seguros.
As seguradoras em Portugal, ao longo do ano passado, registaram 139 mil participações de sinistros suspeitos de serem tentativas de fraude, segundo o relatório Fraudes aos Seguros publicado pela Associação Portuguesa de Seguradores (APS).
A APS, que representa e agrupa informação de todas as seguradoras a atuar no mercado, indica que para as 15,4 milhões de apólices em vigor no país em 2022, foram participados 1,37 milhões de sinistros em todos os ramos (9%), tendo 139 mil (10%) sido considerado suspeitos pelas companhias de seguros. Estas decidiram averiguar 89 mil casos e já concluíram que em 18 mil situações se conseguiu confirmar a fraude. O custo potencial da fraude no ano passado foi de 67,5 milhões de euros e 23,4 milhões foram mesmo pagos porque foram situações tardiamente detetadas.
A burla aos seguros é crime punido por lei. Está especificamente prevista no Código Penal, prevendo pena de prisão até três anos ou multa a quem receber ou fizer com que outra pessoa receba valor total ou parcialmente seguro provocando ou agravando resultado causado por acidente cujo risco esteja coberto. Apenas a tentativa, mesmo sem sucesso, também é punível. As penas variam entre dois a oito anos de prisão, dependendo do prejuízo patrimonial provocado.
No entanto existe um problema cultural em relação à fraude nos seguros “para muitas pessoas a omissão não é colada à fraude”, afirma Carla Jorge, membro da Comissão Executiva e diretora de Sinistros da seguradora alemã Allianz em Portugal acrescentando que nos ramos Vida e Saúde a fraude está em falsas declarações no momento da subscrição, “muitas vezes por omissão”. A gestora considera ainda que o ramo automóvel é, pela sua dimensão, o mais vulnerável por volume de fraudes.
“A fraude é transversal a todos os ramos”, considera Rui de Almeida, presidente da Câmara Nacional dos Peritos Reguladores (CNPR), instituição que agrega os especialistas em análise de risco e peritagem contratados pelas seguradoras e tribunais para apurar a verdade sobre sinistros.
O perito explica que a “fraude aos seguros tem uma tolerância social semelhante à existente com segurança social e com o fisco” enquanto Manuel Castro, diretor do Colégio Automóvel da CNPR, acrescenta que a fraude nos seguros não só é tolerada como é paga pela sociedade, através do aumento de prémios de seguros para todos para compensar sinistros fraudulentos.
Manuel Castro aponta o dedo às seguradoras pela sua condescendência. “As seguradoras não participam fraudes porque terão mais custos e danos de imagem junto dos seus clientes”, diz, e assim “detetam casos, não pagam os sinistros, cancelam as apólices mas não participam às autoridades, levando os profissionais da fraude a apenas mudar de seguradoras e continuarem a agir da mesma forma”, acrescenta.
Carla Jorge revela que “o que se tem feito é investigar os casos com maior probabilidade de se detetar fraudes. A tecnologia trouxe-nos possibilidades de nos tornarmos mais eficientes na deteção e concentrar recursos para os casos que realmente têm mais possibilidade de serem fraude”.
A gestora da Allianz explica que a companhia tem alertas vários, modelos preditivos com base em dados históricos e, também como um presente tecnológico, uma área intitulada de relacionamento que realiza “conexões entre sinistros aparentemente isolados mas que têm elementos comuns, um pessoa ou uma situação”, concluindo que assim as redes de fraudes ficam assim mais fáceis de detetar.
Para Carla Jorge, a Inteligência Artificial vai ajuda a acentuar os alertas, mas afirma que hoje em dia “a própria participação do sinistro já nos dá algumas indicações, o tom de voz, o tipo de discurso ou as imagens enviadas”. Rui de Almeida avisa que “com o IA e outras ferramentas como cruzamento de dados temos ainda limitações legais”.
Manuel Castro refere que há duas categorias de autores de fraudes. O primeiro é o “ocasional, o desenrasca”, depois há “as redes internacionais, profissionais, que movem milhões”. Exemplifica com uma recente situação detetada na Europa com camiões que desaparecem, os seguros pagam e depois aparecem em África.
Também Carla Jorge explica que é muito importante para a Allianz essa deteção. Com grande peso no mercado da Europa central, a companhia defronta-se com contínuas passagens de fronteiras de veículos segurados a elevados ritmos. “Com estas novas formas de deteção de fraude, mais eficientes, conseguimos poupanças que não tornam os prémios mais caros”.
A gestora afirma ainda que o ramo Multiriscos é aquele que agora terá de avançar mais rapidamente para a deteção de fraudes, de forma a conseguir-se o nível de desempenho que já se conseguiu no ramo automóvel, conclui.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Seguradoras suspeitam de fraude em um de cada dez sinistros participados
{{ noCommentsLabel }}