Incerteza na economia global deve impedir S&P de promover notação de Portugal à liga ‘A’
Arrefecimento da economia global e inflação alta devem obrigar S&P a manter a notação em 'BBB+'. Analistas divergem sobre se perspectiva pode passar a 'positiva'.
Foi no pico da crise das dívidas soberanas – há 12 anos, cinco meses e seis dias – com Portugal a semanas de pedir um resgate internacional, visto por mais de meio mundo como inevitável, que a S&P se tornou na primeira agência a ‘atirar’ a notação soberana da dívida do país para fora da zona ‘A‘, atribuindo um rating de ‘BBB-‘.
A S&P poderia esta sexta-feira marcar o fim desse longo ciclo no segundo patamar, mas os analistas consultados pelo ECO dizem que o nervosismo sobre a travagem da economia global deverá impedir a agência de melhorar a notação, que depois de uma viagem infernal aos níveis de ‘lixo’ regressou entretanto a ‘BBB+’, com outlook estável.
“A decisão mais provável é a manutenção do rating existente, mantendo o outlook, sendo que as incertezas que rodeiam a economia global ao nível do crescimento, mas particularmente a economia da Zona Euro, acrescido do tema da inflação, que está longe de estar controlado, deixam demasiado espaço para um a concretização de cenário cinzento no final deste ano e para 2024, impossibilitando um outlook optimista ou melhoria de rating”, afirma Marco Silva, consultora da corretora ActivTrades.
Os principais fatores externos que a S&P poderá citar, adianta, são o crescimento das principais economias europeias, nomeadamente da alemã, mas também da espanhola. “Igualmente importante o andamento da inflação que dificilmente dará espaço para um alívio nos juros, numa fase em que internamente se devem materializar muitas dificuldades das família em suportar o brutal aumento do custo de vida, como por exemplo nos custos com a habitação, mas também na alimentação”, explicou.
Para Marco Silva, “do lado positivo há a implementação do PRR que pode minorar os efeitos de um arrefecimento das exportações”.
Trajetória ascendente
Em relação ao rating em si, também Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, vê a S&P a manter Portugal em ‘BBB+’. Acredita, no entanto que a agência possa passar a perspetiva de ‘estável’ para ‘positiva‘.
“O rating de Portugal tem tido uma trajetória ascendente, com as várias agências de rating a subirem o mesmo“. sublinhou. A última mexida no rating de Portugal pela S&P foi precisamente há um ano, quando a agência justificou a subida de um nível com o “forte crescimento económico”, o mercado de trabalho e as finanças públicas.
Entretanto, a 21 de julho, a agência de notação financeira canadiana DBRS melhorou a notação da dívida soberana portuguesa para ‘A’, com perspetiva ‘estável’, citando a melhoria significativa dos resultados orçamentais e da dívida, que diante de uma conjuntura externa exigente tem revelado maior resiliência e uma redução do risco de crédito.
Questionado sobre o impacto de uma subida para os ratings de nível ‘A’, ou seja do patamar ‘médio baixo’ para o ‘médio alto’, Filipe Silva frisou que “quanto mais elevado este for, mais segurança e confiança dará aos investidores desta classe de ativos, e que no final se traduzirá em custos menores na altura em que for emitir dívida”.
Marco Silva, da ActivTrades, adianta que subir para o nível A “pouco acrescentaria, tendo em conta que a dívida nacional está em grau de investimento, poderia resultar numa baixa residual dos juros da dívida, mas nada de significativo”.
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