BE quer ouvir Autoridade Tributária e Governo sobre atraso nos impostos sobre barragens
"Há uma hipótese de a EDP, mais uma vez, fugir ao pagamento de imposto, porque pode a AT não conseguir liquidar o IMI a tempo", alerta a deputada bloquista Mariana Mortágua.
O Bloco de Esquerda (BE) pediu esta quarta-feira a audição parlamentar urgente da diretora-geral da Autoridade Tributária (AT) e do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais sobre o atraso da avaliação das barragens do Douro para efeitos de cobrança do IMI.
Em conferência de imprensa, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, anunciou que o partido requereu igualmente os despachos enviados pelo Governo à AT, uma vez que a primeira ordem de fevereiro para que fosse avaliado o valor patrimonial das barragens não terá sido executada.
“Há uma hipótese de a EDP, mais uma vez, fugir ao pagamento de imposto, porque pode a AT não conseguir liquidar o IMI a tempo [até 31 de dezembro] e por isso a EDP pode fugir ao imposto dos últimos cinco anos sobre a barragem“, avisou a deputada.
Em causa está a venda pela EDP, em 2020, de seis barragens em Portugal a um consórcio de investidores, formado pela Engie, Crédit Agricole Assurances e Mirova, por 2,2 mil milhões de euros.
A deputada recordou que o Governo começou por defender que não haveria lugar à cobrança de IMI e depois, “por pressão do BE e de movimentos” da região, mudou de posição, mas, três anos depois, continuam sem ter sido cobrados os impostos devidos. “Não aceitamos e não compreendemos esta injustiça, porque é que a EDP continua a ter situação de privilégio neste país“, afirmou.
Mariana Mortágua salientou que “nunca se aplicou às barragens” da EDP a mesma regra que vigora para qualquer outro prédio – que paga IMI – e, por essa razão, no momento da venda, também não houve pagamento de IMT, num valor estimado em 110 milhões de euros.
A coordenadora bloquista considerou inexplicável que o Governo tenha dado ordem para cobrar, finalmente, o IMI no início de 2023 “e ainda não tenha sido feita a avaliação” das barragens, mas assegurou que o partido não irá desistir deste escrutínio e por isso deu entrada dos dois requerimentos no parlamento.
Por um lado, o partido quer ter acesso a todos os despachos, e quer saber “quais são exatamente as ordens que o Governo deu à AT para a cobrança do IMI e porque não foi feito”. “Queremos também ouvir a diretora da AT e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais para explicar como é possível que, passados três anos, não tenha sido possível recuperar os impostos do negócio milionário da venda das barragens e como a EDP continua sem pagar IMI, apesar de uma determinação para o efeito há vários meses”, explicou.
Questionada se a AT deve ser responsabilizada caso falhe a cobrança do IMI até final do ano, a coordenadora do BE defendeu que “tem de ser possível” cobrar estes impostos. “Não consigo perceber neste processo de quem é a responsabilidade, a EDP como se sabe tem influências muito profundas quer na AT quer no Governo, não vos estou a dar nenhuma novidade, a EDP já fez leis neste país”, disse.
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