Fabrico para Starbucks e Nescafé dispara produção da unidade portuguesa da Nestlé, que exporta 58% do café para 60 países. Conheça a fábrica que abastece ainda marcas locais como Buondi, Sical e Tofa.
Quatro anos depois de ter sido escolhida pela Nestlé para ser a primeira fábrica a nível mundial a iniciar a produção de café da marca Starbucks Roast & Ground, no seguimento de um acordo global entre as duas multinacionais, o grupo de origem norte-americana já pesa cerca de 25% na produção total desta unidade industrial situada na região do Porto, com uma área de 24 mil metros quadrados.
Em declarações ao ECO, a presidente executiva da Nestlé Portugal, Anna Lenz, avança que “a maior parte desta produção é dirigida a exportação”, destacando, por outro lado, que a fábrica portuguesa, que esta sexta-feira à tarde recebe a visita do ministro da Economia, António Costa Silva, é “uma de apenas duas a nível mundial a produzir a gama de Roast & Ground Coffee da Starbucks para o retalho”.
Da fábrica de São Mamede de Infesta, no concelho de Matosinhos, saíram no ano passado 13.500 toneladas de café para seis marcas, quatro delas portuguesas, num total de 152 produtos dirigidos aos canais do retalho e da restauração e hotelaria. O volume aumentou cerca de 20% nos últimos quatro anos, sobretudo pela “muito importante relevância internacional” que conquistou. É que, além do projeto com a Starbucks, em 2018 foi também a primeira do mundo a produzir café Roast & Ground sob a marca Nescafé.
A partir desse ano, impulsionada pela produção destas duas referências de café para a Nescafé e para a Starbucks, que “permitiram chegar a novos mercados com diferentes formatos de produtos”, também a quota de exportações registou uma “forte evolução”, regista a responsável pela operação centenária da multinacional suíça em Portugal, onde em 2022 faturou 677 milhões de euros “com redução de rentabilidade”. Atualmente, 58% da produção é vendida fora de Portugal, num total de 60 países em todos os continentes. Europa Central e Reino Unido assumem o maior peso nas receitas.
O café é a principal categoria no negócio da Nestlé em Portugal, representando mais de metade das vendas totais. E depois de, desde 2020, ter aqui investido um montante total aproximado de 12 milhões de euros, “aplicados na renovação e na instalação de novas linhas de produção”, Anna Lenz assegura, sem contabilizar, que a fábrica nortenha “mantém um plano de investimentos para os próximos dois a três anos” com o qual pretende “reforçar ainda mais o esforço de modernização e automação, além de aumentar a capacidade de atração do fabrico de novos produtos”.
Temos feito tudo o que está ao nosso alcance para encontrar ganhos de eficiência interna, oportunidades de poupança e absorver o aumento dos custos. Ainda assim, não compensámos totalmente esta inflação.
A nível industrial, uma das maiores preocupações da Nestlé, que tem uma outra fábrica em Avanca (Estarreja), na qual concluiu um investimento de 25 milhões na linha de bebidas de cereais, prende-se com a subida dos custos de produção. Questionada sobre o impacto nos preços, a responsável assegura que a empresa tem feito “tudo o que está ao [seu] alcance para atenuar o impacto nos consumidores, encontrando ganhos de eficiência interna, oportunidades de poupança e absorvendo o aumento dos custos”. Ainda assim, acrescenta, com estas medidas não [compensou] totalmente esta inflação”.
Quatro marcas locais e mais de 100 trabalhadores
Em funcionamento desde 1956, a fábrica de cafés torrados localizada nos arredores da cidade Invicta faz parte da Nestlé Portugal desde 1987, quando foi adquirida a Sical. Esta foi uma das marcas locais em que apostou nos anos 1980 e 1990 e que vieram complementar o portefólio internacional do grupo neste segmento de mercado: já antes, em 1985, tinha comprado a Tofa, dois anos depois concretizou a aquisição da Christina e, finalmente, ficou também com a Buondi em 1993. Metade das vendas resulta destas quatro marcas de origem nacional.
Incluindo o centro de distribuição, nesta unidade industrial trabalham atualmente 106 pessoas, numa equipa “altamente especializada” na produção de cafés e à qual diz disponibilizar “um importante plano contínuo de formação”. Já sobre os planos de recrutamento que a Nestlé Portugal para estas instalações, Anna Lenz explica que há “faixas etárias variadas e com isso [mantém] uma contratação ongoing, em linha com a evolução das necessidades” no terreno. No total da operação portuguesa, o grupo do ramo alimentar assegura atualmente 2.542 postos de trabalho.
Quanto aos reflexos da inflação e da perda de poder de compra dos consumidores portugueses no volume de negócios da Nestlé, a porta-voz diz estar “consciente das dificuldades que as pessoas e as suas famílias estão a enfrentar para fazer face às suas despesas”. “À luz dos atuais desafios económicos enfrentados por muitos, a nossa prioridade é manter os produtos acessíveis e económicos para os consumidores, pagando simultaneamente preços justos aos nossos fornecedores pelos seus bens e serviços — incluindo agricultores e pequenas empresas pelas suas matérias-primas produzidas de forma sustentável”, completa.
À luz dos atuais desafios económicos enfrentados por muitos, a nossa prioridade é manter os produtos acessíveis e económicos para os consumidores, pagando simultaneamente preços justos aos nossos fornecedores.
Na área da sustentabilidade, Anna Lenz salienta que a fábrica dirigida por Rui Vieira já atingiu a meta de ter o café verde, trabalhado para as seis marcas, ser já “100% de origem responsável”. E também o “forte contributo” que esta unidade industrial deu para que a subsidiária portuguesa tenha já atingido o objetivo de ter 95% das embalagens produzidas prontas a serem recicladas, que a nível global a Nestlé se comprometeu a alcançar até 2025.
“Outro grande contributo, transversal a todas as operações que desenvolvemos no país, é o facto de, ao longo da última década, a Nestlé Portugal ter conseguido reduzir o seu impacto ambiental, tendo atingido em 2022 resultados acumulados significativos. Por tonelada de produto produzido, reduzimos 72% no consumo de água, 25% no consumo de energia e 47% nas emissões de gases com efeito de estufa”, calcula a market head da multinacional. Além das duas fábricas e do centro de distribuição na região de Aveiro, soma cinco delegações comerciais espalhadas pelo território continental e ilhas.
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Starbucks já “bebe” 25% do café produzido na fábrica da Nestlé no Porto
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