Fornecedora portuguesa da Yazaki protesta em Ovar contra rescisão “desumana” de contrato

  • Lusa
  • 29 Setembro 2023

Empresa criada há mais de 20 anos em Oliveira de Azeméis fica sem trabalho para os 27 funcionários. Grupo japonês que emprega 2.388 pessoas em Ovar diz que optou por alocação a “serviços internos”.

Uma empresa que diz ter sido criada a pedido da Yazaki Saltano para abastecer em exclusivo essa fabricante de componentes automóveis protestou esta manhã junto à fábrica de Ovar dessa multinacional, criticando a rescisão “desumana” que obriga a despedimento coletivo.

Em causa está a Jorge M. Barros Gomes – Unipessoal Lda. (JG) que, criada há mais de 20 anos em Oliveira de Azeméis, fica agora sem trabalho para os seus 27 funcionários, aos quais esta manhã se juntaram cerca de 50 trabalhadores de outras empresas da região, todas elas subcontratadas pela Yazaki e com receio de se verem em situação idêntica.

Isabel Gomes, da administração da JG, disse à Lusa: “A nossa empresa foi criada a pedido da Yazaki, que quis que trabalhássemos em exclusivo para eles. Por isso é que achamos desumano que agora nos cortem o trabalho sem negociação prévia, sem nos darem tempo de arranjar outros clientes, sem empatia nenhuma pela situação que estão a criar e sem qualquer sentido de responsabilidade social”.

Essa porta-voz explica que sua empresa foi “descartada” devido à deslocalização de alguns setores da multinacional Yazaki “para Marrocos”, o que atribui a “decisão superior, vinda da Alemanha ou do Japão”, com vista a reduzir custos de produção.

A JG tinha contrato até 10 de setembro para trabalhar unicamente na montagem de componentes plásticos para conectores, “com materiais entregues pela Yazaki” e mediante “os requisitos de qualidade que a marca exige”, mas prestou serviço mais uma semana do que o previsto, a pedido da própria multinacional, “que estava atrasada com algumas encomendas”.

Por esse ser o tipo de colaboração habitual em mais de 20 anos de parceria, a empresa de Azeméis “ainda pediu à Yazaki que integrasse pelo menos alguns funcionários na sua fábrica, mas isso foi negado”.

Considerando que já em 2008 e 2009 o fecho de atividade da Yazaki de Vila Nova de Gaia e a sua deslocalização para Ovar causou a perda de cerca de 800 postos de trabalho, a JG considera que a sua situação atual deve ser “o início de mais despedimentos em massa” na região – e daí a presença no protesto de outras empresas subcontratadas, que, embora não querendo ser identificadas nesta fase, aderiram à iniciativa “por solidariedade” para com a primeira do grupo a ver o contrato rescindido.

“Têm soado muitas campainhas sobre este assunto e até há uma comunicação não oficial da administração da Yazaki Saltano a dizer que, até final de 2023, toda a produção deles em Portugal será desmontada. Se também deslocalizarem o trabalho que agora é assegurado por estas empresas subcontratadas, isso vai significar o despedimento de umas 140 pessoas no total, o que colocará 140 famílias numa situação de ainda maior instabilidade económica”, realça Isabel Gomes.

Contactada pela Lusa, a direção da Yazaki Saltano de Ovar declara que a cessação do contrato com a JG se verificou “de acordo com o que foi estritamente estipulado entre as partes” e que o serviço antes requisitado a essa empresa foi alocado a “serviços internos” da multinacional, “em resposta à volatilidade das condições de mercado e devido à reorientação estratégica” da marca.

Sem comentar a alegada deslocalização de mais departamentos para Marrocos, a empresa que está em solo nacional desde 1986 e que emprega atualmente 2.388 pessoas acrescenta: “O Grupo Yazaki continuará a operar em Ovar e a investir em Portugal como um dos locais de desenvolvimento tecnológico-chave. O investimento atual faz-se representar pela requalificação de edifícios, pela adaptação das suas estruturas produtivas e pela construção de um novo edifício para aumentar a capacidade do Centro Técnico do Porto, o maior centro de Engenharia e Desenvolvimento da Yazaki na Europa”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Fornecedora portuguesa da Yazaki protesta em Ovar contra rescisão “desumana” de contrato

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião