Hungria considera irrealista negociar adesão de um país em guerra à União Europeia
"Não sinto o desejo insuperável de que o parlamento húngaro vote a favor da adesão da Ucrânia à União Europeia dentro de dois anos", declara o primeiro-ministro, Viktor Orbán.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, pôs esta sexta-feira em dúvida a possibilidade de a União Europeia (UE) iniciar brevemente negociações para a adesão da Ucrânia, considerando irrealista lançar o processo com um país em guerra.
Em declarações à rádio estatal citadas pela agência norte-americana AP, Orbán lembrou que a adesão de um novo país na UE tem de ser aprovada por unanimidade e sugeriu que o voto da Hungria não está garantido.
“Quando estou no hemiciclo, não sinto o desejo insuperável de que o parlamento húngaro vote a favor da adesão da Ucrânia à União Europeia dentro de dois anos”, afirmou. “Por isso, seria cauteloso com estes planos ambiciosos”, disse o líder do governo ultranacionalista.
A Ucrânia obteve oficialmente o estatuto de candidato à UE em 2022, numa decisão invulgarmente rápida motivada pela guerra iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro do ano passado. O Conselho Europeu deverá iniciar as negociações sobre a adesão da Ucrânia em dezembro.
A Hungria, que foi sancionada pela UE por alegadas violações do Estado de direito e corrupção, tem-se desentendido com Kiev sobre os direitos de uma minoria de etnia húngara no oeste da Ucrânia.
Apesar de ter acolhido refugiados ucranianos e condenado a invasão russa, a Hungria é o único país da UE que mantém relações estreitas com Moscovo. Budapeste também se tem oposto ao fornecimento de armas à Ucrânia ou à prestação de assistência económica.
Orbán disse que a UE “vai ter de responder a perguntas muito longas e difíceis” antes da decisão sobre o início de negociações com Kiev. “Quando estivermos a discutir o futuro da Ucrânia em Bruxelas, no outono, não poderemos evitar a questão de saber se podemos pensar seriamente na adesão de um país como este”, afirmou o primeiro-ministro.
“Podemos iniciar negociações com um país que está em guerra territorial? Não sabemos qual é a dimensão do território desse país, porque ainda está em guerra, e não sabemos qual é a sua população, porque está a fugir”, argumentou.
Para Orbán, “admitir [na UE] um país sem conhecer a sua dimensão parâmetros seria algo sem precedentes”. O primeiro-ministro húngaro também acusou a UE de pretender derrubar o atual governo conservador da Polónia nas eleições gerais de 15 de outubro.
“Aqueles que estão em Bruxelas querem derrubar o governo polaco. Não tenhamos ilusões, eles querem um governo de esquerda na Polónia e estão a fazer tudo para o conseguir”, afirmou à rádio pública, segundo a agência espanhola EFE.
Orbán disse que se a oposição ganhar na Polónia, a Hungria ficará sozinha nas discussões sobre os fundos europeus. “Mas se o governo conservador continuar no poder na Polónia, não haverá nada a fazer, porque os dois países vão sempre defender-se mutuamente e, nesse caso, Bruxelas terá de ceder”, acrescentou.
Bruxelas congelou a entrega de 22 mil milhões de euros de fundos comunitários à Hungria até haver garantias do governo ultranacionalista de que os programas de utilização desses fundos respeitam a Carta Europeia dos Direitos Fundamentais.
No caso da Polónia, a UE também congelou fundos comunitários, principalmente devido a reformas judiciais controversas. Bruxelas considera que os governos dos partidos Fidesz, na Hungria, e do PiS, na Polónia, comprometem as normas democráticas e o Estado de direito.
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