Casos da Iberia e Air Lingus “dão garantias” de que é possível defender ‘hub’ da TAP, diz Galamba

João Galamba defendeu no Parlamento que a privatização da companhia aérea é lançada no momento apropriado e diz que "não será como o processo danoso de 2015", referindo-se à venda pelo PSD.

O ministro das infraestruturas defendeu esta quinta-feira no Parlamento que as operações de consolidação no setor da aviação na Europa mostram que é possível privatizar a TAP e defender os interesses estratégicos do Estado, como a preservação e o crescimento do hub no aeroporto de Lisboa.

“Processos recentes na aviação demonstraram, na altura e no dia-a-dia das diferentes companhias que passaram por um processo de consolidação, que há essa salvaguarda dos interesses. Não só a manutenção mas o crescimento de hubs em que à partida se esperaria o contrário, como é o da [irlandesa] Air Lingus, no processo com a British Airways e a Iberia“, disse João Galambana audição na Comissão de Economia e Obras Públicas do Parlamento, requerida potestativamente pelo PCP.

Acrescentou ainda outro exemplo: “Dois hubs tão próximos como Paris e Amesterdão, no processo da Air France e a KLM, ambos têm-se mantido com a importância que tinham e crescido“.

Quer o Grupo IAG, dono da British Airways e da Iberia, quer a Air France-KLM já manifestaram interesse na compra da transportadora portuguesa. Outra é a Lufthansa, onde o exemplo já não se aplica. “O caso da Lufthansa é diferente, porque são todos processos diferentes”, disse Galamba.

Há um conjunto de exemplos muito recentes no mercado que dão garantias ao Estado português de que os interesses estratégicos que queremos salvaguardar, e espero que o PSD também queira salvaguardar, possam ser efetivados.

João Galamba

Ministro das Infraestruturas

“Há um conjunto de exemplos muito recentes no mercado que dão garantias ao Estado português de que os interesses estratégicos que queremos salvaguardar, e espero que o PSD também queira salvaguardar, possam ser efetivados”, reiterou o ministro.

Isabel Pires, do Bloco de Esquerda, questionou o ministro sobre a forma como o Estado iria garantir os interesses estratégicos. João Galamba voltou a apontar os precedentes. “O Governo espanhol quando foi da fusão da Iberia [com a British Airways] salvaguardou os interesses estratégicos. Quando a Air Lingus entrou no grupo da British Airways e da Iberia, o governo irlandês salvaguardou os interesses do Estado irlandês e do hub de Dublin. Quando foi a fusão da Air France com a KLM, os governos francês e holandês salvaguardaram os seus interesses estratégicos”.

O governante apontou para o plano estratégico do futuro comprador a garantia dos interesses. “Já vimos esse filme na TAP duas ou três vezes, na Cimpor, na Sorefame. Havia todas as garantias e empresas fecharam”, apontou Bruno Dias, do PCP.

Venda feita no “momento apropriado”

O ministro das infraestruturas defendeu ainda que a privatização da TAP é lançada no momento apropriado, tendo em conta os bons resultados da companhia. Aproveitou também para deixar farpas à venda feita pelo PSD em 2015.

Esta é uma decisão do Governo lançada no momento apropriado. Os resultados dos últimos trimestres têm sido francamente positivos. O bom momento no setor aeronáutico permite avançar para a próxima fase”, argumentou o governante.

O Executivo tem sido criticado por querer vender a transportadora “à pressa”. João Galamba começou por afirmar na sua intervenção inicial que “há mitos e narrativas pouco objetivos em torno do processo de reprivatização da TAP”. “Ao contrário do que consta do requerimento do PCP, a decisão de reprivatização da TAP é mesmo pelo país, pela economia do país, pela soberania nacional”, disse.

O governante aproveitou para criticar o processo protagonizado pelo Governo PSD/CDS, que no final de 2015 vendeu 61% da transportadora à Atlantic Gateway. “Posso garantir que o processo de reprivatização agora em curso não será como o processo danoso de 2015, à porta fechada, de uma TAP descapitalizada e sem um histórico positivo nos resultados operacionais”.

“A diferença entre esta privatização e a outra são 3.200 milhões de euros”, atirou Paulo Rios Oliveira. O deputado do PSD recuou alguns meses para relembrar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP. “Todos nós recordamos o triste e deprimente espetáculo que foi a CPI da TAP. Pôs a nu a ligeireza e o sacode culpas”, disse. O social-democrata criticou também o primeiro-ministro por ter mudado de opinião sobre a privatização, defendendo agora uma venda que pode ser total: “Deu a volta ao mundo e voltou ao quadrado número 1”.

Instado pelo Chega, João Galamba recusou-se a revelar valor pelo qual a TAP poderia ser vendida. “Se há coisa que não dizemos é isso”, respondeu. Carlos Guimarães Pinto quis saber qual a avaliação feita pela EY e o Banco Finantia à transportadora, mas o ministro recusou-se a dizer: “É um processo que tem toda a vantagem em não ser público. Deixamos para o caderno de encargos informação dessa natureza”.

A percentagem a vender também está em aberto. “O Governo tanto pode vender 51% como muito mais do que 51%, depende das propostas que forem feitas. É perfeitamente possível, em teoria, que se salvaguarde melhor o interesse estratégico vendendo 80%, do que apenas 51%“, afirmou João Galamba.

O ministro das Infraestruturas, João Galamba, está a ser ouvido esta quinta-feira no Parlamento sobre o anúncio da privatização da TAP, após um requerimento de caráter obrigatório do PCP, que considera o processo “um crime contra a economia do país e contra a soberania nacional”. Ideia que voltou a ser sublinhada pelo deputado Bruno Dias, que acusou o Governo socialista de seguir o mesmo caminho dos social-democratas: “É a mesma conversa que ouvíamos com Passos Coelho e Pires de Lima”.

Governo não intervém na administração da TAP “à la carte

O deputado do PCP questionou João Galamba sobre que indicações iria o Governo dar sobre a decisão do Tribunal do Trabalho de Lisboa, que considerou ilegal o despedimento coletivo realizado em 2021.

Não é uma orientação da tutela. É um pressuposto. É normal que as administrações cumpram as decisões dos tribunais. A TAP tem um departamento jurídico. Tem uma administração autónoma. Estamos a acompanhar a situação”, respondeu o ministro das Infraestruturas.

“A empresa tem autonomia de gestão para saber como lidar com este processo em tribunal. O Governo não intervém na administração da TAP à la carte“, garantiu.

O Governo aprovou a 28 de setembro a reprivatização de, pelo menos, 51% do capital da TAP. O Executivo quer que o futuro dono da companhia aérea seja um investidor com escala no transporte aéreo ou um consórcio por ele liderado, descartando fundos de capital de risco. “Não queremos fundos abutres a participar na privatização”, reiterou Galamba.

(atualizado às 20h32)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Casos da Iberia e Air Lingus “dão garantias” de que é possível defender ‘hub’ da TAP, diz Galamba

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião