Greve na função pública está a ser “uma das maiores” dos últimos anos, garante Frente Comum
Frente Comum reivindica um aumento dos salários em pelo menos 15%, com um mínimo de 150 euros por trabalhador, para fazer face ao "brutal aumento do custo de vida".
O coordenador da Frente Comum afirmou esta sexta-feira que a greve na função pública está a ser a “uma das maiores” dos últimos anos, com adesão em “todos os setores”, antecipando que o dia será “demonstrativo da força dos trabalhadores”.
“Estamos perante uma das maiores greves dos trabalhadores da administração pública, central, regional e local, de alguns anos a esta parte”, afirmou Sebastião Santana, em declarações aos jornalistas, junto da Escola Básica e Secundária Passos Manuel, em Lisboa.
Sebastião Santana disse estar a haver uma “adesão [à greve] muito forte em todo o país”, apesar de ainda não conseguir indicar números concretos, alegando que “os trabalhadores se reveem nas propostas da Frente Comum”.
“Nós continuamos a não aceitar que o Governo continue a atirar muitos milhares de milhões de euros para cima de setores que já são sobrefinanciados pelo Orçamento do Estado e se esqueça de quem assegura os serviços públicos e do reforço das funções sociais do Estado”, sublinhou.
Questionado se, dada a adesão à greve, considera que o Governo vai ter de ceder, o coordenador da Frente Comum respondeu que o executivo “tem sido intransigente” e referiu que, apesar de, no início da maioria absoluta, ter afirmado que iria ser dialogante, “esse diálogo não tem acontecido até hoje de forma efetiva”.
“O Governo tem condições para alterar isto. A luta dos trabalhadores não vai ser menos intransigente do que o Governo se quer continuar a manter os trabalhadores a empobrecer e os serviços públicos a degradarem-se”, disse.
Ameaça de novas greves
Interrogado sobre os próximos passos que os sindicatos pretendem dar, Sebastião Santana respondeu que o dia de hoje “vai ser demonstrativo da força dos trabalhadores da administração pública”, mas previu que a “luta não vai parar por aqui”.
“Se for necessário voltarmos à greve, voltaremos à greve, se for necessário virmos para a rua, viremos para a rua. Os trabalhadores, como hoje está demonstrado em todo o país, não têm medo nenhum do confronto com o Governo e da luta”, disse.
Em declarações aos jornalistas, a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, considerou que a adesão à greve mostra que os trabalhadores “não baixam os braços perante as injustiças que estão a ser cometidas, perante os baixos salários e esta situação de empobrecer a trabalhar”.
“Os trabalhadores estão conscientes que é preciso fazer alguma coisa e exigir que o Governo altere as suas opções”, disse, criticando a proposta de Orçamento do Estado para 2024, que disse transferir “verbas imensas” para os “mesmos de sempre”.
Questionada se acha que esta mobilização vai forçar o Governo a ceder, Camarinha respondeu que “tem sido sempre com a luta que os trabalhadores têm conseguido alcançar resultados”.
Está na mão do Governo e do patronato ver que não podem ter lágrimas de crocodilo a dizer que não conseguem contratar trabalhadores, e continuar a pagar baixos salários.
“Está na mão do Governo e do patronato ver que não podem ter lágrimas de crocodilo a dizer que não conseguem contratar trabalhadores, e continuar a pagar baixos salários. (…) Parem com as lágrimas de crocodilo, e ajam, façam o que têm de fazer”, disse. defendendo um aumento geral de 15% de todos os salários, com um mínimo de 150 euros.
A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública (da CGTP) anunciou a 9 de outubro a greve nacional de trabalhadores que hoje decorre, considerando que a proposta do Governo de aumentos salariais para 2024 “é miserabilista”.
Para o próximo ano está previsto um aumento salarial mínimo de 52 euros ou de 3% para os trabalhadores da administração pública. A Frente Comum reivindica um aumento dos salários em pelo menos 15%, com um mínimo de 150 euros por trabalhador, para fazer face ao “brutal aumento do custo de vida”.
Adesão à greve nas escolas ronda 90%
A adesão no setor da educação à greve da função pública situa-se em torno dos 90%, disse o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), sublinhando a “grande resposta” dos trabalhadores às políticas do Governo.
“Na educação, aquilo que podemos dizer é que, praticamente, hoje será um dia sem aulas. São poucas as escolas que estão abertas. E das poucas que estão, a maioria vai encerrar dentro em pouco, porque os trabalhadores das cantinas e refeitórios também estão em greve”, afirmou à Lusa Mário Nogueira, assinalando que “a greve (…) andará na educação na ordem dos 90%”.
O secretário-geral da Fenprof salientou a conjugação da paralisação dos professores com a dos trabalhadores não docentes e notou que o efeito da greve é transversal entre ensino básico, escolas do segundo e terceiro ciclos e ensino secundário.
“Esta é mais uma grande resposta dos trabalhadores da educação e, de forma mais geral, da administração pública a esta política, que tem tanto de infame para a administração pública, como de destrutiva e perversa. Ao desvalorizar a administração pública, não se está apenas a atacar quem lá trabalha; está-se a atacar os cidadãos”, resumiu.
“Quem trabalha nos serviços públicos – e isso não é diferente no caso da educação – não pode ficar alheio a estas políticas. Portanto, a greve de hoje teria, necessariamente, uma adesão tremenda e está a ter, porque é sobretudo um grito de protesto e de indignação de quem trabalha na administração pública”, frisou.
O secretário-geral da Fenprof adiantou ainda que o setor da educação vai voltar às ações de luta em 13 de novembro – quando o ministro da Educação, João Costa, estiver no parlamento para apresentar a proposta do Orçamento do Estado para o setor – e assegurou que “os sinais de que os professores continuam disponíveis para a luta são iguais aos do ano passado”.
(Notícia atualizada às 13h40 com dados sobre as escolas)
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