Inteligência artificial nos recursos humanos: antítese ou oportunidade?

A Inteligência Artificial (IA) tem dado passos substanciais de presença na nossa vida profissional, que se evidenciou particularmente após o lançamento do Chat GPT no final do ano passado. Esta tecnologia está a revolucionar vários setores e muito tem sido falado sobre o seu impacto, como nos pode ajudar a executar o nosso trabalho e que preocupações devemos ter com a sua utilização. Os Recursos Humanos (RH) não são exceção e, apesar de se utilizarem algumas ferramentas com algum tipo de inteligência artificial nas tarefas diárias nos RH há já alguns anos, a verdade é que a sua utilização neste setor também tem sido exponenciada de inúmeras formas.

Mas será que a sua utilização no setor que é constituído por pessoas para pessoas é uma antítese? Na minha opinião, não. Creio que nos pode ajudar com tarefas mais administrativas e levar o nosso trabalho e capacidade analítica mais além, oferecendo-nos muitas vantagens que passo a identificar.

A IA pode entrar positivamente nos RH de inúmeras formas, permitindo, na sua generalidade, uma melhor eficiência e produtividade, o que acaba por otimizar os recursos das empresas que usam esta tecnologia. Segundo a Sociedade de Gestão de Recursos Humanos, 88% das empresas mundiais já usam a IA no recrutamento e outsourcing de alguma forma. O Grupo de Reflexão do Parlamento Europeu prevê, inclusive, um aumento da produtividade laboral associada à IA, de 11% a 37%, até 2035.

Este tempo poupado nas tarefas administrativas pode ser utilizado pelos profissionais de RH em planeamento estratégico e na tomada de decisões de expansão do negócio.

A IA está a revolucionar a forma como os RH analisam e preveem o futuro do negócio e as suas necessidades, sendo já possível, em alguns casos, prever as necessidades de contratação e como chegar ao talento certo com as vagas mais adequadas, inclusive em cargos de topo.

Um ponto muito importante com o qual estas ferramentas inovadoras nos podem ajudar nas RH é também na análise de grandes volumes de dados, poupando-nos tempo e recursos. Este processo tem ainda a vantagem de reduzir os preconceitos que são inerentes aos seres humanos, promovendo a diversidade e a inclusão. As ferramentas inovadoras de recrutamento promovem a diversidade no local de trabalho, focando-se apenas em informação profissional relevante dos candidatos.

Quem trabalha em RH sabe que os profissionais de RH investem muito tempo, nos processos de recrutamento, mas sobretudo nos processos de on e off boarding. É aqui que os softwares de IA podem ajudar. Este apoio pode vir muitas das vezes em formatos de assistentes de Chatbot ou algoritmos, que guiam e fornecem informação on demand aos colaboradores, respondendo às várias dúvidas e etapas no seu processo de entrada e saída de uma organização ou providenciando a informação para a formação necessária de cada um dos colaboradores. É também possível aplicar esta tecnologia para otimizar a atribuição de prémios ou promoções.

Agora, como em qualquer tecnologia e inovação é crucial garantir a transparência em todos os processos de utilização dos sistemas de IA de forma a assegurar que, por exemplo, os processos de recrutamento estejam a decorrer de forma justa e isenta evitando a existência de casos de descriminação, que podem gerar grandes danos colaterais às empresas.

A criação de protocolos e guidelines claras relacionados com a segurança de dados e em como aplicar esta tecnologia, também deve ser uma preocupação a ter em conta para que informação sensível e pessoal dos candidatos ou colaboradores possa ser protegida. Esta é também uma forma de garantia de que as pessoas que utilizam estes softwares o estão a fazer de forma a garantir as boas práticas da organização.

À medida que a tecnologia continua a avançar, sou da opinião que a IA vai desempenhar um papel cada vez mais significativo na definição do futuro dos RH. Cabe aos profissionais e às empresas utilizar todo o seu potencial de forma a capacitar os candidatos e seus colaboradores, para promover uma estratégia de negócio e uma cultura organizacional saudável e justa.