Vinhos do Alentejo elevam fasquia na sustentabilidade
O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo vai ter uma versão melhorada. Em paralelo, crescem as certificações de sustentabilidade, numa região que se se quer afirmar pelas boas práticas.
A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) foi pioneira, em Portugal, no lançamento de um programa e uma certificação de sustentabilidade para vinhos. A certificação chegou ao mercado em 2020. Três anos depois, contam-se 20 produtores certificados e o programa sofre a primeira atualização, para se tornar mais completo e exigente.
O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) nasceu em maio de 2015 para preservar os recursos naturais da região e garantir uma produção resiliente e de qualidade. Pretendia ajudar os produtores a conhecer as melhores práticas, a implementá-las e, atingido um nível de excelência, a poderem exibir um selo de sustentabilidade, após um processo de certificação com entidades independentes.
Em 2020, teve lugar a primeira certificação. E, até ao dia de hoje, já se juntaram ao programa 639 membros que são responsáveis, no seu conjunto, por 13,5 mil hectares de vinha, o equivalente a 58% da área de vinha plantada no Alentejo. Já o número de certificações cresceu para duas dezenas.
A discrepância entre o número de membros e as certificações obtidas justifica-se pelo “trabalho de casa” que a certificação exige, indica João Barroso, coordenador do PSVA. Pede “muita evidência, muita informação”. De qualquer forma, as certificações estão a acelerar: no início de 2023 eram 13, tendo saltado para 20 em apenas 11 meses. E Barroso mostra-se confortável com o ritmo: “é importante o escrutínio e alta transparência, a bem da credibilidade”.
A sustentabilidade na vinha do Alentejo passa por medidas muito diversas, desde a instalação de medidores de caudal para controlar o consumo de água, até ao uso de animais como ovelhas, galinhas e gansos para combater pragas, reduzindo desta forma o uso de herbicidas e pesticidas, que são frequentemente produtos à base de hidrocarbonetos.
Em paralelo, este programa promove o uso de produtos mais verdes, como rolhas, barris e outros materiais provenientes de florestas certificadas.
Passaram-se 10 anos [desde o início do programa]. O que era sustentabilidade há 10 anos, não é o mesmo que é hoje.
Até ao final do ano, contudo, novas regras surgirão. Esta modernização foi feita em colaboração com a Universidade de Évora e a organização não governamental ANP|WWF. “Passaram-se 10 anos [desde o início do programa]. O que era sustentabilidade há 10 anos, não é o mesmo que é hoje”, explica João Barroso.
Para aqueles que já têm a certificação, vai existir um período de dois anos de adaptação para poderem corresponder aos padrões melhorados sem perderem o selo de sustentabilidade. Quem começar agora o caminho, já vai ter de olhar para o manual mais recente. Mas o que traz de novo?
O guia das boas práticas ganhou dois novos capítulos: um de “Resiliência e adaptação às alterações climáticas”, e outro sobre “Economia Circular”. Os 171 critérios acolheram 29 novos e 74% foram melhorados. “Acrescentámos critérios associados à igualdade de género e salarial, trabalhámos a inclusão de pessoas com deficiência na força de trabalho, a questão dos acessos [para pessoas com deficiência] no enoturismo… Tínhamos de melhorar a integração”, indica João Barroso. De resto, foram revistos os critérios existentes para simplificar, evitando-se algumas repetições.
Uma questão de sobrevivência
O Programa não tem o levantamento do investimento que, até ao momento, foi feito em sustentabilidade pelos seus membros, mas dá conta de situações que indicam que compensa.
Num concurso aberto, recentemente, pelo organismo sueco que gere as compras de vinho importado, o valor que os suecos estavam disponíveis a dar pelos vinhos certificados como sustentáveis era “quase três vezes superior” ao valor a que estavam dispostos a pagar o vinho não certificado.
Portugal não se pode diferenciar pelo volume, apenas pelo valor acrescentado. A sustentabilidade pode ter por isso um papel muito importante, desde que credível.
Os mercados estrangeiros que mais têm solicitado o selo sustentável são os escandinavos, como Noruega e Suécia, mas também o Canadá e Reino Unido. “Portugal não se pode diferenciar pelo volume, apenas pelo valor acrescentado. A sustentabilidade pode ter por isso um papel muito importante, desde que credível”, defende João Barroso.
E este caminho não tem sido feito a solo. Chile e Califórnia são regiões que “inspiram” o Alentejo, mas que agora a região portuguesa já olha “olhos nos olhos” em termos de sustentabilidade, indica o coordenador do programa. “Vamos aprender com eles, e eles vêm aprender cá connosco”, indica. A partilha também é feita com outros países. Este ano, 30 produtores do Reino Unido vieram ao Alentejo conhecer o programa. E até ao final do ano, João Barroso irá a Espanha apresentá-lo, partilhar as práticas com os vizinhos espanhóis.
Aliás, a formação também é uma componente importante do programa: 1.354 colaboradores de membros do PSVA já participaram em formações internas, contabiliza a comissão.
Mas serão estes esforços suficientes para colmatar o problema que as alterações climáticas impõem à vitivinicultura? João Barroso, que é engenheiro do Ambiente, reconhece que não. Mas ajuda. “Nestes anos de ondas de calor [devido às novas práticas] há produtores que não perderam produção, até aumentaram, porque tinham o solo bem guarnecido”, indica. “Para já, está a ser positivo e tem de se fazer tudo o que possa ajudar a minimizar os impactos, mas não chega”, diz.
O resto, estará nas mãos de outros setores, sobretudo dos mais poluentes em termos de emissões – é preciso descarbonizar e controlar o aumento de temperatura, conclui.
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