Precisamos de mais mulheres em posições de liderança

  • Maria Serina e Isabel Canha
  • 15 Novembro 2023

Homens ocupam maioria dos cargos de liderança quando a literatura especializada enaltece as virtudes da liderança feminina. Excerto do livro "De trainee a CEO" enumera razões que justificam a mudança.

Mulheres no topo das empresas ou outras organizações continuam a ser uma minoria. Os dados mostram muito claramente que as mulheres estão sub-representadas. As mulheres são metade da população e representam 42% da população ativa. Mas de todos os sócios, acionistas, gestores e diretores executivos de empresas, apenas 34% são mulheres (valor em que se incluem muitas pequenas empresárias), segundo a Informa D&B (‘Presença Feminina nas empresas em Portugal”).

Fazendo zoom sobre os cargos de liderança, isto é, funções de presidente do Conselho de Administração ou gerente, verificamos que as mulheres ocupam 26,9% das funções. Quanto maior a responsabilidade dos cargos, menor a percentagem de mulheres que os desempenham. Elas são 13,9% dos diretores gerais e ocupam só 16,2% dos assentos nos conselhos de administração. As empresas cotadas são as que registam uma evolução mais expressiva da presença de mulheres, para 21,2%, o que se deve a um maior escrutínio público e a aplicação da Lei das Quotas a estas sociedades.

Este cenário tem vindo a melhorar, mas os progressos são lentos e pouco expressivos, e o quadro persiste fortemente desigual, numa altura em que há cada mais mulheres a licenciarem-se, a doutorarem-se e a desempenhar profissões tradicionalmente masculinas. É também paradoxal que a maioria dos cargos de gestão e de liderança sejam ocupados por homens, quando a literatura especializada enaltece as virtudes da liderança feminina.

Na Executiva, promovemos a liderança feminina e incentivamos mais mulheres a chegarem a cargos de gestão e liderança. Não é pelo poder só pelo poder. Aliás, quando questionamos estas mulheres acerca do que é para elas o sucesso, nunca ninguém nos respondeu que é desempenhar um cargo de topo, ter poder ou ganhar muito dinheiro.

Muito menos é uma luta que oponha homens a mulheres, numa visão maniqueísta de win-lose, pois consideramos que qualquer política e prática de diversidade de género tem de envolver também os homens. Não é, ainda, porque consideremos que a liderança feminina é melhor que a masculina.

É por uma questão de justiça. Uma sociedade em que metade da população é discriminada, não estando igualitariamente representada nos órgãos políticos e nos órgãos decisórios das empresas e outras organizações é uma sociedade injusta, que não acautela os direitos humanos de metade da sua população. Defendemos as virtudes de uma liderança diversa, que inclua homens e mulheres, porque é mais justo e equilibrado, não desperdiçando o talento, a força de trabalho, a iniciativa e a visão do mundo de metade da população.

É uma questão de representação da liderança. É muito importante termos mais mulheres em posições de poder e de liderança para que não haja só uma referência do que é um líder. O padrão do que é ser um líder continua a ser masculino. Acreditamos no poder dos role models (modelos de referência) para levar mais mulheres a cargos de liderança. Sem modelos inspiradores não se incentivam jovens gestoras a chegar ao topo.

Queremos mais mulheres em posições de liderança para que a vida de todas as mulheres melhore. É uma forma de ter lideranças mais diversas, que atendam a necessidades femininas que os homens nem se lembram que possam existir, porque simplesmente não passam por essa experiência. Como bem desmascarou a jornalista e escritora britânica Caroline Criado Peres, em tudo na vida, o padrão é masculino.

Porque as mulheres têm excelentes atributos de liderança, de que o mundo tanto necessita.

Na liderança, o estereótipo vigente diz-nos que os homens são decididos, assertivos, determinados, fazedores. As mulheres são altruístas, sensíveis e empáticas, educadoras e cuidadoras. Fizemos um levantamento dos atributos apontados à liderança masculina e feminina. Se acredita que as diferenças de género se fazem refletir no ambiente de trabalho e, mais particularmente, nas funções de liderança, de acordo com a literatura os traços associados por diferentes autores às líderes femininas correspondem ao retrato do líder do futuro: empático, humilde, que está ao serviço das pessoas.

Finalmente, porque diversidade significa maior rentabilidade. Para as empresas, entidades que visam o lucro e se movem por critérios de maximização da rentabilidade, é sempre útil recordar que diversos estudos provam que companhias com número substancial de mulheres em cargos de liderança têm melhores resultados: melhor desempenho dos que as restantes do mesmo setor, quer no retorno do investimento, quer no EBIT, quer ainda na cotação na bolsa.

  • Maria Serina
  • Fundadora do Executiva.pt e autora do livro "De trainee a CEO"
  • Isabel Canha
  • Fundadora do Executiva.pt e autora do livro "De trainee a CEO"

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