Horta Osório defende Centeno. “Equacionar” ser primeiro-ministro não põe em causa a independência do governador
Ex-banqueiro considera que o governador do Banco de Portugal continua a reunir as condições para se manter no cargo e até diz que Mário Centeno seria uma boa solução para liderar o Governo.
“Absolutamente”. O antigo banqueiro António Horta Osório considera que Mário Centeno continua a reunir condições para se manter como governador do Banco de Portugal, não perspetivando que “o convite e equacionar” ser primeiro-ministro “ponha em causa a sua independência” à frente do supervisor.
“Mário Centeno tem um profundo sentido de Estado. Quando é abordado sobre a disponibilidade para ter um trabalho de serviço público adicional, não vejo que essa pergunta e equacionar essa situação ponha em causa a independência do governador do Banco de Portugal”, referiu o antigo banqueiro, à margem da conferência Banca do Futuro, organizada pelo Jornal de Negócios.
“O governador é uma pessoa da máxima independência”, frisou, lembrando o caso de Mario Draghi, antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) que se tornou primeiro-ministro do governo italiano.
Horta Osório, que liderou o Lloyds Bank na última década e teve uma passagem fugaz pelo Credit Suisse, afirmou ainda que Mário Centeno seria uma boa escolha caso o Presidente da República não tivesse optado por convocar eleições antecipadas para 10 de março do próximo ano.
Pelo trabalho que fez como ministro das Finanças, como presidente do Eurogrupo e pelo prestígio internacional que tem, [Centeno] teria todas as condições para fazer um bom lugar, desde que tivesse uma maioria clara e estável a nível parlamentar.
“O Presidente da República tomou a decisão que achou que era melhor para o interesse dos portugueses. Poderia perfeitamente ter seguido outra opção e, dentro dessa segunda opção, Mário Centeno, pelo trabalho que fez como ministro das Finanças, como presidente do Eurogrupo e pelo prestígio internacional que tem, teria todas as condições para fazer um bom lugar, desde que tivesse uma maioria clara e estável a nível parlamentar”, referiu.
A comissão de ética do Banco de Portugal concluiu que o governador “cumpriu os deveres gerais de conduta” no caso do convite para liderar o governo. Mário Centeno esteve sob pressão nos últimos dias não só por causa de António Costa ter proposto o seu nome para primeiro-ministro, levantando questões em relação à independência do banco central, mas também depois de ter sido desmentido pelo Presidente sobre as declarações que fez ao Financial Times.
O que aconteceu é “muito grave”
Em relação à situação política em que se encontra o país, após a demissão do primeiro-ministro na semana passada na sequência das investigações envolvendo altos cargos do governo por suspeitas de corrupção em grandes projetos de investimento, Horta Osório considera que “o que aconteceu é muito grave” e atirou Portugal para “um quadro de grande instabilidade”.
“A primeira instabilidade é que não vamos ter um governo nos próximos cinco meses. Isso é um custo grande em termos de instabilidade e incerteza para o país”, referiu o antigo banqueiro.
Para Horta Osório, “o que aconteceu não pode deixar de levantar questões e de ser discutido ao mais alto nível no país e na sociedade”.
“Cai um governo, cai uma maioria, temos uma situação de instabilidade. Quem é responsável? Qual a transparência com que estes processos são feitos? Estão a ser conduzidos de forma adequado, o grau de profundidade está a ser adequado?”, questionou.
(Notícia atualizada às 12h03)
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