“Temos três experiências de socialismo que correram mal. Guterres, Sócrates e Costa acabaram num pântano”

Vice do PSD, Leitão Amaro considera que o problema ético do primeiro-ministro começou quando apresentou Lacerda Machado como o seu melhor amigo e a seguir colocou-o a tratar de negócios do Estado.

Para António Leitão Amaro, vice-presidente do PSD, “o excesso de prolongamento” do PS no poder gerou “uma série de situações eticamente muito reprováveis” que não começaram agora com a investigação ao data center de Sines, onde um dos visados é Diogo Lacerda Machado.

“Um primeiro-ministro que inicia funções a dizer “Atenção que este é o meu melhor amigo”, (…) e a seguir o coloca a tratar de negócios do Estado, está a infringir todas as regras éticas de uma economia mercado, com a imparcialidade do Estado perante empresários e perante competidores”, refere em entrevista ao ECO.

Acredita “firmemente” que os sociais-democratas vão voltar ao Governo com Luís Montenegro para virar a página ao “terceiro pântano” de um governo socialista, depois de António Guterres e de José Sócrates.

O PSD votou contra a proposta, mas depois também considerou que não ia colocar obstáculos à sua aprovação por conta desta crise política. Vê que há alguma incongruência nestas duas posições do mesmo partido?

Não. Uma coisa é a opinião sobre a substância da proposta que se mantém. Nós apresentámos um conjunto de propostas de alteração, as nossas 12 prioridades que envolvem medidas de fiscalidade, desde a redução de IRS e de IRC à redução extraordinária fiscalidade sobre a construção e habitação para acelerar a oferta, e outras medidas muito direcionadas para o reforço da oferta na saúde e para trazer paz e recuperação de aprendizagens nas escolas.

São 12 prioridades às quais acrescentámos a eliminação do [aumento do] IUC e a contribuição extraordinária sobre alojamento local. Não havendo uma mudança substancial no Orçamento, não haverá novidades sobre o sentido de voto, que corresponde a uma avaliação profundamente negativa sobre o Orçamento do Estado.

Depois, relativamente a duas escolhas que o Presidente da República fez quanto às eleições e de haver ou não uma dilatação do prazo para o Orçamento ser viabilizado, nós dissemos que provavelmente teríamos feito de maneira diferente. Preferíamos as eleições mais cedo, mas também dissemos que, relativamente ao Orçamento, vivemos em paz e tranquilamente com as escolhas do Presidente. Como este não é o nosso Orçamento – e por isso mostra a coerência –, em vencendo as eleições e tomando posse como Governo, apresentaremos um Orçamento Retificativo, porque este não é o nosso Orçamento.

Luís Montenegro tem condições para ganhar as próximas eleições?

Firmemente. O país está a experimentar o terceiro governo socialista, o terceiro pântano, a terceira demissão de um primeiro-ministro socialista, numa situação em que os portugueses estão a sair pior do governo socialista do que do que estavam antes. Precisamos de virar uma página desta governação. Temos socialismo a mais e agora não apenas enquanto ideologia, mas enquanto partido a governar. Esse excesso de prolongamento no poder gera uma série de situações eticamente muito reprováveis – não estou a pronunciar-me sobre as dimensões criminais, que, para bem do país, gostaria que não existissem. Mas existem problemas éticos evidentes e não começam nesta sucessão de casos a propósito do data center em Sines.

Um primeiro-ministro que inicia funções a dizer “Atenção que este é o meu melhor amigo”, como que a sinalizar ao mercado, não apenas por essa frase, mas porque a seguir o coloca a tratar de negócios do Estado, na sua condição de consultor quase particular do primeiro-ministro, está a infringir todas as regras éticas de uma economia social de mercado e de democracia, com a imparcialidade do Estado perante relações pessoais, empresários e competidores.

Temos três experiências de socialismo que correram mal. Guterres acabou num pântano. Sócrates acabou num pântano, com uma bancarrota e a troika cá dentro. António Costa acaba num pântano político, num pântano ético e a falência operacional do Estado.

Nós estamos a pagar a maior carga fiscal que alguma vez se pagou em Portugal para receber de volta um Serviço Nacional de Saúde em crise profunda, a passar provavelmente nestes meses de novembro e dezembro os piores da sua história, segundo dizem os profissionais.

A escola pública está em guerra, muitos alunos estão sem aulas, houve aprendizagens perdidas na pandemia que nunca foram recuperadas decisivamente. A Justiça está parada. Temos instituições públicas independentes ou não a perderem credibilidade e nós a perdermos lugares face ao resto da Europa. Os portugueses perderam poder de compra com a explosão inflacionista.

A receita socialista terminou mal e terminou num pântano. O Estado está pior para nós pagarmos impostos a mais. Os portugueses estão a empobrecer e o país precisa de uma alternativa. Luís Montenegro e o PSD é a alternativa principal. É uma opinião generalizada. As sondagens confirmam.

Um primeiro-ministro que inicia funções a dizer “Atenção que este é o meu melhor amigo”, como que a sinalizar ao mercado, não apenas por essa frase, mas porque a seguir o coloca a tratar de negócios do Estado, na sua condição de consultor quase particular do primeiro-ministro, está a infringir todas as regras éticas de uma economia social de mercado e de democracia, com a imparcialidade do Estado perante relações pessoais, empresários e competidores.

António Leitão Amaro

Vice-presidente do PSD

Quem seria um melhor adversário: Pedro Nuno Santos ou José Luís Carneiro?

Quem o PS escolher. Há uma dimensão sobre a política que é importante: nós ganharmos respeito pelo outro, pelo adversário, respeito pelos seus processos e pelas suas diferenças. Aquele tempo do insulto pessoal que eu vi, sentado na primeira fila do Parlamento, ao lado do ex-primeiro-ministro Passos Coelho e António Costa, lá de cima, a insultar… Temos de trazer alguma serenidade. Por isso, Luís Montenegro tem dito que é importante unir o país no sentido de o diálogo político ser mais civilizado, com divergências que são evidentes. A receita do PSD e a receita do PS são muito diferentes.

Apresentámos, por exemplo, na área da Habitação, um pacote de 50 medidas bastante diferentes, com uma aposta numa combinação de habitação pública e de oferta pública com oferta privada. O PS quis basicamente castigar a oferta privada com grandes agravamentos de impostos e de burocracia.

No caso da Saúde, temos falta de acesso, mas temos oferta disponível entre o setor privado e o setor social. Temos de trabalhar os setores em complementaridade. Na Educação, é preciso trazer paz, resolver o tema do conflito com os professores de uma forma faseada. Acreditando nos números que foram tornados públicos, que nós entendemos que eram sustentáveis no momento, porque viabilizaria uma recuperação de 20% ao ano para trazer paz.

Queremos salvar o Estado Social em nome de uma igualdade de oportunidades e isto não é seguramente a com o PS. Nós temos um caminho diferente e esse caminho é liderado por Luís Montenegro e pode permitir virar esta página de empobrecimento e de pântano ético.

Vai ser com Luís Montenegro?

Absolutamente. Não há discussão nenhuma. O PSD está unido e forte à volta do seu líder, Luís Montenegro.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“Temos três experiências de socialismo que correram mal. Guterres, Sócrates e Costa acabaram num pântano”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião