Há contas certas, mas são boas? SEDES quer reformas estruturais
Apesar do crescimento do peso das exportações no PIB, ainda são necessárias reformas estruturais, defende Carlos Tavares, coordenador do Observatório de Políticas Económicas e Financeiras da SEDES.
O Governo adotou o slogan das “contas certas”, mas importa “saber se as contas públicas são boas”, defende um estudo da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), elaborado por Carlos Tavares, ex-ministro da Economia. O coordenador do Observatório de Políticas Económicas e Financeiras da associação cívica apela à “necessidade de um cenário de mudança, de reformas e de ambição”, apontando que o crescimento económico não foi estrutural.
Ao avaliar as contas públicas, deve-se analisar “se a qualidade das despesas e das receitas é adequada e serve os objetivos da política económica e social, se o endividamento e a trajetória orçamental são sustentáveis no médio e longo prazo”, lê-se no Policy Paper com o tema “A Economia Portuguesa: a estrutura e a conjuntura”, que indica que as conclusões são “problemáticas”.
Por um lado, Carlos Tavares aponta que “foi essencialmente o elevado nível de tributação que permitiu uma redução substancial do desequilíbrio orçamental, juntamente com a queda do peso dos juros da dívida pública e do peso das despesas de capital, que permitiram a a evolução verificada no défice orçamental no período 2015/2022″.
Por outro, no que diz respeito à redução do rácio da dívida pública, esta trouxe um “inegável progresso” mas também se conclui que “parte significativa dessa redução resultou de condições exógenas à gestão orçamental, designadamente à redução acentuada das taxas de juro, ao crescimento do PIB e à elevação dos preços particularmente a partir de 2021″.
Desta forma, conclui-se que existe a “necessidade de um cenário de mudança, de reformas e de ambição”. Entre as áreas prioritárias de atuação e reforma, destaca-se a a Reforma Fiscal, Regulamentação de Mercados e Produtos e Regulação da Concorrência, Justiça económica, Recapitalização e Redimensionamento das PME e Desenvolvimento equilibrado do Território e combate aos Custos do Centralismo.
O ex-ministro e antigo presidente da CMVM argumenta também que o crescimento económico que se tem verificado não resulta de mudanças estruturais, nomeadamente devido ao aumento do peso das exportações para quase 50% do PIB. No tema das exportações, aponta que “mais do que o volume de exportações, importa avaliar a evolução do valor acrescentado contido nessas exportações”.
“Entre 2010 e 2019, dos cerca de 13,5 pp de aumento das exportações no PIB o peso no PIB, apenas cerca de 40% correspondem a aumento do VAB direto incorporado nas Exportações e cerca de 60% a aumento do respetivo valor acrescentado direto e indireto”, refere. Além disso, “o Turismo terá sido responsável por cerca de metade do crescimento nominal do PIB em 2022″.
Tendo em conta estes dados, nomeadamente juntando “o papel que teve o consumo privado no crescimento, não poderemos deixar de ser levados a questionar a efetiva existência de uma ampla mudança estrutural subjacente ao relativo dinamismo observado na economia“, completa.
Carlos Tavares debruça-se ainda sobre um outro ponto: a ideia de que a economia está boa mas não está a chegar ao bolso das pessoas. Mas “esta afirmação sofre de uma limitação essencial: nem uma nem outra das suas duas partes são suportadas pelos dados económicos, quando vistos na sua globalidade (conjuntural e estrutural): permanecem os crónicos défices de riqueza e produtividade, a insuficiente quantidade e qualidade do investimento produtivo e do stock de capital que lhe está associado e o consequente fraco crescimento do PIB potencial”, argumenta.
Ainda assim, ressalva que “não é razoável afirmar-se que os resultados conjunturalmente positivos dos últimos anos, não se traduziram em aumento do bem-estar das famílias, tendo em conta o forte crescimento real das remunerações e do rendimento disponível entre 2015 e 2022″.
SEDES defende reforma fiscal, orçamental e na Administração Pública
Tendo em conta a análise da economia portuguesa, Carlos Tavares sugere um conjunto de reformas para alcançar mudanças estruturais que possibilitem um crescimento sustentável. Entre elas encontram-se reformas fiscais, orçamentais e na Administração Pública.
Começando pela Administração Pública, apela-se à “avaliação da necessidade, da dimensão e da organização dos serviços, proceda à simplificação e digitalização dos respetivos processos e, assim, a torne capaz de aplicar eficientemente as leis e regulamentos produzidos pelos governos”.
No aspeto orçamental, o ex-ministro aconselha à “prática da avaliação rigorosa ex-ante e ex-post da necessidade, da oportunidade e da economicidade da despesa pública, enquanto a reforma fiscal deve garantir “a coerência, a moderação, a equidade, a simplicidade e a estabilidade do sistema fiscal e o torne um instrumento consistente da prossecução dos objetivos da política económica”.
Acrescem ainda “reformas da regulamentação e da regulação de mercados e produtos, bem como da justiça económica, que garantam o reforço da concorrência e a redução dos custos de contexto das empresas”, para além de mudanças na segurança social, para assegurar “a sua sustentabilidade e o fomento da poupança de longo prazo”.
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