Preço das casas leva cada vez mais pessoas a centro de alojamento de emergência do Algarve
Entre as pessoas que procuram ajuda estão indivíduos que trabalham mas não conseguem suportar o preço das casas, uma média de 500 a 700 euros por um T0 ou um T1.
O elevado preço da habitação leva cada vez mais pessoas ao Centro de Alojamento de Emergência Social (CAES) do Algarve, nos arredores de Faro, evitando que várias famílias caiam numa situação de sem-abrigo.
O responsável pelo CAES do Algarve, Fábio Simão, afirma que existem muitos fatores que levam as pessoas em situação de precariedade a procurarem este centro, mas não tem dúvida em afirmar que a crise habitacional é o principal.
“Nós estamos a falar de pessoas que algumas delas trabalham, mas não existe resposta, não existem casas para arrendar. Aliás, não existem casas que tenham preços decentes para uma pessoa viver”, disse Fábio Simão à agência Lusa.
O centro, situado num edifício devoluto cedido pelo Ministério da Agricultura, em Braciais, na periferia de Faro, recebeu 154 pessoas desde a sua inauguração em 1 de setembro de 2022.
“Estamos a falar aqui de uma média de 500 a 700 euros por um T0 ou um T1. Isto é impraticável para quem recebe um ordenado mínimo”, sublinha o responsável pelo CAES.
As pessoas e famílias “em situação desprotegida” e sem meios para pagar uma casa acabam por dar entrada no CAES em primeiro lugar devido a casos de desemprego e em seguida de violência doméstica, perda de autonomia, despejo, doença ou incêndio, de acordo com os responsáveis do centro.
“O CAES visa evitar que a pessoa fique na rua. Não deixam de ser pessoas em situação de sem-abrigo, porque elas não têm casa”, afirma Fábio Simão que está envolvido em vários projetos de ajuda aos mais desfavorecidos.
Sem casas a um preço considerado acessível, o CAES impede estas pessoas de caírem numa situação de sem-abrigo, dando-lhes um apoio precioso durante três meses ou, no máximo, seis meses.
Segundo o também presidente do Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS), nos últimos meses tem-se sentido um agravamento do número de pessoas a precisar de ajuda no Algarve.
Fábio Simão acrescentou que o número de sem-abrigo costumava diminuir nesta época, entre o verão e o Natal, mas isso não aconteceu este ano.
O CAES algarvio tem 46 camas, mas só 30 estão ocupadas desde o início, no âmbito de protocolos com Segurança Social (25 camas) e com o município de Faro (cinco).
O investimento neste equipamento social foi de 700 mil euros — com apoio do município (180 mil euros) e restante verba garantida pelo MAPS, entidade que apresentou o projeto do CAES, incluindo um empréstimo bancário de 310 mil euros.
Grande parte do mobiliário e material que equipa o edifício foi doado por várias empresas e hotéis, além de particulares.
A Lusa falou com uma das utentes do centro, Ana (nome fictício), que ali está com o marido doente e desempregado e um filho de três anos, que contou à Lusa que ali se sente acolhida, sublinhando que os funcionários do CAES “estão sempre prontos para ajudar”.
Este agregado familiar saiu da casa “sem condições” que alugava por 250 euros na Ilha da Culatra, concelho de Faro, porque a senhoria precisou do local para alojar o filho que, sua vez, tinha sido obrigado a abandonar um outro quarto que também alugava.
Ana não esconde a sua angústia pela situação que está a viver, não tendo ainda a certeza se vai conseguir dar um rumo à sua vida durante os três meses em que pode permanecer no centro de apoio.
Outro caso de uma pessoa sem meios para pagar uma habitação é o de Maria, mãe com duas filhas de 4 e 7 anos, que foi “despejada” da sua casa de Portimão e não conseguiu encontrar habitação no seu regresso a Faro. Antes de entrar no CAES, Maria acampou durante dois meses e meio na Praia de Faro com as filhas.
Segundo números fornecidos à Lusa, cerca de 70% das pessoas ajudadas são de nacionalidade portuguesa, 20% são europeus e 10% de fora da Europa.
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