Pedro Nuno Santos não fecha a porta a quase nada. Rejeita viabilizar um governo minoritário do PSD, vai defender o programa do PS e admite voltar a repetir uma solução política como a da gerigonça.
Pedro Nuno Santos é candidato a secretário-geral do PS, eleições que decorrem a 15 e 16 de dezembro, mas olha já para as legislativas. Evita, a todo o custo, fazer cenários pós-eleitorais. “Nós vamos ter eleições dia 10 de março e não sabemos qual é que vai ser o peso eleitoral de cada um dos partidos, a representação parlamentar de cada um dos partidos, nem a relação de força entre eles. E, neste momento, qualquer cenarização sobre o pós-10 de março é um exercício meramente especulativo“. Ainda assim, admite voltar a repetir a solução política da geringonça. Convicto de que o PSD não vai governar por causa das condições auto-impostas por Luís Montenegro — só se tivesse maioria absoluta, o que não é credível, diz Pedro Nuno Santos –, o ex-ministro admite, a custo, que seria “absurdo” rejeitar um modelo de governo no qual participou em 2015.
Nesta campanha eleitoral interna no PS, criticou o PSD por ser incapaz de formar Governo e de dar governabilidade. Ora, o Governo com apoio do BE e do PCP caiu ao fim de dois anos, e depois o PS ganhou com maioria absoluta e volta a cair ao fim de dois anos. Afinal, quem é que não consegue dar governabilidade e estabilidade ao país, é o PS ou o PSD?
É o PSD, e vou explicar porquê.
Porquê? O PSD teve alguma coisa a ver com a queda do segundo governo da geringonça?
Em primeiro lugar, o PS governou oito anos com estabilidade.
Não, quatro anos com estabilidade, e dois anos mais dois anos com instabilidade.
Houve instabilidade para vocês. A confiança no PS foi renovada, foram oito anos consecutivos de governação liderada pelo PS.
Oito anos com três governos.
Eu já lhe dei a resposta, pode continuar a insistir. O Partido Socialista governou oito anos seguidos…
…mas os últimos quatro em situação de instabilidade. Ou acabar a legislatura a cada dois anos em dois governos seguidos é estabilidade?
E depois o PS consegue uma maioria absoluta, que daria mais quatro anos de estabilidade política até 2026.
Mas não deu…
Mas não teve a ver com o Governo.
Então, teve a ver com quê?
Não teve a ver com a solução governativa.
Ao fim de dois anos de maioria absoluta, o Governo cai. Isto é responsabilidade do PSD?
Já vamos ao PSD, não vamos misturar. Tivemos governos liderados pelo PS durante oito anos e este último tinha um mandato até 2026. Caiu e nós teremos tempo para perceber se podemos atribuir ao Partido Socialista as responsabilidades pela queda…
Não é credível que o PSD tenha maioria absoluta, ninguém acredita. O líder do PSD diz que não governa se ficar em segundo lugar, o líder do PSD diz que não governa com o Chega. O líder do PSD não vai ter o PS a apoiar o seu governo minoritário. O líder do PSD vai governar como?
Então, a quem haveria de ser? Ao Presidente da República?
Eu peço desculpa, mas o António Costa mistura as coisas e depois dirige-se ao PS para defender o PSD. Não é credível que o PSD tenha maioria absoluta, ninguém acredita. O líder do PSD diz que não governa se ficar em segundo lugar, o líder do PSD diz que não governa com o Chega. O líder do PSD não vai ter o PS a apoiar o seu governo minoritário. O líder do PSD vai governar como?
Mas [Luís Montenegro] é claro, pelo menos é claro, sabemos isso tudo.
Sabemos, portanto, ao dia de hoje que não vai governar.
Depende dos eleitores.
António Costa, não é credível a maioria absoluta. [Luís Montenegro] diz que não governa se ficar em segundo lugar, diz que não governa com o Chega, o PS não vai ser muleta…
Logo, diz que governa se ganhar as eleições.
Como? Se não governa com o Chega, se não governa se ficar em segundo, não tem maioria absoluta e não vai ter o PS a suportar o Governo, governa como!? E é por isso que eu concluí que o PSD não tem condições para oferecer condições de segurança de governabilidade em Portugal. E depois, quando olhamos para os Açores… aliás, nos Açores, também prometeram que não governavam com o Chega até às vésperas das eleições, fizeram um acordo e esse, sim, não durou oito anos.
Mas o Governo do PS, com maioria absoluta, sem depender de ninguém, caiu ao fim de dois. Isto é estabilidade governamental?
A interrupção desta legislatura não advém da falta de condições de governabilidade.
Então, advém de quê?
Não advém disso, advém de outras razões que não têm a ver com as condições de governabilidade que o Partido Socialista obteve em janeiro de 2022. Em janeiro 2022, o PS ganhou uma maioria absoluta que garantia estabilidade até 2026. As razões foram outras.
A governabilidade mede-se com o exercício da governabilidade. Se a governabilidade acaba, foi o que foi que aconteceu, o governo caiu. Neste contexto, falar em governabilidade é um paradoxo.
Não, não é. O Partido Socialista conseguiu uma maioria absoluta. Essa maioria absoluta garante condições de governabilidade que o PS de hoje não consegue garantir aos pequenos. Aliás, consegue garantir o contrário, consegue garantir que não vai governar a partir de 10 de março.
Os eleitores sabem quais são as opções de Luís Montenegro, como acaba de citar, mas não sabemos quase nada do que está disponível para fazer depois de 10 de março. Quer fazer coligação ou não, não esclarece o que faz se ficar em segundo lugar, mas a esquerda ganhar… Se for necessário, faz coligação com o Bloco de Esquerda e com o PCP?
Nós vamos ter eleições dia 10 de março e não sabemos qual é que vai ser o peso eleitoral de cada um dos partidos, a representação parlamentar de cada um dos partidos, nem a relação de força entre eles. E, neste momento, qualquer cenarização sobre o pós-10 de março é um exercício meramente especulativo. O que é que podemos ter a certeza? O Partido Socialista vai procurar uma maioria no Parlamento. Eu não fechei portas nenhuma, mas isso é importante. Depois, não vamos viabilizar um governo minoritário do PSD, não vamos governar com o Chega. Agora, fiz parte de um Governo que teve o PS a liderar, sem ter ganho as eleições. Seria um absurdo estar a negar uma solução de Governo como aquela na qual tive muitas responsabilidades. As circunstâncias não mudaram ao ponto de negar ou rejeitar aquilo que foi o passado recente da história do PS. Agora, estamos a trabalhar e concentrados em ter uma vitória no dia 10 de março. Eu não fechei as portas que o líder do PSD decidiu fechar. Está no seu direito…
Mas está a ser claro com os eleitores. E o Pedro Nuno Santos, se ganhar as eleições internas, está a pedir um cheque em branco?
Não estou a pedir um cheque em branco nenhum, porque vou-me apresentar a eleições com um programa eleitoral do PS e com os candidatos do PS, e vamos mobilizar o povo português para termos o melhor resultado possível, para defender o programa eleitoral do PS. Depois, após eleições, perante a configuração parlamentar a que o país chegar, procuraremos uma solução de Governo que melhor garanta o cumprimento do programa eleitoral do PS.
Um eleitor potencial do PS pode estar a decidir se vota em função do partido fazer ou não um acordo com o PCP. No caso de um eleitor do PSD, já sabem uma coisa…
…é que não vai governar. Só se tivesse maioria absoluta.
A Direita pode ter a maioria, e o PSD pode governar com a Iniciativa Liberal e o CDS.
Não acredito. A direita não vai ter maioria absoluta sem o Chega.
O Chega será confrontado com a possibilidade de ter um Governo do PS e, perante isso, ser obrigado a deixar passar a coligação de direita, como um mal menor.
Só que não é isso que diz o líder do Chega.
Deixemos o Chega e regressemos ao PS. Abre a porta à possibilidade de ter o Bloco de Esquerda no Governo?
Se há político que os portugueses conhecem, daqueles que se apresentam eleições, sou eu. E conhecem o meu passado recente, conhecem o meu trabalho enquanto membro do Governo.
Sabem que é possível ter o BE no Governo…
…qual foi a função que ocupei? Agora, verdadeiramente, o que também não faz sentido neste processo de relação e de comunicação entre o Partido Socialista e os portugueses é que passemos uma campanha a sinalizar e a especular sobre cenários que podem ser muito diferentes. É um exercício que não é útil neste momento, porque, verdadeiramente, aquilo que quero que os portugueses saibam é que, no pós-10 de março, faremos tudo para defender o nosso programa eleitoral e encontraremos uma solução de Governo que permita cumprir o nosso programa eleitoral.
Mesmo que não ganhe as eleições?
Isto não é um cheque em branco, isto é a confiança num partido, em candidatos e num programa eleitoral. A confiança de que procuraremos uma solução que permita cumprir o nosso programa. Isto não é nenhum cheque em branco, pelo contrário.
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“Seria um absurdo estar a negar” uma nova geringonça
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