Resseguro: Desafios da modernização e o futuro

  • Hugo Veloso
  • 3 Janeiro 2024

Hugo Veloso, Insurance Delivery Manager da NTT DATA Portugal, reafirma a aposta no resseguro como elemento essencial para tornar mais eficiente o capital investido. E fala da tecnologia que o permite

O resseguro, muitas vezes conhecido como o seguro do seguro, é uma importante fonte de equilíbrio para as seguradoras, uma vez que lhes permite transferir para outra entidade o risco total ou parcial de um ativo, a troco de uma cedência de parte do prémio recebido, reduzindo assim a sua exposição e responsabilidade. No entanto, apesar de se afigurar como uma importante ferramenta, representa também um desafio operacional. É uma área muitas vezes pautada por algum desinvestimento tecnológico e um isolamento comum em processos manuais.

Os desafios da atividade de resseguro

Existe uma posição maioritariamente conservadora das seguradoras no que respeita a esta atividade, mais vincada nas que apenas desempenham o papel de cedente, uma vez que implica lidar com regras complexas e conhecimento muito especializado. Esta falta de dinâmica justifica-se também por um posicionamento frequente no final da cadeia de valor e menos exposição à dinâmica das novas tendências tecnológicas. Os maiores investimentos são, compreensivelmente, canalizados para áreas mais focadas no cliente, como captação, retenção ou serviços. Como consequência este é um desafio que, regra geral, só é encarado pelas seguradoras quando entram em processo de transformação de sistemas core. É comum que as alterações a que os sistemas de resseguro são alvo consistam, com todas as desvantagens a isso associadas, numa consequência e não no foco da modernização.

Seja ou não o objeto central, as dificuldades no processo de transformação são claras. A particularidade das regras e a necessidade de integrações entre vários sistemas e entidades obriga a soluções com elevado nível de customização. Apesar das soluções core mais estabelecidas no mercado estarem preparadas para os standards de configuração de resseguro, estes sistemas vêm substituir um conjunto de peças que, no exemplo particular de Portugal, resultam habitualmente de um legado fragmentado de sistemas, decorrente de fusões e aquisições frequentes, e em constante processo de consolidação.

Vantagens da transformação das práticas de resseguro

Mas, além destas dificuldades, importa olhar para o futuro desta operação e as vantagens que um foco mais dedicado pode trazer. Progressivamente, as soluções de inteligência artificial, em conjunto com ferramentas mais potentes de Data & Analytics permitem uma melhor e mais detalhada análise de risco, possibilitando às seguradoras tomar decisões mais sustentadas. Olhando atentamente para o panorama das soluções de seguros, e para as estratégias das organizações no caminho data-driven, ou de gestão baseada em dados, é evidente que, além da modernização do sistema per se, esta é a altura de nos virarmos de forma efetiva para o fluxo a montante da operação de resseguro, como forma fundamental de tornar o processo mais assertivo, principalmente no suporte às decisões anuais de renovação e negociação de contratos e distribuição de risco entre a seguradora primária e a resseguradora. As provas desta visão estratégica começam já a ser notadas no mercado. Exemplo disso é a recente anunciada parceria entre a Guidewire e a Swiss Re, com vista a providenciar a todas as partes uma visão mais clara e transparente da divisão de risco. Mais ainda, na atual incerteza dos inflacionados mercados financeiros, tal como descrito por Thorsten Steinmann, da Swiss Re, na conferência de Baden-Baden (2023), o custo do capital tradicional é, neste momento, superior à relação custo/capitalização por via de resseguro, o que torna a aposta no resseguro mais eficiente e rentável na relação entre custo e benefício.

O resseguro é uma fonte de eficiência financeira

Aliado aos benefícios que trazem os modelos preditivos no enriquecimento da gestão do risco, as seguradoras devem olhar para o resseguro como uma possível fonte de eficiência financeira. Este pode ser usado como uma ferramenta importante no equilíbrio entre capitalização otimizada e risco ponderado. Deve passar pela jornada de transformação tecnológica das seguradoras aprofundar uma aposta estratégica na otimização do desenho de produtos, assente no tratamento e análise efetiva e automatizada de dados, conciliando e incluindo nesse processo de adaptação a escolha ideal dos mecanismos de resseguro adequados para atingir a máxima rentabilidade desta relação. Esta gestão é particularmente importante e prioritária, mas não exclusiva, para produtos com coberturas das categorias de catástrofes naturais e cyber security, pelo seu elevado risco e rentabilidade.

  • Hugo Veloso
  • Insurance Delivery Manager NTT DATA Portugal

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