Exclusivo Há 150 hotéis para abrir em Portugal nos próximos três anos
Em 2021, Portugal já tinha mais quartos de hotel por km2 que Espanha e França. Consultora Neoturis prevê que, de 186 projetos em curso, até final de 2026 abrem cerca de 150, devido a atrasos.
O turismo recuperou em força desde a pandemia e em 2023 foram batidos todos os recordes no setor. Um fôlego que não deverá abrandar nos próximos anos e que está a acelerar investimento na hotelaria. E o espelho disso é que, nos próximos três anos, vão nascer cerca de 150 hotéis em Portugal, sendo este “o maior pipeline a três anos de sempre”, revela ao ECO a Neoturis, consultora especializada em Turismo.
Este número resulta dos 186 projetos de construção já sinalizados para abrirem portas até final de 2026, trazendo ao mercado mais 18.446 quartos. Mas, com “atrasos no licenciamento, alterações ao projeto, atraso na obra, dificuldades técnicas e financiamentos”, haverá “alterações nas datas previstas de abertura”, prevê ao ECO Luís Pedro Costa, sócio da Neoturis, que por isso aponta para que o número de inaugurações fique a rondar as 150.
Perante este cenário, Portugal já tem mais quartos de hotel por quilómetro quadrado que Espanha ou França, salienta ainda a consultora. Com base nos dados do Barómetro Mundial do Turismo da Organização Mundial do Turismo (OMT), em Portugal, em 2021, ainda durante a fase da pandemia, havia 182.789 quartos de hotel no mercado, o que resultava num rácio de 1,9837 quartos por quilómetro quadrado.
Em Espanha, no mesmo ano e com base no mesmo barómetro, havia 941.030 quartos, o que resultava num rácio de 1,8878 quartos por quilómetro quadrado (abaixo de Portugal).
Já França, nos dois rácios, fica bastante abaixo de Portugal. Neste país foram sinalizados 652.953 quartos, resultando num rácio de 1,2004 por quilómetro quadrado.
“Estamos conscientes que temos, tal como Espanha e França, várias regiões turísticas bem desenvolvidas. Uma análise regional com mais indicadores, como por exemplo quartos de hotel por número de habitações, poderá ser interessante para se entender onde deverá ser incentivada a abertura de novos hotéis e onde deverá ser mais incentivada a renovação de hotéis existentes”, salienta Luís Pedro Costa.
Mas, apesar destes números, a Neoturis entende que “quando o desempenho do setor é robusto e sustentável” economicamente, “existe sempre espaço para novas unidades hoteleiras”, vincando que o pacote Mais Habitação, “que já se encontra a provocar o encerramento de Alojamentos Locais”, acabando por “retirar essa oferta do mercado”, acaba por dar espaço para a abertura de mais hotéis, beneficiando “a hotelaria nacional”.
No entanto, a consultora não deixa de apontar algumas preocupações com o crescimento da hotelaria. Há, “naturalmente, as externalidades negativas que novos hotéis sempre trazem, por muito grande que seja a aposta na sustentabilidade, e está a ser; há a questão essencial da água, ou da falta dela,” assim como o risco de saturação da “capacidade de carga de praias e centros históricos”.
Também “a falta de recursos humanos nesta área é uma preocupação”, apesar de nos últimos anos terem havido “aumentos significativos de salários e assim a maior dignificação das profissões do setor”, salienta Luís Pedro Costa, lembrando ainda que há “sempre a oportunidade de atrair mão-de-obra de outros países, o que tem impacto positivo na natalidade e na sustentabilidade da Segurança Social”, mas “esta mão-de-obra tem de ser treinada na arte portuguesa de bem receber, sob pena de existir uma descaracterização da oferta hoteleira”.
Portugal na rota das maiores redes hoteleiras
A procura crescente de turistas por Portugal, sobretudo entre os americanos e canadianos, que foram os hóspedes que mais subiram em 2023, está cada vez mais a pôr o país na rota dos maiores promotores e das maiores redes hoteleiras no mundo. “Qualquer uma das 50 maiores empresas internacionais, ou já se encontra em Portugal, ou está a planear um hotel em Portugal, ou já analisou uma oportunidade em Portugal”, diz Luís Pedro Costa.
Entre os promotores, é o caso do grupo canadiano Mercan, que tem vindo a reforçar a aposta no país, tendo prevista a construção de mais oito hotéis com um investimento de 450 milhões de euros. Mas também os americanos da Highgate, que no ano passado abriram uma empresa em Portugal para gerir os 18 hotéis que compraram aos bancos através do portfólio Crow.
A somar, há ainda os britânicos do grupo Arrow que se instalaram em Portugal para fazer fortes investimentos em hotelaria. É o caso da compra de seis hotéis Dom Pedro e cinco campos de golfe por 250 milhões de euros, do negócio do resort de luxo Palmares Ocean Living & Golf, em Lagos, com um investimento de 400 milhões, ou da revolução de Vilamoura com um investimento total que ronda os mil milhões de euros, com vários condomínios de apartamentos turísticos e um hotel.
Por isso, antevê o consultor, “é expectável” que em Portugal surjam “novas marcas hoteleiras” para gerir as novas unidades sendo que redes como a Hilton ou a Marriott “estão a conseguir expandir o seu portefólio através das suas várias submarcas”.
Entre as várias zonas do país, dos 186 projetos em curso para terminar em 2024, 2025 ou 2026, a maior fatia está localizada na região do Porto e Norte com 68 novos hotéis com 6.381 quartos. Deste total, há 35 que ficam na cidade do Porto.
Segue-se a Área Metropolitana de Lisboa, onde estão em curso 54 projetos de novos hotéis com 4.813 quartos, dos quais 43 ficam situados na cidade de Lisboa. Para o Algarve, estão na calha 22 novos hotéis com mais 3.649 quartos, no Centro outros 12 e no Alentejo somam 16. Nas ilhas, a Madeira pode vir a contar com mais seis hotéis até ao final de 2026 e nos Açores há oito novos projetos.
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