Um Governo “de combate” com “cheiro a passado”. Partidos criticam escolhas de Montenegro para ministros

Da esquerda à direita, partidos não pouparam críticas a Montenegro por revelar "falta de capacidade" e "de ambição" no recrutamento de nomes para a composição do novo Governo.

Hugo Soares garante que os nomes apresentados por Luís Montenegro para o próximo Governo “conjugam experiencia política com capacidade de recrutamento na sociedade civil“, rejeitando as críticas de que este elenco governativo, composto por 17 ministros, não terá capacidade para assegurar a estabilidade do país.

Este Governo traz combate politico e experiência politica, mas traz também uma capacidade técnica para governar e transformar o pais sempre com o foco nas pessoas”, afirmou o líder parlamentar do PSD em declarações aos jornalistas, esta quinta-feira, na Assembleia da República, momentos depois da divulgação da lista de ministros do XXIV Governo Constitucional.

O líder parlamentar destacou, a título de exemplo, Rita Júdice, Dália Rodrigues e Fernando Alexandre como um “sinal político muito relevante“, em especial para os jovens face à criação de um Ministério da Juventude liderado por Margarida Blasco.

Questionado sobre se gostaria de ter lugar no Governo, Hugo Soares diz que “não se pode fazer tudo ao mesmo tempo“. “Eu sou candidato a líder parlamentar do PSD e serão essas as funções que vou exercer assim os meus colegas de bancadas me confiem essa missão”, sublinhou, para garantir que “não será por parte nem do Governo nem do grupo parlamentar [do PSD] que se criará a instabilidade política”. Neste momento, Joaquim Miranda Sarmento, futuro ministro das Finanças, ainda desempenha funções de líder parlamentar. Passagem de pasta deverá ocorrer depois de 2 de abril, quando for empossado membro do Governo.

Por seu turno, o deputado Paulo Núncio, congratulou o facto de o CDS estar de “regresso ao Parlamento e ao Governo”, com Nuno Melo a presidir o Ministério da Defesa. O deputado democrata-cristão faz das palavras de Hugo Soares suas, dizendo que este é um “Governo de combate, com experiência e qualidade” e que irá “cumprir o programa eleitoral” apresentado pela coligação PSD/CDS, Aliança Democrática, durante a campanha eleitoral.

O primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro (D), após a reunião com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para apresentação da composição do Governo no Palácio de Belém em Lisboa, 28 de março de 2024. TIAGO PETINGA/LUSATIAGO PETINGA/LUSA

Escolhas de Montenegro são “retrocesso em muitas áreas”, aponta PS

Na ótica do PS, o Governo apresentado por Luís Montenegro não demonstra nem “alargamento ou abertura” a um recrutamento fora “da base parlamentar de apoio” do PSD e CDS. Para Pedro Delgado Alves, que reagia ao elenco governativo a partir dos Passos Perdidos, na Assembleia da República, a equipa de Luís Montenegro “não dá respostas claras” no que respeita à “estabilidade governativa”.

“Como é que, perante a instabilidade parlamentar, esta configuração vem superar esta dificuldade. Não nos parece fundamental comentar individualmente este ou aquele Ministério. Mas a única coisa que importa destacar é que falamos fundamentalmente de protagonistas, decisores, de autores, do essencial das traves mestras da [Aliança Democrática]”, que se traduzem “num retrocesso em muitas áreas relevantes para a vida das pessoas“, afirmou o socialista aos jornalistas.

Montenegro revela “incapacidade” de ir buscar nomes fora da “cúpula” do PSD, diz Chega

O líder do Chega considera que Luís Montenegro “ficou muito aquém” daquilo que poderia ter feito nesta composição do Governo. Em declarações aos jornalistas, esta quinta-feira, nos Passos Perdidos, André Ventura assinalou que Luís Montenegro recorreu a figuras conhecidas da “cúpula” do PSD para compor o seu Executivo ao invés de recorrer a “figuras da sociedade civil” para liderar a próxima legislatura.

“Montenegro revelou-se incapaz de conseguir recrutar nomes com prestígio na sociedade civil que era o que o país precisava“, afirmou Ventura, criticando ainda o facto de a equipa do primeiro-ministro indigitado ser composta por 17 ministros. “É menos um do que no Governo anterior. Luís Montenegro podia ter feito mais para mostrar ao país de que está empenhado na redução das gorduras do Estado”.

Fora do Governo, mas “parte da solução”, liberais criticam dimensão do elenco

A Iniciativa Liberal também subscreve às críticas de um Governo “demasiado grande“, referindo a título de exemplo os Ministérios da Coesão, Presidência e Juventude. Sobre este último, Bernardo Blanco considera que “os jovens não precisam de um ministério, mas sim de melhores salários, mais habitação”.

Ainda assim, deixa um sinal de apoio, salientando que os liberais “querem ser parte da solução”, apesar de não terem chegado a acordo para integrar o Governo. “Não há nenhuma mágoa. Não fazia sentido a IL estar no Governo nesta fase, quem sabe, num próximo Governo de maioria”, sublinha.

Sobre a orgânica do Governo, Blanco assinala que existe um “equilíbrio suficiente, razoável, entre pessoas com experiência política e pessoas da sociedade civil“, na orgânica do Governo de Montenegro, considerando esse ser “um ponto positivo”, nomeadamente, Fernando Alexandre para a pasta do Ministério da Educação, Ciência e Inovação.

“Governo que cheira a passado”, diz BE

Do lado dos bloquistas, as críticas foram mais duras. Fabian Figueiredo avalia este Governo como sendo “o mais à direita de sempre”.

“É um Governo que traz figuras com interesses imobiliários para a justiça. Defensores dos vistos gold para a habitação. Uma académica contra os direitos do trabalho. Uma conservadora para a pasta da Cultura. A ciência fica sem pasta”, começou por referir o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, sem adiantar nomes.

É um Governo que cheira a passado“, disse, salientando que durante a próxima legislatura o partido assumirá um papel de “oposição” tanto no Parlamento, como nas ruas.

Junção de ministérios é “erro” de Montenegro, alerta Livre

Do lado do Livre, a lista de ministros apresentada por Luís Montenegro também revela uma “incapacidade” de o convite para integrar o Governo ter sido estendido à “sociedade civil, à academia, a pessoas fora daquilo que são a cúpula dos partidos que compõem a base de apoio deste Governo”, afirmou Paulo Muacho, nos Passos Perdidos.

A título de exemplo, considera ser “um erro” a decisão de Montenegro de juntar as pastas da Educação, Ensino Superior e da Ciência todas numa só por serem “áreas com problemas muito específicos e diferentes” e que do ponto do vista do Livre “mereciam ministérios próprios”. Igualmente merecedoras de um ministério próprio, diz Muacho, são as pastas das Infraestruturas e da Habitação, ou até mesmo da Juventude e Modernização.

Governo dá sinais de “retrocesso”, acusa Inês de Sousa Real

A líder do PAN, Inês de Sousa Real, congratulou do novo Ministério da Juventude, considerando ser “importante para combater a saída dos jovens” do país.

Ainda assim não poupou nas críticas, assinalando que a composição deste Governo dá sinais de “retrocesso“. “Esperávamos mais ambição. Esperamos que o próximo Governo possa garantir estabilidade do país e reaproximar as pessoas das instituições“, disse a porta-voz do PAN, na Assembleia da República.

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