O ‘lado b’ dos secretários de Estado de Montenegro
Há secretários de Estado batidos, há quotas partidárias, há surpresas que saem do setor privado, da banca à comunicação social, e há até empresários. O 'lado b' da lista de 41 secretários de Estado.
Quando um adjunto do Presidente, um empresário, um economista, um sócio de uma consultora internacional e um jurista entram numa sala… Poderia ser assim o início de uma história para a formação da lista de 41 secretários de Estado do Governo liderado por Luís Montenegro, que demorou, e custou, mais do que se esperava. A alternância do partido no poder e uma nova orgânica governativa (não é uma rotura, mas há mudanças importantes) significariam sempre uma equipa governativa renovada. Há nomes absolutamente desconhecidos do mercado mediático, há escolhas que resultam de quotas partidárias ou da coligação, uns são surpresas pela capacidade de atração, outros têm carreira profissional nos respetivos setores e outros ainda são incógnitas a avaliar nos próximos meses.
José Maria Brandão de Brito é uma, senão mesmo a maior, surpresa da lista de secretários de Estado do novo Governo, pela sua origem profissional. Licenciado e doutorado em economia, estava há anos como economista-chefe do BCP e tinha a seu cargo, mais recentemente, as áreas da sustentabilidade e das criptomoedas. A história tem-nos mostrado que a banca não é uma fonte primária muito relevante para a governação, menos ainda para Secretarias de Estado (e aqui o peso da remuneração não é irrelevante). A capacidade de recrutamento do ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, é surpreendente, mas não surpreende, claro, que venha a ser o número dois no Ministério e logo com a pasta do Orçamento. E pode ler aqui os textos de Brandão de Brito no ECO.
Na tutela da Administração Pública, a escolha recaiu numa escolha do anterior ministro da Economia para a vice-presidência do IAPMEI. Marisa Garrido ultrapassou a barreira partidária, por isso, se não há interesses… só pode ser competência. Gestora especializada em recursos humanos, já liderou processos de reestruturação no mínimo difíceis, como a Novabase, Secil, RTP, EMEL e CTT. Vai ser o braço direito de Miranda Sarmento para enfrentar (este deverá ser mesmo o termo…) as corporações do Estado a quem muito foi prometido nos últimos meses, desde logo aos professores.
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Na Presidência de Conselho de Ministros, há dois secretários de Estado com um perfil complementar: um Jurista e um empresário, que vão trabalhar com António Leitão Amaro. Se o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros escolhido, Paulo Lopes Marcelo, não é um novato nestas andanças (trabalhou em governos anteriores), já o secretário de Estado Adjunto e da Presidência, Rui Armindo Freitas, vem diretamente das empresas, do setor têxtil, mas também da comunicação social (declaração de interesses, foi presidente da Swipe News, acionista do ECO). Começou a sua vida profissional na EDP, mas passou rapidamente para os seus próprios negócios, o mais conhecido dos quais uma posição acionista da ordem dos 2% na Media Capital. Mas a militância partidária no PSD, na concelhia de Guimarães, vem de longe. E por isso é colunista regular do jornal +Guimarães (pode ler artigos aqui).
A alternância do partido no poder e uma nova orgânica governativa (não é uma rotura, mas há mudanças importantes) significariam sempre uma equipa governativa renovada. Há nomes absolutamente desconhecidos do mercado mediático, há escolhas que resultam de quotas partidárias ou da coligação, uns são surpresas pela capacidade de atração, outros têm carreira profissional nos respetivos setores e outros ainda são incógnitas a avaliar nos próximos meses.
De Belém para os Negócios Estrangeiros, poderia ser esta a legenda de uma fotografia de Nuno Sampaio. Adjunto de Marcelo Rebelo de Sousa, já tinha sido de Cavaco Silva, mas a sua principal atividade é mesmo a de professor universitário no Instituto de Estudos Políticos (IEP) da Universidade Católica. Naquele ministério, há outra adjunta de Marcelo: A secretária de Estado dos Assuntos Europeus será Inês Domingos, que já tinha sido deputada (2015-2019) com trabalho… na comissão de Assuntos Europeus.
Menos comum na prática política em Portugal é a indicação de um secretário de Estado que já foi ministro (um preconceito que, felizmente, está a ser ultrapassado). E neste caso, até pela quota do CDS. Telmo Correia é dos mais experientes governantes desta lista, tinha sido ministro do Turismo e agora volta a um Governo para a Administração Interna. Mas as quotas partidárias também se vêm noutras áreas, o que se percebe tendo em conta que o PSD está há oito anos fora do poder e por isso com maior dificuldade em captar independentes. Mais ainda neste contexto político de incerteza. O secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa, vem das autarquias e do aparelho distrital do PSD (foi presidente da Câmara de Santa Maria da Feira), enquanto o secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares será Carlos Abreu Amorim, um dos mais notórios desta lista pelas intervenções públicas assertivas e polémicas no Parlamento e de combate nas redes sociais. Num dos últimos posts na rede X, escrevia “A política é feita de símbolos. E há símbolos bons e maus“, a propósito do regresso da imagem com a esfera armilar e os castelos.
Se o ministro de Estado e das Finanças foi capaz de seduzir um quadro superior de um banco, o ministro Miguel Pinto Luz, que tutela as infraestruturas e habitação, ‘contratou’ um partner da consultora internacional Mckinsey. Hugo Espírito Santo vai ser o secretário de Estado com um dos dossiês politicamente mais sensíveis deste Governo, como já foi do anterior: A privatização da TAP (veremos em que modelo). “Hugo Espírito Santo é Sócio do escritório de Lisboa da McKinsey e um dos líderes da Prática em Angola. É o líder da Prática Profissional de Viagens, Transportes e Logística da McKinsey para África, e lidera os maiores projectos de transportes e infra-estruturas. Ao longo da sua carreira profissional desenvolveu particular experiência no Sector da Aviação“, lê-se na página oficial da consultora.
Do setor privado para o Governo, vai também a gestora Cristina Vaz Tomé. Na última década, desempenhou funções ao mais alto nível na gestão financeira da RTP e, posteriormente, na gestão comercial da Impresa (e estava há dois meses na gestão financeira da Swipe News, dona do ECO). Na prática, será a ‘ministra das Finanças do SNS’, uma das principais fontes de preocupação do ministro de Estado e das Finanças do Governo que está no Terreiro do Paço.
Na Economia, o ministro Pedro Reis escolheu para a Secretaria de Estado… da Economia um engenheiro químico pela Universidade de Aveiro, que gosta de rolhas, de empresas e do movimento associativo. João Rui Ferreira já foi presidente da APCOR, a associação da cortiça, entre 2012 e 2021, saiu, e regressou depois àquela entidade que reúne as empresas corticeiras para a função de diretor-geral. Curiosamente, integrou, como muitos outros, o Conselho Estratégico Nacional do PSD com a coordenação de uma área… estatal: Serviços Públicos e Reforma do Estado.
Este Governo também tem um chamado ‘insurgente’ na Educação. Alexandre Homem Cristo participou no início dos blogues, precisamente no Insurgente, com um pendor de direita, e ao lado de nomes como Carlos Guimarães Pinto ou André Azevedo Alves. Licenciado em ciência política na Universidade Católica Portuguesa, e mestrado em Política Comparada no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), é especialista em Educação. Já tinha sido assessor parlamentar no período 2012-2015 e conselheiro no Conselho Nacional de Educação (2013-2015). Colunista regular do Observador (pode ler aqui os seus textos), ganhará um protagonismo político por ter o dossiê dos professores na mão e por ter um ministro, Fernando Alexandre, que é reconhecido especialista em Ensino Superior. O ‘lado B’ de Homem Cristo é outro, e está ligado à música. Tem raízes familiares comuns a Guy-Manuel de Homem-Christo… do grupo de música eletrónica Daft Punk.
Também há relações familiares que se revelam no sobrenome. Clara Marques Mendes vale por si, e fez carreira profissional e política sem depender do irmão (Luís Marques Mendes). Advogada, deputada do PSD eleita por Braga, foi uma parlamentar ativa na comissão de Trabalho e vai agora ser secretária de Estado da Ação Social e da Inclusão.
E o futebol também ‘entrou’ na lista de 41 secretários de Estado. O nome escolhido para tutelar o desporto foi Pedro Dias, que era, até agora, diretor executivo da Federação Portuguesa de Futebol, liderada por Fernando Gomes. A opção do ministro Pedro Duarte (Assuntos Parlamentares) por Pedro Dias poderá ter uma explicação — não anunciada, pelo menos oficialmente. Portugal integra um ‘consórcio’ com Espanha e Marrocos, que vai receber a fase final do Campeonato do Mundo de futebol de 2030. E por sinal no dia em que se conheceu a lista de secretários de Estado, também se soube que o Estádio da Luz será o palco de um das duas meias-finais do evento.
Numa lista de 41 secretários de Estado — todos tiveram de passar o crivo do questionário de 36 perguntas ‘inventado’ por António Costa depois de uma sucessão de casos e demissões –, a avaliação da capacidade política será determinante para o sucesso político, e esse vai muito além da condição de partida, isto é, a competência técnica nas respetivas áreas. Além, claro, do próprio desempenho dos ministros da tutela. A tomada de posse será esta sexta-feira às 18h00.
Veja a lista dos secretários de Estado de Luís Montenegro:
Ministério de Estado e de Negócios Estrangeiros
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus: Inês Domingos
Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação: Nuno Sampaio
Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas: José Cesário
Ministério de Estado e das Finanças
Secretário de Estado do Orçamento: José Maria Brandão de Brito
Secretária de Estado dos Assuntos Fiscais: Cláudia Reis Duarte
Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças: João Silva Lopes
Secretária de Estado da Administração Pública: Marisa Garrido
Ministério da Presidência
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros: Paulo Lopes Marcelo
Secretário de Estado Adjunto e da Presidência: Rui Armindo Freitas
Ministério da Coesão Territorial
Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional: Hélder Reis
Secretário de Estado da Administração Local: Hernâni Dias
Ministério dos Assuntos Parlamentares
Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares: Carlos Abreu Amorim
Secretário de Estado do Desporto: Pedro Dias
Ministério da Defesa Nacional
Secretário de Estado Adjunto da Defesa Nacional: Álvaro Castelo Branco
Secretária de Estado da Defesa Nacional: Ana Isabel Xavier
Ministério da Justiça
Secretária de Estado Adjunta e da Justiça: Maria Clara Figueiredo
Secretária de Estado da Justiça: Maria José Barros
Ministério da Administração Interna
Secretário de Estado da Administração Interna: Telmo Correia
Secretário de Estado da Proteção Civil: Paulo Simões Ribeiro
Ministério da Educação, Ciência e Inovação
Secretário de Estado Adjunto e da Educação: Alexandre Homem Cristo
Secretário de Estado da Educação: Pedro Dantas da Cunha
Secretária de Estado da Ciência: Ana Paiva
Ministério da Saúde
Secretária de Estado da Saúde: Ana Povo
Secretária de Estado da Gestão de Saúde: Cristina Vaz Tomé
Ministério das Infraestruturas e Habitação
Secretária de Estado das Infraestruturas: Hugo Espírito Santo
Secretária de Estado da Mobilidade: Cristina Pinto Dias
Secretária de Estado da Habitação: Patrícia Machado Santos
Ministério da Economia
Secretário de Estado do Turismo: Pedro Machado
Secretário de Estado da Economia: João Rui Ferreira
Secretária de Estado do Mar: Lídia Bulcão
Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
Secretário de Estado do Trabalho: Adriano Rafael Moreira
Secretário de Estado Adjunto e da Segurança Social: Jorge Campino
Secretária de Estado da Ação Social e da Inclusão: Clara Marques Mendes
Ministério do Ambiente e Energia
Secretário de Estado do Ambiente: Emídio Sousa
Secretária de Estado da Energia: Maria João Pereira
Ministério da Juventude e Modernização
Secretária de Estado da Igualdade: Carla Mouro
Secretário de Estado da Modernização e da Digitalização: Alberto Rodrigues da Silva
Ministério da Agricultura e Pescas
Secretário de Estado da Agricultura: João Moura
Secretária de Estado das Pescas: Cláudia Monteiro de Aguiar
Secretário de Estado das Florestas: Rui Ladeira
Ministério da Cultura
Secretária de Estado da Cultura: Maria de Lurdes
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