Jardim Gonçalves: Governo de Sócrates “precisava de dominar o BCP”

  • ECO
  • 3 Junho 2017

O fundador do maior banco privado português conta que, durante o governo de Sócrates, "a pressão para meter no BCP gente da confiança do governo era grande e vinha de todo o lado".

O governo de José Sócrates precisava de “dominar o BCP” para ter mais facilidade na emissão de dívida pública junto da banca. E foi por isso que, em 2007, colocou Carlos Santos Ferreira, até ali presidente da Caixa Geral de Depósitos, a liderar o maior banco privado português. A sugestão é feita por Jorge Jardim Gonçalves, o fundador e histórico presidente do BCP, numa entrevista publicada este sábado pelo Público (acesso condicionado), na qual recorda os eventos que levaram à sua saída do banco, há dez anos.

Questionado pelo Público sobre se concorda que Vítor Constâncio, então governador do Banco de Portugal, estava alinhado com o grupo de acionistas que queria tomar o poder do BCP (onde se incluíam Joe Berardo, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora, da Ongoing, António Mexia, líder da EDP, Carlos Santos Ferreira ou João Rendeiro, fundador do BPP), Jardim Gonçalves foge a comentar a atuação de Constâncio, preferindo atacar a de José Sócrates.

"Sócrates e Teixeira dos Santos precisavam de ter um controlo mais fino do sistema financeiro para fazerem a colocação da dívida pública. Mandavam na CGD e o BES era dócil e tomava a dívida pública.”

Jardim Gonçalves

Fundador do BCP

“O que sei é que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças [Fernando Teixeira dos Santos] precisavam de ter um controlo mais fino do sistema financeiro para fazerem a colocação da dívida pública. Mandavam na CGD e o BES era dócil e tomava a dívida pública”, recorda. Já o BCP “era independente” e o BPI “era pequeno”. Assim, “o Governo precisava de dominar o BCP, o que só era possível com a nomeação de um presidente”, acusa.

“Pelo que hoje se sabe, o professor Campos e Cunha [antecessor de Teixeira dos Santos no Ministério das Finanças] tinha-se recusado a nomear o Armando Vara para a CGD, decisão que Teixeira dos Santos viria depois a tomar. E Armando Vara acaba por ser escolhido pelo grupo de António Mexia e da Ongoing para ir com Carlos Santos Ferreira para o BCP”, diz ainda.

"A pressão para meter no BCP gente da confiança do governo era grande e vinha de todo o lado.”

Jardim Gonçalves

Fundador do BCP

Sobre Vítor Constâncio, Jardim Gonçalves recorda um episódio que, no seu entender, mostra como “a pressão para meter no BCP gente da confiança do governo era grande e vinha de todo o lado“.

“Na altura, [Constâncio] chamou o Filipe Pinhal [antigo presidente executivo do BCP] para lhe recomendar que não avançasse com a sua candidatura à liderança do BCP. Em simultâneo, sem nada lhe dizer, enquanto o Pinhal estava reunido com ele, Constâncio mandou chamar o Christopher Beck [que estava nas listas de Pinhal], mas colocou-o noutra sala. E informa o Beck que o BdP tem questões contra os dois e que quer clarificar, pois podem resultar em contra-ordenações. É então que a comunicação social começa a referir, para potenciais administradores do BCP, os nomes de Santos Ferreira, Armando Vara e Vítor Fernandes [agora no Novo Banco], que eram gestores da Caixa”, conta Jardim Gonçalves.

Fosun não tem “história autorizada”

O fundador do BCP comentou ainda a entrada do grupo chinês Fosun no capital do banco português, uma estratégia que critica duramente.

“Não gosto que se diga que Portugal não tem capital e que tem que vir um estrangeiro comprar as empresas. O BCP foi alienado, pois um acionista que compra 30% compra a instituição. E isto só acontece quando não há confiança no valor que uma determinada administração acrescenta”, comenta.

Sobre a Fosun em si, não tece comentários, porque diz não conhecer a empresa. “Mas não concordo que haja uma entidade estrangeira sem história autorizada a dominar o maior banco privado“, ressalva.

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