BCE só desce juros em junho se tiver “confiança” que inflação está a caminho dos 2%

O BCE está pronto para aliviar a restrição monetária, se os dados económicos confirmarem que inflação mantém tendência de descida. Alguns membros do BCE defenderam um corte de juros já este mês.

O Banco Central Europeu (BCE) poderá avançar com o primeiro corte de juros desde 2019 na reunião de junho, admitiu a presidente do banco central. Christine Lagarde reiterou que o banco central está preparado para aliviar a sua política monetária, caso os dados económicos deem “confiança ao conselho” que a inflação vai continuar a convergir para o target de 2%. Apesar de admitir uma mexida nos juros, Lagarde foi perentória: o BCE não se compromete antecipadamente com um corte.

Se as perspetivas da inflação aumentarem a confiança que a inflação está a caminhar para o target de 2%, então vamos mexer nos juros“, assumiu Christine Lagarde, na conferência de imprensa que se seguiu à divulgação do comunicado do BCE.

“Em abril recebemos alguns indicadores mas em junho teremos muito mais dados e informação e teremos novas projeções publicadas antes da reunião”, o que permitirá ao conselho do BCE decidir se desce ou não os juros, reiterou Lagarde, destacando que a decisão da entidade será sempre dependente dos dados económicos e que o BCE não se compromete com uma descida de juros.

A presidente do BCE refere que os dados nos próximos meses irão permitir perceber “se os salários estão de facto a crescer de uma forma compatível com a inflação atingir a nossa meta de forma sustentável até meados de 2025”.

Lagarde admite que a inflação está a descer, está em curso um processo de desinflação e a política monetária do BCE tem contribuído para este alívio dos preços, que em março baixaram para 2,4%. A mesma responsável antecipa que a taxa de inflação ande a flutuar em torno dos níveis atuais nos próximos meses, baixando, no próximo ano, para o target de 2% do BCE.

No comunicado com a decisão sobre os juros, o conselho do BCE realça que “a maior parte das medidas da inflação subjacente estão a diminuir, o crescimento dos salários está a moderar-se gradualmente e as empresas estão a absorver parte do aumento dos custos laborais nos seus lucros“.

“Se a avaliação atualizada do Conselho do BCE relativamente às perspetivas de inflação, a dinâmica da inflação subjacente e a força da transmissão da política monetária aumentassem ainda mais a sua confiança de que a inflação está a convergir para o objetivo de forma sustentada, seria apropriado reduzir o nível atual de restrição da política monetária“, sustenta ainda o comunicado.

De acordo com a presidente do BCE, a decisão de manter esta quinta-feira os juros inalterados pela quinta vez foi defendida pela maioria dos membros do banco central, mas houve alguns governadores que se mostraram favoráveis a um corte de juros já nesta reunião. Ainda assim, a maioria prefere esperar por mais dados para ter “confiança” para decidir sobre uma descida de taxas.

Questionada sobre os recentes dados da inflação nos Estados Unidos, Lagarde referiu que o BCE está focado em manter a estabilidade de preços na Zona Euro e não depende da Fed para tomar as suas decisões de política monetária na região.

Esta mudança no discurso do BCE já era antecipada pelo mercado, que está a apontar para a primeira descida de juros em junho.

Os investidores estão a descontar um corte acumulado entre 80 a 90 pontos base em 2024, o que aponta para pelo menos três cortes de 25 pontos base até dezembro. O consenso dos economistas é semelhante, com a sondagem da Bloomberg a apontar para três cortes de juros este ano, com uma redução em cada trimestre. Depois de junho, o BCE tem reuniões agendadas para 18 de julho, 12 de setembro, 17 de outubro e 12 de dezembro.

Num primeiro comentário à decisão do BCE, os economistas do ING admitem que o comunicado do banco central “abre oficialmente a porta a um corte de juros em junho”. Os especialistas acreditam que “a queda mais rápida do que o esperado da inflação global, bem como o crescimento anémico, abriram a porta para alguns cortes nas taxas. Não uma reversão total dos aumentos das taxas desde julho de 2022, mas sim um ligeiro alívio de uma postura ainda restritiva”, escreve Carsten Brzeski.

Felix Feather, economista da Abrdn, diz que “não há surpresas na reunião de hoje do BCE”, acrescentando que espera que a autoridade monetária realize vários cortes de 25 pontos base até ao final do ano.

(Notícia em atualização)

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