Escolhas “arrojadas” mas com “falta de vergonha”. Partidos reagem às cabeças de lista do PS e AD para as europeias
A experiência adquirida por Marta Temido na pandemia e a falta dela em Sebastião Bugalho são os duas principais criticas apontadas pelos partidos às cabeças de lista do PS e AD às europeias.
Depois de muito suspense sobre quem iria encabeçar a lista de candidatos da Aliança Democrática (coligação que junta PSD, CDS e PPM) às eleições europeias, a confirmação chegou ao final da tarde. Sebastião Bugalho, jornalista e comentador político, terá sido, segundo Hugo Soares, a “escolha única ” de Luís Montenegro para representar o partido na corrida às europeias – isto, depois de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, ter recusado o convite para integrar a lista.
Da esquerda à direita (e mesmo internamente), as reações foram muitas, mas todas partiram do mesmo ponto: surpresa. Afinal, o comentador político era, até então, isso mesmo, não tendo conseguido seguir uma carreira enquanto deputado pelo CDS-PP, em 2019, por não ter sido eleito e por não ter aceitado o convite de substituir Ana Rita Bessa no hemiciclo, mais tarde.
Mas no meio de muita surpresa, havia, no entanto, uma certeza: a de Luís Montenegro.
“O Sebastião Bugalho é, com muita honra e convicção, o candidato que tenho para vos apresentar. E que vai fazer a diferença nas próximas eleições europeias”, afirmou o primeiro-ministro e presidente do PSD, durante o Conselho Nacional do partido, esta segunda-feira. “Um jovem, um jovem talentoso, que o país conhece, aqui e ali polémico, que afronta a posição, que estimula a confrontação democrática, e que é expressão daquilo que queremos: que vale a pena estar em Portugal e lutar por Portugal; que vale a pena ser agente de mudança”, afirmou.
Além de Sebastião Bugalho, Marta Temido também foi a escolha (surpresa) do PS para encabeçar o elenco de candidatos socialistas ao Parlamento Europeu. A antiga ministra da Saúde era o nome socialista mais falado nos bastidores para suceder a Carlos Moedas na Câmara de Lisboa, mas acabou por ser a escolha de Pedro Nuno Santos para representar o PS na família europeia política, em Bruxelas.
António Mendonça Mendes (PS)
O antigo ministro dos Assuntos Fiscais considerou que a lista do PS “é prova da experiência” que o partido tem, sendo esse elenco encabeçado pela ministra da Saúde, Marta Temido. Relembrando o “legado” conquistado no combate à pandemia, liderado pela ex-ministra da Saúde, “esta experiência” configura a Temido “uma visão privilegiada para o funcionamento das instituições“.
“A gestão da pandemia foi um sucesso, embora tenha sido uma tragédia para muitas pessoas”, afirmou esta tarde, na CNN Portugal.
André Ventura (Chega)
O líder do Chega voltou a repetir a mesma crítica que lançou aquando do anúncio da orgânica do Governo de Luís Montenegro: “O PSD mostra incapacidade de recrutar fora do partido. Escolheu um comentador supostamente independente”, afirmou esta terça-feira, na Assembleia da República.
Ventura critica a “candidatura de um comentador que salta diretamente de um estúdio de televisão para representar um projeto político, quando dias antes se pronunciava sobre as características e capacidade de outros líderes políticos”. E não tem dúvidas: “É um mau sinal para a política, democracia e jornalismo em Portugal.”
No mesmo momento, lançou também farpas à escolha do PS para cabeça de lista, Marta Temido. “O PS tem falta de vergonha. Escolheu uma ministra responsável pelo estado de saúde [para cabeça de lista]. É um ataque direto aos portugueses que têm sentido a falta de serviços na saúde.”
João Cotrim de Figueiredo (IL)
O cabeça de lista pela Iniciativa Liberal às europeias foi dos primeiros a reagir ao nome de Sebastião Bugalho como cabeça de lista da AD.
“Habituei-me a respeitar Sebastião Bugalho do ponto de vista do comentário político, mas sobre as ideias que tem sobre a Europa nunca soube o que pensa“, disse João Cotrim de Figueiredo em entrevista à Sic Notícias, na noite de segunda-feira.
O liberal criticou Luís Montenegro pela escolha que fez, afirmando que “o grande atributo que Sebastião tem é ser conhecido“, uma característica que o próprio considera ser “verdadeiramente pouco”. E ficou-se por aqui: “Vou esperar para ver o pensamento europeu”, disse.
Catarina Martins (BE)
A ex-coordenadora e cabeça de lista pelo Bloco de Esquerda – que é também comentadora na Sic Notícias, embora frise que “nunca tenha passado a ideia de ser independente” – considerou que a escolha de Sebastião Bugalho prende-se pela “exposição que tem tido” enquanto comentador naquele canal televisivo.
“Respeito as decisões dos partidos, mas registo que Sebastião não terá a experiência de atividade política”, afirmou Catarina Martins.
Relativamente a Marta Temido, a antiga coordenadora do Bloco considera que o nome “é forte”, juntamente com Francisco de Assis e Ana Catarina Mendes, número dois e três na lista, respetivamente. “Tenho um enorme respeito por Marta Temido, mas é também alguém com quem tive enormes divergências enquanto ministra da Saúde”, afirmou.
Francisco Louçã (BE)
O antigo coordenador do Bloco de Esquerda recorreu às redes sociais para deixar uma longa crítica à escolha de Sebastião Bugalho.
À semelhança de outros comentadores, como Marques Mendes ou Paulo Portas que “saíram do comício da AD para irem comentar o governo da AD”, Francisco Louça acusou também Sebastião Bugalho de “fingirem uma independência que não têm”, ironizando que “com toda a imparcialidade, acompanharão a conjuntura política”; e também dispara contra José Miguel Júdice, “o comentador que tem a filha [Rita Júdice, ministra da Justiça] no governo e que, com toda a imparcialidade, anuncia que não comentará a atuação do rebento mas somente do Conselho de Ministros em que ela se senta”.
“Dirá que perderam a vergonha. Nunca tiveram”, ataca Louçã.
Cecília Meireles (CDS-PP)
A antiga deputada pelo CDS-PP rejeitou, momentos mais tarde, que a popularidade de Bugalho tivesse sido o principal motivo para a escolha de Luís Montenegro: “É bastante mais do que alguém conhecido“, afirmou na Sic Notícias, acrescentando que se “tivesse de encontrar uma palavra para definir a escolha, diria garra”.
“Já foi candidato pelas listas do CDS. Está mais do que a altura. É uma escolha arrojada e sólida de alguém cujas ideias já foram testadas várias vezes“, argumentou.
Relativamente a Marta Temido e a lista do PS, Meireles diz que os socialistas estão “presos” dentro das “experiências governamentais passadas e não consegue sair”. “[O PS] conseguiu ter na cabeça de lista alguém que se demitiu por ter deixado de ter condições para ser ministra da Saúde”, recordou.
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