Alentejo prefere menos importação de vinho em vez de cortes nos apoios
Francisco Mateus indicou que, na média dos últimos cinco anos, face aos anteriores cinco, a área de vinha diminuiu cerca de 10 mil hectares e a produção aumentou 52 milhões de litros por ano.
O presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), Francisco Mateus, reconheceu esta quarta-feira que o stock de vinho por escoar é um dos problemas do setor, mas disse preferir que, a haver um travão, que seja nas importações. “Concordo com senhor ministro e com a identificação do problema, mas preferia que, a haver travagem, ela fosse feita às importações”, afirmou o dirigente desta comissão vitivinícola, em declarações à agência Lusa.
Ainda a propósito da entrevista do ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, ao jornal Público, Francisco Mateus apresentou novos dados sobre a questão dos stocks levantada pelo governante. O ministro da Agricultura alertou na entrevista para o stock de vinho por escoar e defendeu que “terá de haver um travão” nos apoios para novas plantações de vinha.
O novo governante questionou que se estejam a dar recursos financeiros para plantar vinha para depois se arrancar ou para o vinho ser destilado, adiantando que, até agora, já se gastou em destilação 60 milhões de euros. Para o presidente da CVRA, José Manuel Fernandes “está a fazer uma interpretação realista do atual contexto” e da identificação do “stock como principal problema”, mas alertou que “o cerne da questão não deve ser circunscrito à vinha”.
“Para compreender o problema do stock, ajuda-nos que a análise também considere a evolução da produção e das importações, por um lado, e as exportações e as vendas no mercado nacional, por outro”, assinalou. Recorrendo a dados do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), Francisco Mateus indicou que, na média dos últimos cinco anos, face aos anteriores cinco, a área de vinha diminuiu cerca de 10 mil hectares e a produção aumentou 52 milhões de litros por ano.
“Produzimos uma maior quantidade por hectare, sendo visível o efeito do Vitis (Regime de Apoio à Reconversão e Reestruturação da Vinha), que contribui para que as vinhas tenham maior competitividade e, é verdade, também maior produtividade, mas estamos a falar em mais 441 litros por hectare por ano”, disse.
Já as importações, segundo o responsável, “cresceram ao ritmo médio de 83 milhões de litros por ano, o que, somado ao aumento de 52 milhões de litros da produção, acrescenta 135 milhões de litros às disponibilidades”. “Nos últimos cinco anos, as vendas na exportação e no mercado nacional resultaram em mais 35 milhões de litros”, apontou, por outro lado, Francisco Mateus, notando que os dados do mercado nacional consideram estatísticas da Nielsen, que “não cobrem a totalidade das vendas, pelo que o número efetivo será superior”.
De acordo com o presidente da CVRA, a diferença entre o que se produz e o que se exporta e vende no mercado nacional, que ascende a 17 milhões de litros, “é facilmente absorvido pelas vendas que não estão cobertas pelas estatísticas e por outras utilizações, como por exemplo destilações e produção de vinagre”.
“O aumento substancial que as importações tiveram nos últimos anos trouxe para o setor, em média, mais 83 milhões de litros por ano, o que em cinco anos significa mais 400 milhões de litros de vinho”, acrescentou. Quanto ao Vitis, o responsável considerou que se trata de “uma ferramenta importante para, por exemplo, o setor fazer reconversão de castas, utilizando aquelas que são mais adaptadas às condições climáticas”.
“Mas também pode ser utilizado para a introdução de sistemas avançados de produção sustentável, o que se recomenda, mas que ainda não estamos a fazer em força no nosso país, o que justifica que seja iniciado um debate de reorientação sobre as atividades cobertas com os apoios do Vitis”, concluiu.
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