Costa responde a Marcelo: Talvez seja “autocrítica” por haver menos ponderação pelo Presidente

  • Joana Abrantes Gomes
  • 3 Maio 2024

Ex-primeiro-ministro socialista diz que interpretou as palavras de Marcelo - que o apelidou de “lento” - como "um elogio a uma forma ponderada de estar na vida e de exercer a vida política”.

As palavras de Marcelo Rebelo de Sousa num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal, nas vésperas do 25 de Abril, em que disse que Luís Montenegro tem “comportamentos rurais” e chamou “lento” a António Costa por ser “oriental”, não ofenderam o ex-primeiro-ministro. Mas são “talvez uma certa autocrítica por, não tendo esta costela oriental, muitas vezes haver menos ponderação por parte do Presidente da República”.

A reação do antigo primeiro-ministro chega uma semana e meia depois das polémicas declarações de Marcelo no encontro realizado no Palácio de Belém, publicadas por órgãos de comunicação estrangeiros. “Sou um otimista e vejo sempre o lado bom e interpretei essas palavras como um elogio a uma forma ponderada de estar na vida e de exercer a vida política“, respondeu António Costa, esta sexta-feira, a um jornalista da CNN Portugal, antes de ser entrevistado no programa da TVI “Dois às 10”.

António Costa garante não se ter sentido ofendido com as palavras do Chefe de Estado, lembrando a longa relação que mantém com este, desde que foi seu aluno na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa. “Tivemos sempre relações cordiais, fora e no exercício de funções”, sublinhou.

À CNN Portugal, o ex-primeiro-ministro considerou também que não faz sentido que “processos concretos” sejam discutidos na Assembleia da República, numa referência à eventual ida da Procuradora-Geral da República ao Parlamento. O “local próprio” para serem discutidos são “os tribunais e não uma entidade política”, disse, sugerindo que uma audição de Lucília Gago para falar de processos concretos violaria o “princípio muito claro” da separação de poderes, inscrito na Constituição.

Já durante a entrevista no programa da TVI, o antigo líder do Partido Socialista (PS) descreveu os dias seguintes ao anúncio da demissão, a 7 de novembro, como a “sensação estranha de ter sido atropelado por um comboio e ter ficado vivo, com as dores próprias do atropelamento“.

Para António Costa, é “legítimo” que os portugueses passem a ter dúvidas sobre o primeiro-ministro no momento em que a entidade máxima do Ministério Público entende que há razões para comunicar publicamente o caso. “O país pode discordar do que o primeiro-ministro faz, pode achar que é competente ou incompetente, não pode é ter dúvidas sobre a honestidade de quem exerce essa função, porque isso mina a sua autoridade“, realçou, assinalando que a sua honestidade nunca tinha sido posta em causa desde que começou a exercer funções políticas. “Isso dói”, lamenta-se.

Recusando comentar o comunicado da Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, que o levou a renunciar ao cargo de primeiro-ministro, depois de oito anos a liderar o executivo, o ex-governante socialista afirmou, ainda assim, que “a avaliação de tudo isto haverá tempo para [a] fazer”.

O ex-líder do PS lembra que, quando se demitiu, ainda não sabia dos 75 mil euros em notas encontrados no gabinete do seu então chefe de gabinete Vítor Escária, mas reconhece ter-se tratado de “uma quebra grave de confiança”. O dinheiro encontrado em São Bento, porém, “não tem nada a ver” com a Operação Influencer, aponta Costa, que tem “a convicção que neste processo Vítor Escária não fez nada de incorreto”.

Questionado sobre qual o período mais difícil dos oito anos de governação, Costa é perentório: “Foram os últimos dois anos com a inflação”, durante os quais “a pressão era muito grande” e havia “desgaste acumulado”, a par com “o impacto brutal que tinha na vida das pessoas” e a “falta de ferramentas”. Uma maioria absoluta — o que o PS havia alcançado nas legislativas de 2022 — tem “virtualidades”, mas não resolve problemas como a inflação, brincou.

O antecessor de Luís Montenegro recusou também comentar a atualidade. “Passar de comentado a comentador requer algum tempo“, afirmou António Costa na entrevista conduzida por Cristina Ferreira, dias depois de ter sido anunciado como um dos comentadores do novo canal de informação NewsNOW, da Medialivre.

Não obstante, considera que as eleições “ocorreram no pior momento possível para quem estava a governar”, pois a “inflação estava a ceder visivelmente”. E, num comentário ao crescimento eleitoral do Chega, apontou o dedo ao papel da comunicação social: “Os partidos populistas acabam por ter uma hiper atenção que os hiper valoriza“. “Damos mais atenção aos 18% que votaram no Chega do que aos 82% que não votaram no Chega”, critica.

Costa recusou ainda comentar a escolha de Marta Temido para encabeçar a lista do PS às eleições europeias, dizendo apenas que acompanha a atualidade pela comunicação social. “É uma página na vida que virei”, mas isso não significa o fim da sua vida política. “Não está terminada. E não tenho nenhuma agrura.”

Repetiu o “nunca na vida” a uma candidatura ao Palácio de Belém, contudo, a presidência do Conselho Europeu já “depende das circunstâncias”, ainda que, com um processo pendente, seja “muito difícil essa solução” e “os tempos da Justiça são os tempos da Justiça”, reiterou o ex-primeiro-ministro.

(Notícia atualizada às 13h42)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Costa responde a Marcelo: Talvez seja “autocrítica” por haver menos ponderação pelo Presidente

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião