Investimento “astronómico” em tecnologia na defesa tem impacto em todos os setores

Os CEO da Luz Saúde, Pestana e Banco Montepio reconhecem o potencial da IA, mas alertam que é preciso escala para financiar esta transformação tecnológica, que é transversal a todos os setores.

 

Os Estados Unidos estão a investir milhares de milhões em tecnologia no setor da defesa, um investimento que está a criar tecnologia transversal a todos os setores e que vai permitir ao país continuar a liderar desenvolvimento tecnológico a nível mundial, defende Isabel Vaz. Para a CEO do Grupo Luz Saúde, temos como a inteligência artificial estão a ter impacto em todos os negócios e as empresas precisam de escala para responder a estes novos desafios da inovação.

PwC CEO Survey - 10MAI24
PwC CEO SurveyHenrique Casinhas/ECO

O investimento brutal a nível mundial na indústria da defesa vai impactar muito rapidamente todos os outros setores“, referiu esta manhã a CEO do Grupo Luz Saúde, a falar num painel de debate na apresentação do 27.º CEO Survey, num evento organizado pela PwC e pelo ECO. Referindo-se ao impacto das guerras no investimento no desenvolvimento tecnológico, Isabel Vaz destacou que os Estados Unidos estão a investir “centenas de biliões que vão ter impacto” e criar tecnologia transversal a todos os setores, inclusive na saúde.

Para a líder do grupo que detém o Hospital da Luz, esta aposta no desenvolvimento de novas tecnologias vai permitir que os “EUA continuem na linha da frente no desenvolvimento da tecnologia. A quantidade que se está a investir é absolutamente astronómica“.

Referindo-se ao caso concreto do grupo que dirige, Isabel Vaz referiu que a Luz Saúde está a trabalhar naquilo que chama “consultórios do futuro” para que os médicos não percam demasiado tempo no computador, mas alertou que “os médicos e a medicina é tremendamente conservadora na utilização de tecnologia”. “Os médicos são muito cuidadosos porque é preciso provar o valor que isso traz, um erro tem consequências estrondosas”.

“Alguns cuidados” na banca

Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio, lembrou a “disrupção enorme” a que a banca tem estado sujeita nos últimos anos, adiantando que temas como a Inteligência Artificial vão acrescentar valor ao negócio, mas há que “ter alguns cuidados”, realçando riscos nomeadamente ao nível da proteção de dados.

O líder do Montepio lembrou ainda que o setor enfrenta “aspetos de assimetria que são muito importantes”, referindo que os bancos estão no mercado nacional com outros players que estão “sujeitos a regulações menos exigentes”.

Quanto ao negócio da banca, Pedro Leitão explicou ainda que os bancos têm vindo a transformar-se para responder às novas exigências de mercado e dos clientes. “70% dos clientes não põe os pés no balcão“, reconhece. Ora, isto implica um grande investimento em call centers, sistemas de processamento de fraude, aprovação de crédito ou monitorização de processo. E aqui a parte generativa poderá traz oportunidades, mas também tem riscos.

Em termos de pessoas, há “funções que desaparecem” e há pessoas que terão que ser “reconvertidas”, admite.

Turismo em reinvenção

Também o setor do turismo tem vindo a adaptar-se à grande inovação tecnológica nos últimos anos. “O setor do turismo tem-se reinventado ao longo deste tempo”, reconhece José Theotónio, CEO do Grupo Pestana.

Segundo José Theotónio, enquanto há cinco ou seis anos 60% dos clientes chegavam através dos operadores tradicionais, “hoje vai representar menos de 10%”. “As empresas que não têm escala para fazer a tal transição digital, criam relação de dependência completa destas plataformas eletrónicas”, alerta, notando que apenas com escala as empresas conseguirão fazer face a este desafio.

Os investimentos que fazíamos em tecnologia em 2016 eram quatro milhões euros por ano. Este ano praticamente é o triplo: mais de 12 milhões”, detalha.

Para o CEO do Pestana, as empresas do setor do turismo enfrentam ainda outro importante desafio: contratar e reter talento. Para isso é necessário que haja condições para atrair as pessoas. No caso concreto do Pestana, o grupo para uma remuneração bruta mínima de 1.200 euros, acima dos salário médio de 1050/1100 pagos no setor no país.

Perante esta grande transformação tecnológica a nível global, os empresários reforçam a importância da dimensão, argumentando que as empresas precisam de escala para financiar esta mudança.

“A escala das empresas é fundamental. Não sejamos atrapalhados por ter escala para fazer mais coisas”, apontou Isabel Vaz, lamentando que “quão maior uma empresa é mais impostos tem que pagar”. “Temos de ser amigos das empresas grandes“.

Já Pedro Leitão aplaudiu a vontade do ministro da Economia, Pedro Reis, de colocar o Banco Português do Fomento, defendendo o “papel de centralidade que o Banco do Fomento tem que ter na parceria com banca tradicional” e o Banco do Fomento “volte a ter o foco para que foi criado”, capacitado com capital e “alinhado com o que são necessidades das empresas”.

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