Cegid quer criar tecnologia que vai mudar o mundo a partir de Braga

Responsável do gigante de soluções de software, que comprou o grupo Primavera, acredita que a IA tem potencial para mudar o mundo. Do centro de Braga vai desenvolver soluções para todo o planeta.

Reportagem na Cegid - 22ABR24
Edifiício da Cegid, em BragaRicardo Castelo/ECO

 

Imagine que trabalha numa empresa com centenas de funcionários e cabe-lhe a tarefa de confirmar todos os recibos de ordenado. Parece uma tarefa impossível? Não se tiver uma ajuda. A Cegid tem um programa que permite verificar, de forma automática, se há anomalias nos recibos. Este é apenas um exemplo das soluções que o gigante global de software, que comprou o Grupo Primavera e que emprega 500 pessoas no país, está a desenvolver com recurso à Inteligência Artificial Generativa (IA Generativa) e que agora concentra em Braga o desenvolvimento destas soluções. A partir da capital minhota, o grupo vai exportar IA para todo o mundo.

No icónico edifício espelhado, situado junto ao Minho Center, na cidade de Braga o nome Primavera mantém-se bem visível no topo da sede da Cegid em Portugal, que foi desenvolvido pela Castro Group e chegou a receber a nomeação internacional WAF – World Architecture Festival. A multinacional francesa, que concluiu a aquisição do Grupo Primavera em 2022, depois de Jorge Batista e José Dionísio terem vendido a empresa ao fundo britânico Oakley Capital Investments, em 2021, tem em Portugal uma das apostas do grupo.

“Estamos envolvidos em algumas iniciativas”, reconhece Pedro Vale, vice-presidente de Engenharia para a área de IA e Data na Cegid. O responsável pelo novo centro de IA do grupo explica que a decisão de criar em Portugal esta divisão surge na sequência de um trabalho inicial para “centralizar tudo o que se fazia em IA, tanto em Portugal, como em França” e que culminou com a escolha de Portugal para reunir uma equipa dedicada à Iniciativa Artificial.

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Área de inteligência artificial (IA) e Data da Cegid, em BragaRicardo Castelo/ECO

“Havia iniciativas que já tinham começado e estavam concentradas em várias áreas da empresa e que trouxemos para aqui.” Ainda em fase de arranque, Pedro Vale, que lidera o centro de IA situado em Braga a partir de Lisboa, confirma que o centro vai “levar as tecnologias de IA para linhas de produto num âmbito global. Em todos os produtos que a Cegid oferece em todas as linhas de negócio.”

“O lançamento deste centro de expertise é uma das iniciativas mais alinhadas com a estratégia global da Cegid, uma estratégia global forward-IA. Transformar a Cegid numa empresa IA led”, explica o mesmo responsável, que esteve em Braga reunido com a equipa e o CTO do grupo.

Segundo Pedro Vale, a estratégia da Cegid é “focada na IA e este centro é uma parte fundamental nisso”. Para já, a empresa está a desenvolver “várias iniciativas na área dos assistentes virtuais, chatpots, capazes de responder a perguntas sobre o produto, ajudar os utilizadores a usarem melhor o produto, ou mesmo responderem perguntas sobre dados do utilizador”. “Por exemplo, estão aqui as minhas vendas no último ano por região, indica-me se há alguma anomalia”, exemplifica.

Há ainda projetos na área do payroll, também na ótica de conseguir detetar anomalias. É aqui que entra o programa para gerir o processamento de salários de empresas com centenas ou milhares de empregados. “Conseguimos ter uma forma automática de detetar anomalias e sinalizar à pessoa responsável. É uma situação que ocorre com alguma frequência.”

“A maior parte [das soluções] está em desenvolvimento. Já disponibilizamos para os nossos utilizadores um assistente virtual, um produto de Espanha, que é o contasimple. Temos também um assistente em França que responde a perguntas sobre fiscalidade”, resume o vice-presidente de Engenharia para a área de IA e Data na Cegid. “Parte do trabalho que estamos a fazer é construir um modelo de IA centralizado. Construir uma plataforma centralizada, onde possamos disponibilizar serviços para serem consumidas pela linha de produto”, acrescenta.

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Área de inteligência artificial (IA) e Data da Cegid, em BragaRicardo Castelo/ECO

Apesar da existência de uma equipa especializada em IA, o desenvolvimento de novas soluções pode funcionar num modelo de consultoria e mentoria, “em que estamos a ajudar as equipas a fazerem eles próprios e damos linhas orientadoras, lançamos protótipos”. Mas esta é uma área onde está (quase) tudo por descobrir. “Estamos todos a tentar descobrir quais são as grandes mais-valias que IA traz. Há muita coisa para descobrir”, reconhece o responsável.

A IA vai mudar o mundo? “Acho que tem potencialidade para isso. Bill Gates tem um artigo onde diz que já assistiu a três grandes revoluções tecnológicas. A primeira foi a utilização do computador pessoal, a segunda a Internet e agora o ressurgimento da IA.” “Concordo que é uma tecnologia que tem a potencialidade de mudar o mundo tal como as outras duas mudaram. Ou de uma forma ainda mais impactante”, assegura Pedro Vale.

Uma das principais potencialidades desta tecnologia é automatizar tarefas que consomem entre 60 a 70% do tempo dos colaboradores das empresas. A IA automatiza tarefas repetitivas (eliminando erros humanos), analisa rapidamente grandes quantidades de dados, identifica anomalias e pode mesmo prever problemas antes que ocorram, contribuindo para uma gestão ágil, proativa, que liberta tempo das várias equipas para que se possam concentrar em atividades mais complexas e de maior valor acrescentado.

Há riscos sempre que delegamos uma decisão que pode afetar a vida de uma pessoa numa máquina há riscos.

Pedro Vale

Vice-Presidente de Engenharia para a área de IA e Data na Cegid

Uma vantagem é a “IA ser uma extensão do utilizador. Expandem as capacidades do utilizador. Permite-nos fazer coisas que humanamente não eram possíveis. Não é humanamente possível esperar que alguém consiga fazer corretamente uma validação de salários de centenas de empregados”, destaca. O resultado são ganhos de eficiência e de produtividade.

Do lado dos riscos, Pedro Vale refere que os “riscos maiores são a legislação que a UE passou recentemente”. “Há riscos sempre que delegamos uma decisão que pode afetar a vida de uma pessoa numa máquina há riscos”, reconhece. “Olhamos para a IA como um apoio à decisão”, remata.

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