Como estão a investir as famílias mais ricas do mundo

Os family offices estão a alterar significativamente a exposição das suas carteiras por conta das tensões geopolíticas. As obrigações de alta qualidade são só uma dessas novas apostas dos gestores.

No universo das finanças, as boutiques de investimento familiares (family offices) representam um grupo distinto e poderoso de investidores. Segundo um relatório do UBS, 320 dos principais family offices globais, que gerem uma riqueza superior a 600 mil milhões de dólares, revelam que, extraordinariamente, fizeram mudanças significativas nos seus portefólios em 2023 e que continuarão a equilibrar as suas carteiras ao longo deste ano.

Segundo a quinta edição anual do “Global Family Offices” da UBS, publicada esta quarta-feira, as famílias mais ricas do mundo estão a ajustar as suas carteiras de investimento, focando-se em ativos que garantam estabilidade e crescimento sustentável. Isto sucede porque a sua principal preocupação é a ameaça de um conflito geopolítico de grande escala, em função dos acontecimentos recentes na Ucrânia e no Médio Oriente. Este receio é partilhado globalmente, mas há também um foco crescente nos riscos associados às alterações climáticas e ao elevado nível de dívida pública, especialmente a longo prazo, na orientação das suas estratégias de investimento.

“Os family offices estão mais preocupados com o perigo de um grande conflito geopolítico, tanto a curto como a médio prazo”, destacam George Athanasopoulos e Benjamin Cavalli, do UBS, notando ainda que, “num horizonte de cinco anos, consideram também as alterações climáticas como um risco de topo, a par dos elevados níveis de endividamento.”

Observamos que a decisão de investimento no tópico da sustentabilidade é fortemente influenciada pela próxima geração das famílias.

Benjamin Cavalli

Responsável pelo Global Wealth Management Strategic Clients do UBS

Embora os conflitos geopolíticos continuem a ser a principal preocupação (62%) das famílias mais ricas do mundo para o próximo quinquénio, quase metade (49%) está preocupada com as alterações climáticas e quase a mesma percentagem (48%) mostra-se receosa com uma crise da dívida dos países, “numa altura em que os países ocidentais estão sobrecarregados com elevados níveis de dívida pública que podem parecer insustentáveis”, lê-se no relatório.

Em resposta a estes riscos, o relatório do UBS revela que 2023 foi marcado por mudanças significativas na alocação de ativos nas carteiras destas famílias. “Houve um aumento notável na alocação para obrigações de mercados desenvolvidos, a maior dos últimos cinco anos”, referem os responsáveis do UBS.

Esta mudança é vista como uma resposta ao aumento das yields das obrigações e uma forma de reequilibrar as carteiras. Por outro lado, a alocação de capital no setor imobiliário diminuiu no último ano , refletindo a correção dos preços dos imóveis comerciais em várias regiões.

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Principais apostas para os próximos anos

A diversificação continua a ser uma estratégia central na alocação das carteiras destes family offices que gerem cerca de metade da fortuna das famílias mais ricas do mundo, que apresentam uma riqueza média de 2,6 mil milhões de dólares.

O relatório do UBS revela também que estas boutiques de investimento estão a apostar mais na gestão ativa para diversificar os seus portefólios, aproveitando a divergência no desempenho entre ações de diferentes setores e regiões geográficas. Além disso, destaca também que há uma preferência crescente por obrigações de alta qualidade (investment grade) e de curta duração, especialmente nos EUA, para mitigar a volatilidade dos portefólios.

Os investimentos em private equity mantêm-se como uma aposta robusta, com um equilíbrio entre investimentos diretos em empresas e projetos, mas também por meio de fundos de investimento ou através de fundos de fundos. “Não houve uma crise nestas classes de ativos”, salienta Benjamin Cavalli, na apresentação do relatório à imprensa. No entanto, há uma expectativa de redução nos investimentos diretos em 2024, com um aumento na alocação para fundos, por via a procurar uma maior diversificação e liquidez.

Os EUA e a Ásia-Pacífico (excluindo a Grande China) deverão ser os principais destinos das novas alocações [dos gestores], com mais de um terço a pretender aumentar as aplicações a cada uma destas regiões, respetivamente, nos próximos cinco anos.

Global Family Office Report 2024

UBS

A sustentabilidade está também a tornar-se um fator crítico na estratégia de investimento dos family offices, considerando essa uma temática como “uma questão essencial de risco e de oportunidade”, lê-se no relatório. Muitos gestores entendem as alterações climáticas como um risco significativo e estão a integrar critérios ESG (Environmental, Social, and Governance) nas suas estratégias de investimento. “Observamos que a decisão de investimento no tópico da sustentabilidade é fortemente influenciada pela próxima geração das famílias”, destaca Benjamin Cavalli, em declarações aos jornalistas.

O investimento em tecnologia continua igualmente a ser uma tendência forte, com a inteligência artificial generativa a liderar como “o tema de investimento mais popular para os próximos dois a três anos.” A saúde e a automação e robótica seguem de perto esta tendência, refletindo a confiança nos setores que impulsionam a inovação e a eficiência.

Geograficamente, os family offices mantêm uma forte alocação das suas carteiras nos EUA, “atraídas pela resiliência económica e pelas oportunidades apresentadas pelo setor tecnológico”, justificam os autores do relatório.

A região da Ásia-Pacífico (excluíndo a China) também está a ganhar destaque na carteira dos gestores, com previsões de aumentos significativos na alocação de capital nos próximos cinco anos. “Os EUA e a Ásia-Pacífico (excluindo a Grande China) deverão ser os principais destinos das novas alocações [dos gestores], com mais de um terço a pretender aumentar as aplicações a cada uma destas regiões, respetivamente, nos próximos cinco anos”, destaca o relatório do UBS.

No entanto, continua a verificar-se uma forte tendência para o investimento doméstico, especialmente nos EUA. “Esta tendência de home bias reflete a familiaridade e a confiança nos mercados regionais, apesar das oportunidades globais”, refere o relatório.

Por exemplo, os family offices norte-americanos têm, em média, 82% das carteiras alocadas a ativos sediados na América do Norte e apenas 8% na Europa Ocidental, enquanto os europeus têm uma exposição de 38% dos seus portefólios à América do Norte e 49% à Europa Ocidental.

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