Uma visão holística aos riscos nas empresas
Além do foco na operação, processos, sistemas, ferramentas e tecnologia, hoje as organizações devem priorizam também os riscos diretamente relacionados com as pessoas.
A resiliência organizacional continua a ganhar terreno na agenda dos executivos enquanto elemento essencial para a competitividade e sustentabilidade das organizações. Esta resiliência era tradicionalmente vista como a capacidade de responder aos desafios e capitalizar oportunidades à medida que surgiam, para equilibrar, com sucesso, os riscos e as recompensas. Mas os últimos anos provaram que a evolução e impacto dos riscos têm o potencial de paralisar ou galvanizar uma organização da noite para o dia, fazendo com que as abordagens tradicionais e reativas à gestão do risco se tornem incompletas ou até mesmo obsoletas.
A adoção de abordagens mais proativas e preventivas tem assim o seu papel fundamental na construção desta resiliência organizacional. Mas acreditamos que uma visão mais holística sobre o próprio conceito de risco seja o motor para uma organização verdadeiramente prosperar. Além do foco na operação, processos, sistemas, ferramentas e tecnologia, hoje as organizações devem priorizam também os riscos diretamente relacionados com as pessoas para garantir a sua sustentabilidade e resiliência.
Se dados como “81% dos colaboradores sentem-se em risco de burnout” pelo terceiro ano consecutivo e “48% dos RH referem haver escassez de competências críticas ao negócio” não forem devidamente mapeados na lista de riscos organizacionais com as respetivas estratégias de mitigação, é inevitável que mais cedo ou mais tarde se pague a conta. As evidências mostram que as pessoas podem prosperar de forma saudável fora de uma empresa específica (exemplo disso é o crescimento exponencial da gig economy), mas uma empresa não consegue sobreviver no longo prazo sem uma comunidade de talento saudável.
Na sua nona edição, uma das quatro tendências mapeadas pelo Mercer Global Talent Trends 2024 é “Boost the corporate immune system”, que se traduz na urgência de as organizações construírem culturas resilientes com equipas conscientes dos riscos e saudáveis na sua essência para promover a resiliência corporativa de longo prazo. Para atingir esta ambição, três mudanças são relevantes numa organização:
- Proatividade. Gerir riscos de forma proativa e mais ampla pode mitigar a exposição e o impacto dos riscos. Além do conceito alargado de riscos e do respetivo planeamento de cenários, torna-se mais eficiente criar uma responsabilidade partilhada entre todos os stakeholders (executivos, liderança, colaboradores, parceiros e clientes) para o mapeamento e antecipação dos riscos, criando as devidas ações de sensibilização e capacitação para agirem perante indicadores de alerta iniciais.
- Predição. Análises e modelagem de cenários cada vez mais sofisticadas permitem uma tomada de decisão mais informada baseada em dados sobre mitigação, transferência e gestão de riscos. Tirar partido da IA e evoluir para análises preditivas é fundamental para permanecer um passo à frente.
- Responsabilidade. O reconhecimento e o reforço de uma cultura consciente dos riscos começa no topo. Este ano, 50% dos executivos têm métricas de saúde e bem-estar dos colaboradores nos seus scorecards, e, curiosamente, menos executivos estão a ser avaliados em termos do custo total do trabalho (de 35% em 2022 para 23% hoje), o que pode sinalizar uma mudança de mentalidade de que os investimentos em pessoas compensam.
Para reflexão, deixamos uma última mensagem para os atuais e futuros executivos das organizações. Modelos que privilegiam exclusivamente os acionistas, seguidos por líderes de referência internacional, como Jack Welch, antigo CEO da General Eletric, apelidado de “Gestor do Século” em 1999 pela Forbes, onde impera a visão de “redução de custos de pessoas para proteger o retorno dos acionistas”, foram não só responsáveis por grandes crescimentos financeiros, mas essencialmente por fenómenos como a quebra do “contrato de lealdade”, quiet quitting e turnover acelerado.
Modelos multi-stakeholder, que equilibram a empatia humanizada com a preocupação financeira, surgem consequentemente como uma solução para tomadas de decisão mais eficientes e impactantes para a resiliência organizacional, promovendo um compromisso, responsabilização, colaboração e confiança entre ambas as partes – colaboradores e organização.
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