Corte das taxas de juro do BCE abre caminho para novas subidas na bolsa

O BCE deverá cortar as taxas de juro pela primeira vez mais de 4 anos. Apesar dos investidores estarem a antecipar a decisão, é expectável que os principais índices acionistas reajam positivamente.

A reunião do Conselho do Banco Central Europeu (BCE) desta quinta-feira está prestes a marcar uma viragem histórica na política monetária da Zona Euro dos últimos anos. Se as expectativas da grande maioria dos investidores e analistas confirmarem-se, o BCE deverá realizar o primeiro corte das taxas diretoras em quase cinco anos, após um ciclo de 10 subidas consecutivas do preço do euro em 450 pontos base, entre julho de 2022 e setembro de 2023.

A probabilidade implícita ao primeiro corte de juros pelo BCE já está cristalizada nas avaliações com que negoceiam os ativos europeus, com o mercado a atribuir 99% para um corte de 25 pontos base na sessão de 6 de junho próximo”, refere João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, sublinhando que o “o tema agora é o discurso sobre os próximos movimentos em baixa e o programa de vendas de ativos porque tendem a afetar a oferta monetária na Zona Euro.”

Apesar disso, João Queiroz vaticina que os índices acionistas possam reagir positivamente ao corte das taxas de juro do BCE, “com mais um aumento das cotações das ações, atendendo que o mais baixo preço do dinheiro torna as ações mais atrativas relativamente a outros investimentos, como obrigações.”

Desde o início do ano, as 50 maiores empresas da Zona Euro presentes no índice Eurostoxx50 acumulam uma valorização de 14,3% e o Stoxx600 (que agrega 600 empresas de 17 países europeus) regista uma valorização de 11,4%.

Essa é também a visão dos analistas do Goldman Sachs, utilizando como proxy o mercado norte-americano após um corte de taxas da Fed e outras variáveis, dado o limitado histórico da política monetária do BCE (25 anos). “A reação imediata após um corte de taxas tende a ser positiva”, destacam os analistas do banco de investimento norte-americano numa nota enviada aos seus clientes a 31 de maio, sublinhando ainda que, “à medida que a situação financeira se atenua, os investidores tornam-se normalmente mais otimistas quanto ao crescimento” das empresas.

De acordo com cálculos de Guillaume Jaisson e de mais quatro analistas do Goldman Sachs com base em dados recolhidos desde a década de 1980, as ações europeias subiram, em média, 2% no mês seguinte a um corte da Fed, cerca do dobro do desempenho das ações num determinado mês.

Além disso, os analistas do banco de investimento destacam que as ações cíclicas têm, em média, um desempenho de 1% acima das ações defensivas, enquanto as ações dos bancos mantêm-se estáveis e os títulos das empresas de consumo registam uma correção na ordem de 1% após um corte das taxas de juro.

Efeito a política monetária no longo prazo

Alongando o horizonte, os cortes das taxas de juro têm um impacto ainda maior sobre a cotação das ações. Segundo cálculos de Christian Gattiker e de mais três analistas do Julius Baer, com base no comportamento dos mercados ao longo dos últimos 40 anos, o desempenho do S&P 500 nos 12 meses seguintes ao primeiro corte da taxa de juro da Fed é, em média, de 14,2%, superando o retorno médio anual do índice. “Isto sugere que, na ausência de uma recessão, os ciclos de corte de taxas tendem a ser acompanhados por fortes retornos em ações”, referem os analistas.

Contudo, cada ciclo é único e o contexto atual não é exceção. “O corte de 25 pontos base nas taxas de juro é mais do que esperado e não deverá ter impacto nos mercados”, vaticina Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, destacando que “já o discurso de Lagarde acerca do futuro da política monetária poderá ter mais efeitos”.

Porém, Filipe Garcia refere também que não está “à espera de nada de muito diferente do que tem sido dito nas últimas semanas, ou seja, que poderá haver mais cortes ao longo do ano, mas dependentes dos dados económicos a divulgar”, levando o economista a considerar como cenário central a realização de corte de taxas em junho e outro em setembro, “e dúvidas sobre o que acontecerá em dezembro.”

Com implicações imediatas a qualquer movimentação das taxas de juro está o mercado cambial. O iene japonês, por exemplo, enfraqueceu com a recente mudança política do banco central, mas é expectável um fortalecimento da moeda nipónica, quando os bancos centrais ocidentais cortarem as suas taxas.

Enquanto a expectativa geral aponta para uma reação positiva nos mercados acionistas à decisão do BCE em cortar as taxas diretoras, especialmente para ações cíclicas, as nuances do contexto económico atual podem trazer surpresas.

Também o franco suíço enfraqueceu após o Banco Central da Suíça ter surpreendido os mercados com um corte das taxas, “mas acreditamos que o enfraquecimento adicional do franco a partir daqui é limitado”, consideram os analistas do Julius Baer, revelando ainda que “o lado positivo também é limitado, uma vez que a desvantagem da taxa de juros do franco deve permanecer praticamente inalterada este ano, com o Banco Central da Suíça e o BCE cortando as taxas mais ou menos em conjunto.”

A reunião do Conselho BCE desta quinta-feira promete ser um marco na política monetária da Zona Euro, potencialmente encerrando um ciclo de aumentos nas taxas de juro e iniciando uma nova fase de cortes. Com o mercado já a prever um corte de 25 pontos base, a atenção volta-se agora para os próximos passos da política monetária e para o discurso da presidente Christine Lagarde.

Enquanto a expectativa geral aponta para uma reação positiva nos mercados acionistas à decisão do BCE em cortar as taxas diretoras, especialmente para ações cíclicas, as nuances do contexto económico atual podem trazer surpresas.

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