Direita ganha peso na Europa. E agora?
Os resultados das eleições europeias sinalizam um reforço da direita no cenário político da União Europeia, com uma subida das forças conservadoras e nacionalistas, exigindo agora novas alianças.
Os resultados das eleições europeias sinalizam uma mudança para a direita no cenário político da União Europeia, com uma subida de partidos conservadores, mas também a ascensão de forças nacionalistas, exigindo alianças e acordos que outrora não existiam, troazendo à tona um cenário político marcado por significativas mudanças no equilíbrio de poder dentro da União Europeia.
Ainda assim, o grande vencedor destas eleições foi o Partido Popular Europeu (PPE), que consolidou a sua posição como o maior grupo no Parlamento Europeu, com uma projeção de 184 assentos, um aumento de 13 lugares em relação a 2019. Esta vitória reafirma o PPE (que integra os deputados do PSD e CDS) como a força centrista dominante e uma peça-chave na definição das políticas europeias.
Um dos primeiros testes será a reeleição de Ursula von der Leyen como Presidente da Comissão Europeia, que necessitará do apoio de uma coligação diversificada para assegurar o seu mandato.
No domingo, pouco depois dos primeiros resultados provisórios, Manfred Weber, líder do PPE, em Bruxelas, no centro do hemiciclo, destacou a importância do partido na representação das áreas industriais e rurais da Europa, enfatizando a sua agenda pró-desenvolvimento económico e agrícola.
Segue-se o grupo dos Socialistas e Democratas (S&D) — inclui os deputados do PS –, que conquistou 137 deputados, menos dois face à anterior legislatura. Desta forma, o PPE e o S&D ocuparão 45% dos 720 lugares do Parlamento Europeu ao longo da próxima legislatura de cinco anos.
No entanto, o grande destaque destas eleições europeias foi a ascensão dos partidos de extrema-direita, que fizeram avanços significativos, especialmente em países como França.
O Rassemblement National de Marine Le Pen obteve 31,5% dos votos em França, um resultado que levou o Presidente Emmanuel Macron a dissolver a Assembleia Nacional e a convocar eleições legislativas antecipadas. Em Itália, o Fratelli d’Italia de Giorgia Meloni alcançou 28% dos votos, consolidando a sua posição como um dos principais influenciadores da política europeia.
No Parlamento Europeu, a identidade e Democracia (ID) — que integra o Chega — e os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), grupos de direita e eurocéticos, obtiveram conjuntamente 131 assentos (18,2% dos eurodeputados), de acordo com as mais recentes projeções. No entanto, a falta de coesão entre os partidos de extrema-direita poderá dificultar a formação de uma frente unida, apesar da sua influência crescente.
No canto dos derrotados está o grupo liberal Renew Europe (que agrega os deputados do Iniciativa Liberal), que sofreu uma queda de 23%, passando de 102 para 80 assentos, refletindo uma diminuição do apoio a figuras pró-União Europeia como Emmanuel Macron. Esta perda foi particularmente notável em França, onde a derrota levou Macron a tomar medidas drásticas para tentar recuperar a confiança dos eleitores.
Nas famílias europeias, os partidos ecologistas sofreram uma derrota pesada, uma queda significativa de 23%, com os Verdes/ALE a deterem atualmente uma projeção de 52 assentos, uma redução de 18 lugares em comparação com a eleição anterior. As perdas foram mais acentuadas na Alemanha e em França, onde a agenda ambiental não conseguiu mobilizar os eleitores de forma eficaz.
Impactos nas lideranças europeias
Os resultados das eleições europeias tiveram repercussões imediatas nas políticas nacionais de vários Estados-membros. Em França, a derrota de Macron levou a uma reconfiguração política, enquanto na Alemanha o desempenho medíocre do Partido Social-Democrata de Olaf Scholz, que obteve apenas 13,9% dos votos, refletiu uma insatisfação crescente com o atual governo alemão, deixando o país politicamente dividido em duas partes, justamente na fronteira entre a antiga República Democrática Alemã e a República Federal da Alemanha: se nos antigos Estados federais dominaram as forças da CDU e da CSU, nos novos Estados (a leste) foi a AfD (Alternativa para a Alemanha) a liderar.
Na Polónia, o partido de centro-direita de Donald Tusk conseguiu uma vitória apertada, mas significativa, sinalizando um ressurgimento das forças democráticas, num período marcado por uma ascensão dos partidos nacionalistas e populistas. E em Espanha, o Partido Popular conseguiu superar os socialistas, refletindo um voto de desconfiança na administração de Pedro Sánchez.
A nova composição do Parlamento Europeu, que agora será constituído por 720 eurodeputados face aos 705 da anterior legislatura (como resultado da revisão dos cadernos eleitorais com a saída do Reino Unido da União Europeia a 31 de janeiro de 2020), apresenta assim desafios significativos para a formação de coligações e a aprovação de políticas. A ausência de uma maioria clara exigirá negociações constantes entre os diferentes grupos para garantir a governabilidade.
Um dos primeiros testes será a reeleição de Ursula von der Leyen como Presidente da Comissão Europeia, que necessitará do apoio de uma coligação diversificada para assegurar o seu mandato.
Além disso, a continuidade do “Green Deal” e outras políticas ambientais estará em jogo, dependendo da capacidade dos partidos ecológicos e dos seus aliados influenciarem a agenda legislativa. A guerra na Ucrânia, o conflito no Médio Oriente e as preocupações com a imigração continuarão a moldar as prioridades políticas e as decisões do Parlamento Europeu.
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