Guerra comercial pode pressionar preços nos EUA e travar Europa, alerta economista-chefe do Goldman Sachs
Jan Hatzius, economista-chefe do Goldman Sachs, alerta no Fórum do BCE para os riscos de uma nova guerra comercial, prevendo mais inflação nos EUA e queda no crescimento da Zona Euro.
Num momento em que a escalada das políticas protecionistas por vários países e blocos económicos gera preocupações sobre o comércio internacional e o crescimento global, a intervenção de Jan Hatzius, economista-chefe do Goldman Sachs, no Fórum anual do BCE ganhou especial relevância e atenção da plateia.
“Uma nova guerra comercial implica potencialmente mais divergência na política monetária, porque é provável que aumente mais a inflação nos EUA, mas afete mais o crescimento na Zona Euro”, afirmou Hatzius, que é também conhecido no universo financeiro como um dos analistas com as previsões mais assertivas
Hatzius apresentou um cenário hipotético de escalada nas tensões comerciais nos próximos tempos, atendendo a algumas das propostas que foram apresentadas pelos conselheiros do ex-presidente Donald Trump, “como uma tarifa de 10% sobre todos os parceiros comerciais dos EUA, bem como uma tarifa de 60% sobre a China”. Segundo o economista-chefe do Goldman Sachs, “isso elevaria a uma taxa efetiva sobre todas as importações dos EUA em cerca de 16 pontos percentuais.”
Embora destacando a muita incerteza sobre o que realmente acontecerá, Hatzius sublinha a importância de considerar os potenciais impactos destas medidas. “Queremos analisar um cenário potencial em que os EUA impõem uma tarifa de 10% sobre todas as importações. Outros países retaliam, aumentando as suas tarifas sobre as importações dos EUA em dez pontos percentuais”, detalhou o economista que ganhou fama em 2008 ao avisar as hipotecas tóxicas provocariam uma recessão, e mais recentemente quando previu uma “aterragem suave” da economia mundial no final de 2022, quando muitos temiam que uma recessão fosse inevitável.
O economista do Goldman Sachs apresentou uma análise minuciosa dos efeitos na inflação e no crescimento. “Quando somamos todos estes efeitos obtemos um impacto pequeno na Zona Euro de um décimo de ponto percentual e 1,1 pontos percentuais nos EUA “, disse Hatzius, referindo-se ao impacto inflacionário. Mas quanto aos efeitos no crescimento, Hatzius prevê um cenário mais sombrio para a Europa: “Obtivemos um impacto de 1% no PIB da Zona Wuro e de 0,5% no PIB dos EUA”, diz.
O economista também abordou as implicações para a política monetária, sugerindo que qualquer política mais protecionista poderá levar a uma maior divergência entre as políticas do BCE e da Reserva Federal norte-americana (Fed). “Encontramos um pequeno efeito dovish na política monetária da Zona Euro, equivalente a cerca de 30-30 pontos base, e um efeito hawkish mais significativo para os EUA, equivalente a cerca de 110 pontos base”, explicou.
Hatzius concluiu a sua apresentação alertando para os riscos e incertezas em redor deste cenário. “Há obviamente muitos riscos em torno disto. Delineei um cenário onde há muitas suposições. Há muitas variações potenciais destes cenários”, afirmou, deixando claro que a situação poderia evoluir de várias formas diferentes.
O Fórum anual do BCE está a decorre em Sintra até quarta-feira, contando na lista de participantes e de convidados com governadores de bancos centrais, académicos e especialistas do mercado financeiro para discutir os desafios mais relevantes da economia global.
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