Liderança: a arte de conduzir com o coração
A liderança está longe de ser uma habilidade inata ou uma questão de autoridade, é uma jornada emocional.
Num mundo onde a velocidade da mudança é a única constante, a liderança emerge como um farol de orientação, não apenas para guiar, mas para inspirar, motivar e, acima de tudo, conectar.
Na jornada que empreendi na construção de um projeto particular — e que me desafiou a assumir um papel totalmente inesperado sobre a liderança — foi sem qualquer experiência prévia no setor da construção civil que me encontrei a liderar uma equipa com características peculiares. Confrontada com a tarefa de liderar essa equipa masculina, esbarrei em resistências enraizadas, não só no preconceito de género, mas igualmente na relutância em aceitar novas lideranças. As primeiras interações com a equipa foram marcadas por enormes desafios: as minhas perguntas eram frequentemente ignoradas e as minhas instruções, inicialmente, encontravam sempre resistência em serem aceites.
No entanto, com enorme determinação e um desejo profundo de aprender, mergulhei de cabeça neste projeto. Com o tempo, através da persistência, da empatia e de uma abordagem hands-on, comecei a ganhar o respeito e a confiança de todas as pessoas envolvidas. A minha liderança não se baseava apenas em diretrizes; era um exercício de presença, paciência e, acima de tudo, paixão.
O processo de liderar a mudança de atitudes e mentalidades deve ser efetuado pela capacidade de apontar o caminho para solucionar os problemas e eliminar os erros, sem criticar, sem julgar, mas pelo exemplo de aprendizagem e melhoria contínua.
Se eu conseguia aprender e ser conhecedora de materiais, ler plantas e projetos, tomar decisões estruturais e criar soluções on the fly, todos os profissionais que lidavam com as mesmas dificuldades diariamente, percebiam que outras alternativas eram igualmente possíveis.
Aos poucos, a resistência em aceitar a opinião de um elemento feminino foi dando lugar a uma espécie de abertura para a aprendizagem. Aquilo que à partida seria impensável no seio do grupo habituado a lidar apenas com homens, mas que respondia a um código de wolf pack muito próprio e inquestionável, — pois sempre foi assim e nunca encontrou resistência –, estava agora a dar lugar a uma nova etapa de trabalho na vida destes homens.
O olhar soslaio e a inquietude de quem não sabe muito bem como se comportar na presença de uma mulher, no centro de ação de uma obra de construção civil, foi substituído por um comportamento respeito, admiração e cooperação na execução das tarefas com motivação e apreço. Sem desprimor pela competência do empreiteiro, os profissionais que agora executavam a obra, estavam conscientes da mudança e esta era geradora de um novo ânimo e despertava sentimentos de regozijo no trabalho. “Pergunta à D.ª Sónia!”, “D.ª Sónia, como fazemos isto?”, “A patroa é que sabe!”, “Nunca trabalhei numa obra assim. Até dá gosto ver!”, passaram a ser as frases mais proferidas naquela área bruta de terreno.
E assim, um projeto que tinha sido inicialmente estimado para ser concluído em 24 meses, viu a luz do dia em apenas 12 — uma prova indiscutível que uma liderança emocional pode ser o motor da mudança.
A ciência da liderança emocional
Esta experiência pessoal encontra ressonância na ciência. No estudo publicado por Melwani e Barsade (2011) no Journal of Business and Psychology, revela como líderes que exibem qualidades emocionais positivas, como compaixão e empatia, não apenas elevam o bem-estar dos colaboradores, mas também impulsionam a eficácia organizacional. Líderes emocionalmente inteligentes são capazes de criar um ambiente de trabalho onde o respeito, o valor e a paixão são vividos diariamente, cultivando assim um terreno fértil para a inovação, o compromisso e a satisfação no trabalho.
A aplicação desta compreensão sobre a liderança emocional, estende-se ao meu papel enquanto CEO do Portal da Queixa, onde a prioridade é criar um ambiente onde cada membro da equipa se sinta valorizado, compreendido e parte de uma missão maior. Reconhecemos que o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é essencial para o bem-estar dos colaboradores e, por extensão, para o sucesso da organização. Esta cultura de cuidado e respeito mútuo é o alicerce sobre o qual construímos uma equipa coesa, motivada e resiliente.
Estes episódios de vida (como tantos outros líderes terão ao longo do seu percurso), fizeram-me refletir acerca de uma verdade maior que observei ao longo da minha carreira: a liderança está longe de ser uma habilidade inata ou uma questão de autoridade, é uma jornada emocional. Nas emoções encontram-se a capacidade de conectar genuinamente com as pessoas.
As lições aprendidas no canteiro de obras, bem como na gestão do Portal da Queixa, sublinham a importância de liderar com empatia, paixão e um profundo senso de compromisso. Liderar com o coração não é apenas uma estratégia eficaz; é ter a essência transformadora que inspira e contagia as equipas a alcançarem o seu potencial máximo, a superarem desafios e a conquistarem sucessos sem precedentes.
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