PME exportadoras sentem-se “abandonadas” e pedem soluções diferenciadas ao governo
Empresários em Angola desafiam AICEP a ter “um papel mais ativo” e dizem que “não há um apoio às PME na exportação”. As linhas de crédito à exportação são normalmente atribuídas a grandes empresas.
Angola “é um mercado natural” para as exportações portuguesas, mas as pequenas e médias empresas sentem-se “abandonadas” e representantes seus defenderam, em declarações esta quarta-feira à Lusa, soluções diferenciadas para apoiar a exportação.
Empresários de vários setores falaram à Lusa durante a visita do primeiro-ministro, Luís Montenegro, à Feira Internacional de Luanda (Filda), no seu segundo dia de visita a Angola, onde passou pelo pavilhão de Portugal que congrega cerca de 20 empresas nacionais de setores de atividade como a indústria alimentar, de moldes e metalomecânica.
Entre estas encontra-se a Grilo, uma indústria de loiça metálica de Vila Nova de Gaia, que começou a vender para Angola em 1988, mas está agora “praticamente a recomeçar do zero”, depois da pandemia e das mudanças políticas e no tecido económico-empresarial do país que trouxeram outros players para o mercado. “Angola é um mercado natural, temos é de recomeçar”, disse à Lusa José Grilo, sócio-gerente, da empresa que conta atualmente com três clientes da área da distribuição em Angola, estando ainda com “pequenas encomendas”.
A Grilo tem uma faturação média de seis milhões de euros, dos quais cerca de 25% resultam das exportações para vários mercados europeus e africanos, incluindo Moçambique, Cabo Verde e Angola. As condições de pagamento e de crédito são as principais preocupações de quem exporta para Angola, salientou o responsável da Grilo, que apontou dificuldades no acesso a câmbios e aos seguros de crédito.
Para José Grilo “as PME exportadoras estão praticamente abandonadas em Angola – e não só”, desafiando o AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) a desempenhar “um papel mais ativo”. “Não há um apoio às PME na exportação”, criticou.
Por outro lado, as linhas de crédito à exportação não têm um plafond adequado e são normalmente atribuídos a grandes empresas, realçou o empresário, questionando ainda as dificuldades de acesso ao programa de internacionalização para empresas com níveis de faturação reduzidos.
Judite Pragosa, administradora da Procadimoldes, empresa de moldes técnicos para injeção de plásticos da Marinha Grande que exporta atualmente para Marrocos, Nigéria e vários países europeus, veio à Filda “à procura de oportunidade” em Angola. “Temos tido dificuldades nos contactos diretos com a indústria de injeção de plásticos que são os nossos clientes, mas há mercado”, disse a responsável explicando que o objetivo na feira é precisamente apresentar a empresa e encontrar parceiros.
A empresa tem 30 anos de existência, 50 trabalhadores e uma faturação anual de 4,5 milhões de euros. Judite Pragosa diz que o executivo liderado por Montenegro precisa de pôr “as instituições a funciona” queixando-se de dificuldades na aprovação e atrasos nas respostas a projetos de investimento e de internacionalização.
“As PME têm muitas dificuldades em aceder a estes projetos”, lamentou, acrescentando que quando as decisões são conhecidas, por vezes, “o motivo da candidatura já está ultrapassado”. Candidaturas mais práticas, mais direcionadas e mais céleres são algumas das sugestões de Judite Pragosa, que disse ter tido recentemente um projeto aprovado, que não chegou a avançar, porque “afinal não havia verba”.
O governo deveria repensar “a forma como ajuda as empresas” reforçou o diretor técnico da Procadimoldes, Carlos José, dizendo que as verbas nem sempre chegam à indústria da forma mais correta.
Sebastião Gama, da Lactoserra, um produtor que comercializa queijos de Aguiar da Beira para cadeias de hipermercados angolanos há cerca de dois anos, vende ainda “em pequenos volumes”, já que a empresa tem estado direcionada sobretudo para os países do “mercado da saudade” na Europa, Estados Unidos da América e Canadá.
Destacou que as “boas relações e o intercâmbio entre Portugal e Angola” facilitam o acesso ao mercado e com uma faturação anual de 15 milhões de euros acredita que a empresa vai continuar a crescer. Sobre a vinda do primeiro-ministro português a Angola considerou que é também importante pelo aspeto institucional: “não pode ser só dar atenção ao apoio financeiro, o apoio institucional também é importante”.
Luís Montenegro visitou várias das empresas do pavilhão de Portugal e faz hoje o encerramento do Fórum Económico Angola-Portugal, subordinado ao tema da Segurança Alimentar.
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