Conselho eleitoral da Venezuela dá vitória a Maduro com 51,2% dos votos. Oposição e EUA contestam resultados

  • Lusa e ECO
  • 29 Julho 2024

Números oficiais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) dão 5,15 milhões de votos para o Presidente cessante e pouco menos de 4,5 milhões (44,2%) para o opositor Edmundo Gonzalez Urrutia.

O Presidente cessante Nicolás Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo com 51,20% dos votos, anunciou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela. De acordo com os números oficiais anunciados pelo presidente desta entidade, Elvis Amoroso, Maduro obteve 5,15 milhões de votos, à frente do candidato da oposição Edmundo González Urrutia, que obteve pouco menos de 4,5 milhões (44,2%).

 

Os resultados foram anunciados depois de contados 80% dos boletins de voto e 59% dos eleitores terem comparecido às urnas. O resultado “é irreversível”, declarou.

Cerca de 21 dos 30 milhões de venezuelanos foram chamados às urnas no domingo para escolher entre 10 candidatos, mas a disputa presidencial foi, sobretudo, entre dois nomes: o atual Presidente Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela), herdeiro do antigo líder Hugo Chávez à procura de conquistar um terceiro mandato consecutivo de seis anos, e Edmundo González Urrutia (Plataforma Unitária Democrática), um diplomata reformado que substituiu na corrida eleitoral a líder da oposição María Corina Machado, declarada inelegível pelas autoridades de Caracas.

Na reta final da campanha, Maduro, de 61 anos, considerou que uma vitória da oposição podia originar “um banho de sangue”, enquanto a coligação opositora prometeu lutar “até ao fim”.

Mergulhado numa crise económica sem precedentes, mais de sete milhões de venezuelanos fugiram do país, que conta com uma significativa comunidade de portugueses e de lusodescendentes.

A maioria da população da Venezuela vive com apenas alguns dólares por mês e os sistemas de saúde e de educação estão completamente degradados.

Oposição e EUA rejeitam resultados anunciados pelo CNE

No entanto, a oposição venezuelana recusa os resultados anunciados pelo CNE, afirmando que Edmundo González derrotou Nicolás Maduro. “Os venezuelanos e o mundo inteiro sabem o que aconteceu. (…) Violaram todas as normas“, disse o candidato pela Plataforma Unitária Democrática, no primeiro discurso após o anúncio da votação. Edmundo González pediu “a reconciliação pela paz” e diz que vai seguir esse objetivo até que a “vontade do povo venezuelano seja respeitada”.

Ao lado do candidato, a líder da oposição, María Corina Machado, anunciou que a Plataforma Unitária teve uma vitória “esmagadora” por 70% dos votos, contrariando os resultados anunciados pelo CNE. “A Venezuela tem um novo Presidente eleito e é Edmundo González”, declarou.

Antes, a oposição disse que tinha obtido os resultados da votação de cerca de 30% dos locais de voto, esperando receber mais no resto da noite. O CNE, controlado por partidários de Maduro, ainda não forneceu os resultados das 30.000 urnas distribuídas por todo o país, segundo a Associated Press.

Vários países juntam-se às críticas da oposição aos resultados anunciados pela comissão eleitoral venezuelana. Uma das primeiras reações foi dos Estados Unidos, nomeadamente do Secretário de Estado Antony Blinken, que declarou “sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano”.

Quando várias sondagens independentes apontavam para uma vitória do principal candidato da oposição por uma larga margem, o responsável norte-americano apelou à transparência na contagem dos votos. “A comunidade internacional está a observar isto de muito perto e responderá em conformidade“, afirmou Blinken, que falava aos jornalistas a partir de Tóquio.

O Governo português também já reagiu, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao resultado anunciado pelo CNE. Numa publicação na rede social X (antigo Twitter), Portugal “saúda a participação popular”, mas apela à “verificação imparcial” dos resultados das eleições venezuelanas.

“Só a transparência garantirá a legitimidade; apelamos à lisura democrática e ao espírito de diálogo”, disse ainda o ministério tutelado por Paulo Rangel, afirmando estar a acompanhar a comunidade portuguesa a residir no país.

Da parte da União Europeia (UE), já reagiu o Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. Josep Borrell apelou ao “respeito pela vontade” do povo venezuelano, que “votou o futuro do seu país de maneira pacífica e massiva”.

É “vital assegurar a total transparência do processo eleitoral”, no qual se inclui “a contagem detalhada dos votos e o acesso às atas de votação das mesas eleitorais”, escreveu o chefe da diplomacia europeia, numa publicação na rede social X.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, país que tem uma comunidade de cerca de 400 mil venezuelanos, juntou-se ao apelo de Josep Borrell, pedindo “transparência total” dos resultados eleitorais que dão a vitória a Nicolás Maduro nas presidenciais venezuelanas. Citado pelo El País, José Manuel Albares quer “que se tornem públicas as atas das mesas de voto, uma a uma, para que os resultados possam ser verificados”, pois ainda só se conhecem “dados em bruto”.

Já o Presidente do Chile, Gabriel Boric, considera que os resultados que dão a vitória a Nicolás Maduro “são difíceis de acreditar”, acrescentando que o seu Governo não reconhecerá “nenhum resultado que não seja verificável”. No X, Boric escreveu que a comunidade internacional e o povo venezuelano exigem “total transparência” do processo eleitoral.

“Dada a situação na Venezuela, pensamos que é importante esperar pela opinião dos observadores internacionais”, sustentou o ministro chileno dos Negócios Estrangeiros, também no X.

O Presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, também rejeita a vitória de Maduro. “Trabalharemos com os países democráticos de todo o continente e com as organizações internacionais para alcançar o respeito que o povo venezuelano merece”, escreveu, numa publicação na mesma rede social.

Por sua vez, o Presidente da Argentina pediu a saída do “ditador Maduro”, apontando que “os dados anunciam uma vitória esmagadora da oposição” e, por isso, espera que Nicolás Maduro “reconheça a derrota após anos de socialismo, miséria, decadência e morte”.

A Argentina não vai reconhecer mais uma fraude e espera que desta vez as Forças Armadas defendam a democracia e a vontade popular“, escreveu Javier Milei, na sua conta no X.

Para o Presidente do Uruguai, a votação na eleição de domingo na Venezuela esteve claramente “viciada”. “Não se pode reconhecer um triunfo se não se confia na forma e nos mecanismos para chegar a ele”, escreveu Luis Lacalle Pou, também no X.

Maduro diz que ganhou “contra sanções” estrangeiras

No seu primeiro discurso após ter sido anunciado como vencedor das eleições presidenciais deste domingo, Nicolás Maduro elogiou o sistema eleitoral da Venezuela, que considera de um “nível muito elevado de confiança, segurança e transparência”, e disse que a sua vitória foi o “triunfo da independência nacional, da dignidade do povo venezuelano, da paz, da estabilidade, do ideal republicano e da igualdade”.

Para Maduro, foi também uma vitória “contra as sanções e agressões” de países estrangeiros. Pedindo respeito pela “vida soberana da Venezuela” e pela “vontade popular”, rejeitou as acusações de “fraude” vindas da oposição e de outros países. “Já vi esse filme. É o filme da extrema-direita”, atirou.

“Esta não é a primeira vez que tentam violar a paz da República”, disse, ao alegar que o sistema eleitoral do país foi alvo de um “ataque massivo” falhado por um ator estrangeiro, que se recusou a identificar.

Em resposta às declarações do homólogo argentino, Javier Milei, Maduro chamou-o de “sociopata”, acusando-o de “gostar de infligir dor” ao povo do seu país.

Ao contrário de outros líderes de países sul-americanos, os chefes de Estado de Cuba, Bolívia e Honduras felicitaram Nicolás Maduro pela vitória nas eleições venezuelanas.

Para o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, tratou-se do triunfo da “dignidade e coragem” do povo venezuelano “sobre as pressões e manipulações”, enquanto o boliviano Luís Arce vê na vitória do seu homólogo da Venezuela uma “grande forma de recordar o Comandante Hugo Chávez”.

Lembrando também o “legado histórico” de Hugo Chávez, a Presidente das Honduras, Xiomara Castro, deixou uma saudação “democrática, socialista e revolucionária” ao Presidente Nicolás Maduro e ao “valente povo da Venezuela pelo seu triunfo incontestável”.

(Notícia atualizada pela última vez às 9h42)

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