O que fazer quando as bolsas caem a pique e os nervos assaltam a carteira
Os especialistas lembram que episódios de fortes correções como se viveu esta segunda-feira nas bolsas devem ser vistos pelos investidores como "normais" e até como oportunidades de investimento.
As bolsas iniciaram a semana sob uma forte onda vendedora por parte dos investidores, que resultou em quedas significativas nos principais índices globais como há muito não se via.
O índice japonês Topix registou uma queda histórica de quase 13%, a maior desde o crash das bolsas em 1987. Na Europa, o pan-europeu Stoxx 600 chegou a cair quase 6%, encerrando o dia a perder 2,2%, enquanto os norte-americanos S&P 500 e Nasdaq chegaram a resvalar 4% e 6%, respetivamente, e atualmente, apesar de ainda estarem no vermelho, já recuperaram cerca de metade dessas perdas.
O nervosismo dos investidores ficou bem espelhado pelo disparo dos “índices do medo”, com o VIX a disparar 153% até aos 59 pontos, o valor mais elevado desde abril de 2020, e o Vstoxx, a ensaiar uma subida de 66% até aos 40,8 pontos, a cotação mais elevada desde março de 2022.
“Olhando para o histórico e tendo em conta a configuração deste movimento de queda, será de esperar que não fique por aqui”, refere Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros.
No entanto, isso não significa que os investidores devam correr a fechar todas as suas posições. “Partindo do princípio de quem está já com uma exposição diversificada, não alavancada e sem necessidade imediata de fundos, parece-me que fará mais sentido olhar para oportunidades de compra do que para o contrário“, afirma o especialista.
A naturalidade do sobe-e-desce das bolsas
Emília Vieira, CEO da Casa de Investimentos e gestora do PPR mais rentável de 2023, recorda que “estes períodos de volatilidade são normais e os investidores devem estar preparados para isso”, lembrando ainda que esta queda do mercado o ano estava a ser muito pouco volátil.
A volatilidade dos mercados e a ocorrência de correções das cotações é algo recorrente nos mercados. Faz parte de quem investe particularmente em ações. “Se olharmos para a história dos últimos 100 anos, 94% dos anos registam quedas iguais ou superiores a 5%. Correções de 10% ou mais acontecem em dois terços dos anos”, refere Emília Vieira, sublinhando que, “por isso, olhando para o contexto histórico, as quedas dos últimos dias são perfeitamente normais.”
Luís Lobo Jordão, gestor das estratégias dos fundos Stoik da SGF, destaca a naturalidade com que os investidores devem olhar para estas oscilações, notando que “os mercados não sobem sempre e as correções são naturais e saudáveis”. O gestor salienta inclusive que “são estes momentos em que o risco fica visível que fazem com que se obtenham melhores rendimentos no longo prazo.”
A volatilidade é a amiga do investidor de longo prazo [e] um mercado em queda não nos incomoda. É uma oportunidade para aumentar a nossa participação em grandes empresas com boa gestão a bons preços.
Apesar dessa “normalidade” que a história espelha apontada pelos especialistas, é difícil os pequenos investidores ficarem indiferentes a observarem comportamentos como o movimento das ações da ASM International, uma das maiores empresas de semicondutores do mundo, que esta segunda-feira, após abrirem a cair 12% encerraram a sessão a valorizar 0,55%.
Para evitar passar por uma situação de ansiedade como esta, Warren Buffett, talvez o maior investidor de todos os tempos, é paradigmático relativamente à abordagem que os investidores devem ter em relação a períodos de elevada volatilidade dos mercados, como o se viveu esta segunda-feira.
O Oráculo de Omaha, como também é conhecido, aconselha os investidores a afastarem-se do mercado nestes dias de maior nervosismo para evitarem tomar decisões irrefletidas. “Diria aos investidores para não observarem o mercado de perto”, referiu Buffett em 2016, numa entrevista à CNBC, em resposta à elevada volatilidade que se fez sentir nesse ano.
Mas Buffett também é apologista de os investidores aproveitarem o sobe-e-desce dos mercados a seu favor. “A volatilidade é a amiga do investidor de longo prazo” e “um mercado em queda não nos incomoda, é uma oportunidade para aumentar a nossa participação em grandes empresas com boa gestão a bons preços”, refere o Oráculo de Omaha citado por Jeremy Miller no livro “Warren Buffett’s Ground Rules”.
Não sabemos se os mercados continuarão a cair ou se estes são os mínimos. O que sabemos é que os títulos em que estamos investidos estão a aumentar resultados e o seu valor intrínseco e continuam a manter balanços muito sólidos. Por isso, se hoje os podemos comprar mais baratos do que há um mês, aproveitamos a oportunidade.
Isto significa que, em vez de entrar em pânico e desatar a fechar posições, as quedas do mercado podem ser vistas como uma oportunidade para comprar ações de empresas sólidas a preços mais baixos. É isso que defende e que feito Carlos Pinto, senior investment manager da Optimize, estes dias. “Fizemos uns ajustes de carteiras sobretudo para aproveitar reforçar algumas empresas”, diz.
“Quem tem liquidez, esta é uma boa oportunidade para fazer novas posições”, refere o gestor, notando ainda que, historicamente, dias de queda “anormais” como a que se viveu esta segunda-feira, são posteriormente marcados por “dias de maior recuperação.”
A incerteza faz parte do mercado. Afinal, ninguém tem uma bola de cristal capaz de prever o futuro e por isso não sabe como os mercados irão comportar-se até ao final do ano, no próximo mês e menos ainda o resto da semana. Por essa razão é que Peter Lynch, um dos gestores de fundos mais bem-sucedidos de todos os tempos, sugeria que os investidores adotassem estratégias de investimento regulares, independentemente das condições do mercado. “Muito mais dinheiro foi perdido por investidores a tentarem antecipar correções do que nas próprias correções”, escreveu o lendário investidor em “Learn to Earn”
Esta é uma prática que a equipa liderada por Emília Vieira está a seguir na íntegra na gestão individual das carteiras dos seus clientes assim como na gestão do fundo Save & Grow PPR. “Devo deixar claro que não sabemos se os mercados continuarão a cair ou se estes são os mínimos. O que sabemos é que os títulos em que estamos investidos estão a aumentar resultados e o seu valor intrínseco e continuam a manter balanços muito sólidos. Por isso, se hoje os podemos comprar mais baratos do que há um mês, aproveitamos a oportunidade”, refere a gestora.
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