Sindicatos, individualismo e desigualdade. Como se ligam?
Estudo conclui que negociação sindical apenas reduz a desigualdade salarial entre trabalhadores qualificados e não qualificados em sociedades com níveis moderados de individualismo.
A negociação sindical exerce uma “influência substancial” sobre a desigualdade salarial apenas em sociedades moderadamente individualistas. A conclusão é dos economistas Óscar Afonso, Daniel Santos e Paulo Vasconcelos, num artigo publicado no jornal científico Economic Systems, cujas conclusões evidenciam que os sindicatos perderam influência à medida que as sociedades se tornam menos coletivistas.
Os economistas olharam para o progresso tecnológico e para a desigualdade salarial entre trabalhadores qualificados e não qualificados, utilizando um modelo no qual as decisões de consumo, poupança e acumulação de capital humano são influenciadas pelo nível de individualismo. Em declarações ao ECO, Óscar Afonso, economista e diretor da Faculdade de Economia do Porto (FEP), explica que a análise coloca os Estados Unidos como uma sociedade altamente individualista, seguindo-se os países da Europa nórdica, enquanto os países da América Latina se situam no polo oposto, como uma sociedades mais coletivista.
Embora o artigo “Individualism, innovation, and inequality: exploring the nexus” seja um retrato macro e não se dedique a Portugal, Óscar Afonso, em declarações ao ECO, coloca “a sociedade portuguesa a meio, mas mais a tender para o coletivista”, embora “cada vez menos”.
Os três economistas concluem que as culturas mais individualistas registam um maior prémio por trabalhadores altamente qualificados e maior crescimento. “As economias mais individualistas são mais competitivas e querem mais formação. Isso motiva-os a ter preferência perante o capital humano mais qualificado”.
De acordo com os autores, “a negociação sindical apenas reduz a desigualdade salarial entre trabalhadores qualificados e não qualificados em níveis moderados de individualismo”, já que “a acumulação assimétrica de capital humano” entre trabalhadores qualificados e não qualificados “é menos pronunciada em comparação com sociedades altamente individualistas e a representação de trabalhadores não qualificados dentro dos sindicatos é ligeiramente mais forte do que em sociedades com um individualismo muito baixo”.
“A acumulação assimétrica de capital humano entre trabalhadores qualificados e não qualificados é menos pronunciada em comparação com sociedades altamente individualistas e a representação de trabalhadores não qualificados dentro dos sindicatos é ligeiramente mais forte do que em sociedades com um individualismo muito baixo”
“Isto dá aos sindicatos mais poder para negociar salários mais elevados para os trabalhadores não qualificados, reduzindo assim a disparidade salarial de forma mais eficaz”, apontam. O mesmo não se verifica “tanto nos níveis baixos como nos altos de individualismo”, nos quais o efeito da negociação sindical sobre as diferenças salariais é menos proeminente devido ao contrapeso de duas forças opostas”.
Por um lado, apontam, em sociedades altamente individualistas, onde há uma forte ênfase na realização pessoal, os sindicatos que negociam salários mais elevados para trabalhadores não qualificados conduzem a custos acrescidos para as empresas que os contratam. Consequentemente, as empresas orientam-se para setores qualificados, aumentando a procura de trabalhadores qualificados e resultando num aumento do prémio de qualificação.
“Contudo, nessas sociedades, a acumulação contínua de capital humano, relativamente mais elevada para os trabalhadores qualificados, leva a uma maior oferta de mão-de-obra qualificada, atenuando o aumento inicial do prémio de qualificação. Portanto, o prémio de qualificação aumenta, mas em menor grau”, explicam.
Paralelamente, consideram que “em sociedades com um individualismo muito baixo, onde existe uma assimetria reduzida na acumulação de capital humano entre trabalhadores qualificados e não qualificados, a menor representação de trabalhadores não qualificados enfraquece o poder de negociação dos sindicatos na negociação de salários”.
“Como resultado, os sindicatos poderão apenas conseguir reduzir a disparidade salarial marginalmente”, concluem. Certo é que, segundo Óscar Afonso, “os sindicatos foram perdendo influência porque as sociedades se foram tornando mais individualistas”.
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