Douro “tem de avançar” com destilação de excedentes para vinho do Porto
Para ajudar este setor em crise, a Federação Renovação do Douro propõe medidas como a destilação do vinho excedente da região e o aproveitamento dessa aguardente para introdução no vinho do Porto.
A Federação Renovação do Douro defendeu que tem de avançar a destilação de excedentes para aguardente a introduzir no vinho do Porto, mais promoção e fiscalização rigorosa nesta vindima em que produtores sentem dificuldades no escoamento da uva.
O Douro deu início à vindima perspetivando uma boa produção que contrasta com as preocupações de muitos viticultores.
“Estamos numa fase em que têm que fazer a colheita e não sabem a quem vão entregar essas uvas“, disse esta quarta-feira à agência Lusa Rui Paredes, presidente da Federação Renovação do Douro.
Pelo segundo ano consecutivo, alguns operadores alegam quebras nas vendas e stocks cheios e, por isso, não estão a comprar uvas ou estão a fazer propostas de compra a baixos preços.
Rui Paredes falou numa situação dramática para pequenos e médios produtores e considerou que, se não foram tomadas medidas que invertam a situação, 2025 pode vir a ser um ano em que “as pessoas vão abandonar mesmo a atividade”.
“Porque não é comportável vivermos nesta senda, não ter onde vender ou vender com preços que não comportam os custos de produção da maior região de montanha do mundo”, justificou.
Para ajudar este setor em crise, a organização propõe medidas como a destilação do vinho excedente da região e o aproveitamento dessa aguardente para introdução no vinho do Porto.
“Vai ter que avançar, tem que ser uma realidade”, afirmou Rui Paredes.
O preço dessa aguardente será mais caro e não há produção na região para dar resposta a toda a aguardente necessária para o vinho do Porto.
“Mas se conseguirmos ir buscar uma percentagem que poderá andar na ordem dos 20%, conseguimos retirar já alguns excedentes e não precisamos de recorrer a destilações de crise”, justificou, acreditando que, com esta medida, em dois a três anos se poderia resolver a questão do vinho excedente neste território.
E para a sua implementação, argumentou, “basta estar vertida numa autorização de produção”.
“Aquilo que nós temos vivido nos últimos anos foi um empurrar com a barriga o problema”, realçou, apontando como exemplo a entrada de vinhos importados na região, nomeadamente provenientes de Espanha.
Em maio, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) anunciou a proibição da entrada a granel na Região Demarcada do Douro de uvas, mostos, vinhos e outros produtos vínicos ou afins não abrangidos pelo estatuto das Denominações de Origem Protegidas (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP).
“Penso que essa malha devia ser mais apertada porque deveria passar para outras regiões vitivinícolas. Ou seja, não deve ficar só no Douro, deve ficar nas regiões demarcadas que têm uma denominação de origem e tem que a proteger. O Douro fez esse trabalho, esse caminho, fez este ano, deveria já ter feito há mais tempo”, realçou.
Mas Rui Paredes advertiu ainda: “Temos também de ter atenção à entrada de vinhos de outras regiões do país. Isto é uma porta giratória em que entram por um lado e saem por outro”.
Por isso mesmo, defendeu uma fiscalização “muito mais rigorosa”, realçando as reuniões recentes nesse sentido que têm envolvido a GNR, ASAE e também o IVDP.
E reclamou ainda uma forte aposta na promoção para reposicionar o vinho do Porto como o “grande embaixador do país”.
“Precisamos de ir para os mercados fazer campanhas de promoção, socorrermo-nos de pessoas com alguma projeção, escolher os países grandes consumidores e, com isso, tentar estancar a quebra nas vendas que tem vindo a acontecer nos últimos 20 anos”, apontou.
O que não é possível, na sua opinião, é o vinho do Porto estar a ser vendido a, por exemplo, quatro euros a garrafa. “Não comporta os custos e não dá imagem de um produto de excelência”, frisou.
Quanto à vindima em verde, medida que poderá vir a ser implementada no próximo ano, Rui Paredes disse que o “produtor não produz uvas para deitar para o chão”.
“Mas, numa situação destas de dramatismo em que nós não conseguimos fazer o escoamento do produto, esta medida pode minorar esse problema e é para utilizar quando for necessário, não mais do que isto”, referiu.
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