Roaming, Metro e TV: As barreiras da Digi em Portugal
A gestão da nova operadora de telecomunicações em Portugal, a Digi, começa a comunicar os seus planos, mas também admite alguns obstáculos que poderão afetar o serviço a lançar nas próximas semanas.
O plano é lançar “bastante em breve” uma oferta “boa e atrativa”, com base numa rede “nice“. Se parece que a Digi, nova operadora de telecomunicações em Portugal, continua a manter em sigilo (por ora) praticamente todos os aspetos da proposta que quer levar aos consumidores. Valentin Popoviciu, vice-presidente do grupo romeno, garante que o lançamento está a ser preparado. “Mas não estamos dispostos a apresentar os detalhes ainda”.
Em declarações aos jornalistas à margem da 11ª conferência da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) esta semana, Popoviciu identificou, contudo, de forma clara algumas das barreiras que a empresa estará a enfrentar no desenvolvimento das redes e dos serviços que espera lançar antes do final de novembro.
“Não, ainda não”, responde, sem rodeios, à questão sobre se a Digi já estabeleceu acordos com as outras operadores para o roaming nacional, que permite aos clientes de uma operadora usarem as redes das empresas concorrentes. “Analisámos a possibilidade de termos acordos de roaming em Portugal, com todos os operadores [Meo, Nos e Vodafone], mas as condições comerciais que conseguimos obter não estavam de acordo com as nossas expectativas“, disse. “Esperávamos uma oferta melhor do que aquela que encontrámos no mercado, portanto não estava em linha com o nosso plano de negócios”.
Popoviciu recordou que segundo o Código Europeu de Comunicações, o regulador não pode impor preços para o roaming nacional. “É claro que há uma certa referência no mercado e há diferentes preços grossistas que devem estar alinhados com os preços retalhistas no mercado, mas na prática as autoridades reguladoras de toda a Europa não podem impor preços para o roaming nacional”.
Na Bélgica, onde a Digi também se prepara para lançar serviços – acrescentando à presença na Roménia, em Espanha e em Itália – a empresa chegou a um acordo para o roaming nacional com a operadora incumbente, a Proximus. “Aí tivemos melhores condições que nos permitem ter um business case razoável para o roaming“, disse.
Em Portugal desistiram dessa possibilidade? “Pelo menos por enquanto, sim, mas estamos abertos caso os outros operadores melhorem as ofertas“, explicou, adiantando que a ausência desses acordos poderá até servir como incentivo para a Digi acelerar o desenvolvimento da sua própria rede.
Sem acesso ao Metro de Lisboa
No painel ‘5G: A experiência dos operadores móveis’ da conferência da Anacom, o gestor romeno mencionara problemas em obter cobertura móvel no Metro de Lisboa, um tema que depois desenvolveu para os jornalistas.
“Iniciámos discussões sobre o acesso ao metro de Lisboa, mas ainda não conseguimos encontrar a solução certa para os direitos“, revelou. “De facto, existe um sistema construído pelos outros operadores mas, por um lado, trata-se de um sistema mais antigo e depois, em segundo lugar, é necessária a aprovação de todos os operadores para podermos utilizar esse sistema em comum, e quando se utiliza esse sistema em comum com mais operadores, é necessário efetuar algumas alterações”.
Na perspetiva da Digi essa não é a opção mais viável e por isso, “temos de construir o nosso próprio sistema novo e moderno no metro”, mas essa segunda opção também não é isenta de desafios.
“Se construirmos o nosso próprio sistema, que é completamente baseado em fibra, porque é um sistema novo, não como os que foram construídos há 15 anos, por exemplo, ainda precisamos da aprovação da empresa do Metropolitano, que ainda não chegou”, referiu o vice-presidente da Digi.
“Já estamos a conversar [com o Metro de Lisboa] há alguns meses, mas a progressão da discussão é muito lenta do nosso ponto de vista e esperávamos uma abordagem mais rápida”, sublinhou. “Vamos ver se a abordagem é uma abordagem justa e razoável, porque os clientes vão pedir isso, sem dúvida”.
Em relação ao Metro do Porto, o gestor reconhece que terá de enfrentar a mesma situação, mas adianta que a prioridade neste momento é o Metro de Lisboa, pois é uma rede maior.
Discussões “construtivas”com canais de TV
Além de comunicações fixas e móveis, a Digi pretende fornecer em Portugal um serviço de distribuição de televisão. Mas a nova operadora está a enfrentar dificuldades no acesso aos canais mais vistos pelos portugueses, conforme noticiou o ECO a 8 de julho. A empresa apresentou queixas aos reguladores e uma deliberação já é pública, só que é desfavorável à empresa de origem romena.
A Digi já garantiu o acesso a alguns canais, adiantou o ECO em julho, mas teve mais dificuldades nas negociações com os grupos que detêm a SIC e a TVI, segundo uma fonte familiarizada com o processo.
À margem da conferência da Anacom, Valentin Popoviciu mostrou-se confiante em relação a esse assunto, embora sem fornecer informação detalhada. “Neste momento, estamos a ter discussões construtiva com eles, com todos os canais, por isso esperamos poder finalizar essas discussões muito em breve“, concluiu.
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