Descida dos juros nos EUA beneficia gigantes do PSI e pensões dos portugueses

Com uma forte exposição ao mercado dos EUA, o grupo EDP e o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social são dos grandes beneficiados com o recente corte de 50 pontos base das Fed Funds.

A Reserva Federal dos EUA (Fed) anunciou na quarta-feira um corte de 50 pontos base na taxa dos fundos federais (Fed Funds), reduzindo-a para o intervalo entre 4,75% e 5%. Foi a primeira redução desde 2020 e marca o início de um novo ciclo de política monetária nos EUA.

Esta decisão, que foi conhecida às 14 horas locais (19 horas em Lisboa), teve um efeito imediato nos mercados norte-americanos, com o índice de ações norte-americano S&P 500 a subir 0,7% e fechando na quinta-feira em novos máximos históricos.

Mas tal como sucede com a política norte-americana, também a política monetária promovida pelo Tesouro dos EUA tem efeitos globais. E isso foi espelhado esta quinta-feira também na Europa, com os principais índices a encerrarem o dia com ganhos.

Em Portugal, o corte “jumbo” de 50 pontos da Fed terá também um impacto direto e positivo nas suas contas, particularmente junto das empresas com forte exposição ao mercado norte-americano e ao dólar, como sucede com os dois maiores pesos-pesados do PSI: EDP e EDP Renováveis.

No caso da EDP, que no final do ano passado contava com ativos de 3,7 mil milhões de euros em parques eólicos e solares na América do Norte, o corte da Fed é de grande relevância. Desde logo porque a elétrica nacional tem a intenção de investir cerca de 8,5 mil milhões de euros no mercado norte-americano até 2026, segundo o seu plano estratégico 2023-2026 que engloba um investimento global de 25 mil milhões de euros.

Para a maioria das empresas do PSI, o impacto direto do corte de juros da Fed deverá ser mais limitado, dado que têm uma exposição menor ao mercado norte-americano. No entanto, todas serão impactadas indiretamente pela decisão da Fed.

A EDP Renováveis é outra das empresas do PSI que recebeu com bom agrado o corte das Fed Funds dada a forte exposição do seu negócio ao mercado dos EUA. Segundo o relatório e contas da empresa de 2023, 51% da capacidade instalada no final do ano passado estava localizada nos EUA.

Assim, o corte de juros anunciado por Jerome Powell, presidente da Fed, poderá beneficiar estas empresas de várias formas:

  • Redução dos custos de financiamento para novos projetos de energia renovável nos EUA.
  • Potencial estímulo à economia norte-americana, aumentando a procura de energia no país.
  • A possível desvalorização do dólar face ao euro poderá afetar positivamente os resultados quando convertidos para euros (embora ambas as empresas tenham mecanismos de cobertura cambial).

Desta forma, Miguel Stilwell, CEO da EDP e da EDP Renováveis, terá motivos para sorrir com o corte das Fed Funds. Em 2023, o EBITDA recorrente da EDP superou os 5 mil milhões de euros (crescimento homólogo de 11%) e o resultado líquido recorrente alcançou um recorde de 1,29 mil milhões de euros. Com ventos mais favoráveis a soprarem dos EUA, estes números poderão melhorar ainda mais em 2024.

Investimentos e vendas nos EUA com potencial de escalar

Além do binómio EDP, a Corticeira Amorim é outra das empresas do PSI com forte exposição ao mercado norte-americano. Os EUA são inclusive o segundo maior destino das vendas da empresa liderada por António Rios de Amorim, logo após França, com uma quota de mercado de 16,4%, segundo o relatório e contas de 2023 da empresa.

É também nos EUA que a Corticeira Amorim tem localizado uma das suas duas unidades industriais da Amorim Cork Composites (líder mundial no desenvolvimento de novos materiais compósitos de cortiça) que fabricam produtos para empresas como a NASA, a Mazda e a Siemens — a outra fábrica está localizada em Portugal.

António Rios Amorim e os acionistas da Corticeira Amorim poderão ver no corte da Fed uma oportunidade para recuperar terreno, após um 2023 não tão positivo — em que a empresa recuou da mítica cifra dos mil milhões de euros de faturação –, dado que o corte das taxas de juro poderá beneficiar o negócio de várias formas:

  • Ao baixar o preço do dólar, a Fed concede um estímulo à economia dos EUA, potenciando o consumo, nomeadamente de vinho e, consequentemente, a procura por rolhas de cortiça.
  • A possível desvalorização do dólar, como é previsto pelos analistas do Morgan Stanley que anteveem que a moeda norte-americana possa alcançar a paridade face ao euro nos próximos meses, tornará os produtos da empresa portuguesa mais competitivos no mercado norte-americano.
  • Ao cortar as taxas de juro, o crédito em dólares ficará mais barato, provocando assim uma redução nos custos de financiamento para as operações da empresa nos EUA, onde a empresa contava no final do ano passado com uma unidade industrial e sete joint-ventures.

Destaque ainda para a Navigator, que embora o relatório e contas de 2023 não especifique a percentagem de receitas provenientes dos EUA, menciona que as vendas para mercados fora da Europa são importantes para a empresa e que as flutuações cambiais tiveram um impacto negativo líquido de cerca de 16 milhões de euros no EBITDA da empresa em 2023.

O FEFSS, excluindo o investimento em dívida pública portuguesa, tem uma carteira maioritariamente exposta aos EUA (51,1%), seguida pela Zona Euro (24,2%), Japão (8,0%) e Reino Unido (6,4%). Só em obrigações dos EUA, o fundo tinha 3,31 mil milhões de euros aplicados no final do ano passado.

Para a maioria das empresas do PSI, o impacto direto do corte de juros da Fed deverá ser mais limitado, dado que têm uma exposição menor ao mercado norte-americano.

No entanto, todas serão impactadas indiretamente pela decisão da Fed, desde logo pelo estímulo que o corte do preço do dólar gera na economia dos EUA, nomeadamente no plano do consumo, que em função da dimensão do mercado norte-americano, poderá repercutir-se globalmente através, por exemplo, do aumento da procura pelos produtos e serviços das empresas nacionais.

Efeitos colaterais do corte dos juros

Ao cortar o preço do dólar, a Fed também produz um “efeito borboleta” na política monetária dos restantes bancos centrais, pressionando as autoridades monetárias como o Banco Central Europeu a também cortarem as taxas de juro, gerando com isso uma redução nos custos de financiamento.

O corte de 50 pontos base das Fed Funds representa assim uma mudança significativa no panorama económico global, com repercussões potencialmente positivas para várias empresas portuguesas cotadas na Euronext Lisboa e outras que exportem para o mercado norte-americano.

Além disso, há ainda um beneficiário do corte da Fed frequentemente esquecido, mas de extrema importância para Portugal, que é o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS). Com uma exposição significativa ao mercado dos EUA, o FEFSS poderá colher frutos substanciais desta mudança na política monetária norte-americana.

Segundo o relatório e contas de 2023 recentemente publicado, o FEFSS, excluindo o investimento em dívida pública portuguesa, tem uma carteira maioritariamente exposta aos EUA (51,1%), seguida pela Zona Euro (24,2%), Japão (8,0%) e Reino Unido (6,4%). Só em obrigações dos EUA, o fundo tinha 3,31 mil milhões de euros aplicados no final do ano passado, um aumento de 12% em relação a 2022.

Desta forma, o FEFSS poderá beneficiar da queda dos juros nos EUA, essencialmente, de duas formas:

  • Valorização das obrigações: Com a queda das taxas de juro, o valor das obrigações existentes tende a aumentar, pois os seus cupões tornam-se mais atrativos em comparação com as novas emissões a taxas mais baixas.
  • Estímulo ao mercado de ações: A redução das taxas de juro geralmente estimula o mercado de ações, o que pode beneficiar a parcela da carteira do FEFSS investida em ações americanas, que no final do ano passado era também substancial.

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