M.I.D.A.S. – O projecto fundamental e urgente para a Distribuição de Seguros
João Veiga, especialista da Elysian Consulting, alerta para a urgência de normalizar as relações tecnológicas na cadeia de valor dos seguros e desafia a futura direção da APROSE a liderar o processo.
Sim, é mesmo disso que estou outra vez a falar: a criação de um Modelo de Integração de Dados na Actividade Seguradora (M.I.D.A.S.).
Começo pelo óbvio: o facto de cada seguradora ter o seu formato próprio de partilha de dados de apólices, recibos e sinistros faz com que as informações que são enviadas a cada Distribuidor de Seguros sejam muito diferentes de seguradora para seguradora, dificultando a receção, integração e utilização dessa informação que vem das seguradoras para os Distribuidores de Seguros.
A (grave) consequência desta situação é que as ferramentas tecnológicas de gestão têm de estar a ser permanentemente adaptadas a cada um desses ficheiros (e às diversas variações e alterações periódicas) para que possam ser descarregados e carregados nos sistemas dos Distribuidores de Seguros. Mas, apesar deste processo de transformação e integração de e em cada um dos sistemas, as informações são díspares, em grande quantidade e muitas vezes sem a qualidade necessária (leia-se “com muita falta de informação”…), necessitando de um investimento muito alto por parte dos Distribuidores de Seguros para conseguirem manter os seus processos e ferramentas de gestão adaptadas a toda essa variedade de formatos.
No mercado segurador nesta última década e à medida que a digitalização e a transformação digital foram ganhando terreno, todos os processos tiveram de se adaptar às novas necessidades que surgiram e, automaticamente, todos os meios que podiam ser considerados analógicos foram de forma natural desaparecendo progressivamente. Se num mundo analógico, cada parte tem a liberdade de escolher o seu modus operandi, desde que os objetivos pretendidos sejam alcançados, à medida que nos vamos conectando digitalmente uns com os outros, surge a necessidade de usarmos uma linguagem comum, um sistema unificado que facilite as comunicações e agilize os processos de interação.
A existência de um modelo normalizado de integração de dados irá minimizar, se não mesmo acabar, com a enorme quantidade de formatos diferentes que atualmente são utilizados para partilha de informação entre as seguradoras e os Distribuidores de Seguros, normalizando a comunicação entre as partes envolvidas na atividade seguradora.
Há anos que defendo e promovo a normalização de formatos de dados na atividade seguradora, tendo colaborado em alguns grupos de trabalho do setor segurador sobre este tema. E por ter estado presente nestas experiências anteriores, sobre este assunto há várias coisas que para mim são muito claras e que das quais destaco já estas duas:
a) Este é um tema mais político do que tecnológico.
- a definição e execução de formatos normalizados não é complexa e existem vários exemplos disso: em Espanha existe já há quase 10 anos (!!!) o modelo EIAC (Estándar para el intercambio de Información entre Aseguradoras y Corredores) e o Lloyd’s of London e o mercado americano de seguros utilizam um modelo de normalização de dados (ACORD) também já há muito anos.
b) Ao ser um tema de suma importância para a Distribuição de Seguros e com um impacto enorme no aumento da sua rentabilidade, este projeto tem de ser liderado pela APROSE.
E como nota final deste meu texto de opinião de hoje, fica o seguinte: 2024 é o último ano do mandato de 3 anos (2021/2024) da actual direcção da APROSE; no início de 2025, inicia-se um novo mandato de 3 anos (2025/2028). Seja qual for a equipa de direção a assumir a liderança da APROSE a partir de 2025, contamos todos com essa direção para agarrar a oportunidade de fazer história e marcar a diferença, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para liderar o arranque em definitivo do desenvolvimento do Modelo de Integração de Dados na Atividade Seguradora.
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