2025. O fim do trabalho híbrido ou uma estratégia visionária?

  • João Bernardo
  • 14:00

O escritório, ao contrário do que se tem dito, não é apenas um espaço físico. É um ecossistema onde a cultura empresarial, a inovação e a colaboração florescem.

A decisão da Amazon de regressar ao modelo totalmente presencial em 2025 tem gerado debate. Afinal, durante anos fomos convencidos de que o futuro do trabalho era híbrido, flexível e remoto. Então, o que motiva uma gigante como a Amazon a tomar esta decisão? Será que, por detrás desta aparente inversão de marcha, existe uma estratégia mais profunda que estamos a ignorar?

A narrativa dominante nos últimos tempos tem sido que o trabalho remoto é o caminho do futuro. A pandemia forçou-nos a abraçar a flexibilidade, e muitos acreditaram que esse seria o novo padrão. No entanto, quando uma das maiores empresas do mundo decide trazer os colaboradores de volta aos escritórios, algo mais está em jogo. Talvez seja altura de admitir que o teletrabalho não é a solução perfeita que muitos imaginam.

Vamos ao ponto central: o teletrabalho, para o colaborador, é fantástico. Menos deslocações, mais tempo para a vida pessoal, um equilíbrio entre casa e trabalho que parecia inalcançável antes de 2020. No entanto, o que funciona bem para o colaborador pode não ser ideal para a empresa. E é precisamente isso que a Amazon está a reconhecer.

O escritório, ao contrário do que se tem dito, não é apenas um espaço físico. É um ecossistema onde a cultura empresarial, a inovação e a colaboração florescem de uma forma que o Zoom ou o Teams nunca conseguirão replicar. Outras grandes multinacionais que irão seguir o mesmo caminho, sabem que a proximidade física pode ser o motor para um ritmo de inovação que o teletrabalho simplesmente não oferece.

Claro que a produtividade no teletrabalho é um facto. Mas a produtividade por si só não basta. As grandes empresas não se limitam a cumprir metas ou a manter a máquina a funcionar. Elas dependem de inovação constante, de novas ideias e de uma cultura de alto desempenho que nasce da colaboração presencial, das interações espontâneas e da pressão natural do ambiente de escritório.

A Amazon não está a arriscar com esta decisão. Está, sim, a fazer uma leitura pragmática do que o futuro exige. As empresas que dependem de uma constante inovação tecnológica precisam de equipas coesas, de uma cultura que só se constrói com a partilha de espaço. E, acima de tudo, de um ritmo de trabalho que exige mais do que a produtividade “solitária” que o teletrabalho pode proporcionar.

Há ainda uma outra camada nesta decisão: o controlo. A verdade é que, por mais que se fale em autonomia e flexibilidade, as grandes corporações sabem que a proximidade física oferece um grau de supervisão que o trabalho remoto nunca permitirá. A capacidade de alinhar equipas, de monitorizar de perto projetos e de criar uma sensação de urgência em torno de objetivos estratégicos é algo que o escritório facilita naturalmente.

No entanto, esta não é uma solução universal. Empresas que não dependem tanto de inovação ou da cultura presencial, e cujos colaboradores são autónomos e auto-motivados, podem continuar a beneficiar do modelo híbrido. Mas não se enganem: o regresso ao escritório será uma tendência crescente. Empresas que sentirem que a inovação está a abrandar ou que a sua cultura organizacional se está a diluir no remoto vão seguir o exemplo da Amazon.

Por outro lado, também é verdade que as gerações mais jovens – Millennials e Geração Z – procuram flexibilidade. O desafio para as empresas será equilibrar essa necessidade com a urgência de resultados que muitas vezes exige proximidade física. Algumas poderão perder talento por insistir no regresso ao presencial, mas a verdade é que nem todas as empresas podem arriscar comprometer o seu futuro por uma política de trabalho demasiado flexível.

O que está em causa não é se o modelo híbrido é bom ou mau, mas sim se ele é sustentável a longo prazo para todas as empresas.

Para algumas, o modelo puramente remoto não está a cumprir o que se esperava, e o regresso ao escritório é visto como um catalisador de resultados. O futuro do trabalho não é uniforme. O que funciona para uma startup tecnológica não é necessariamente o caminho certo para uma gigante como esta.

O desafio será para as empresas que ainda estão a tentar perceber onde se situam neste espetro. Certo é que a flexibilidade será um privilégio, mas o regresso ao escritório, para muitas, será o preço a pagar pela inovação e pela sobrevivência a longo prazo.

  • João Bernardo
  • Executive manager da Michael Page

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