A aposta no potencial como estratégia de recrutamento do futuro

  • Pedro Amorim
  • 2 Outubro 2024

Num mercado de trabalho em constante evolução, é crucial identificar e cultivar o talento, focando-nos sobretudo na sua capacidade de adaptação e desenvolvimento futuros.

Vivemos num mundo em rápida transformação, onde as necessidades de talento das empresas evoluem a um ritmo sem precedentes, impulsionadas por avanços tecnológicos, alterações sociodemográficas e uma economia cada vez mais orientada para a sustentabilidade.

Neste contexto, os fatores tradicionalmente valorizados nos processos de recrutamento já não conseguem responder às atuais necessidades de competências, sendo urgente repensar e adaptar as estratégias de contratação. À medida que diversas funções surgem ou são reinventadas rapidamente, devido à Inteligência Artificial e outras inovações tecnológicas, o recrutamento deve refletir essa nova realidade, contratando com base no potencial para o presente e futuro.

Uma aposta em estratégias exclusivamente tradicionais, com foco apenas no currículo, no percurso académico e nas competências técnicas específicas dos candidatos pode limitar o processo de aquisição de talento. As empresas que continuam a insistir em procurar talento com foco nestes critérios enfrentam uma dificuldade cada vez mais acentuada em encontrar candidatos qualificados.

Para conseguirem enfrentar esta escassez de talento, os empregadores precisam de adaptar as suas estratégias de recrutamento às necessidades do futuro, adotando abordagens inovadoras, focadas no potencial, nas competências transversais e nos valores dos candidatos.

O mundo do gaming, nomeadamente dos videojogos, dá-nos aqui um bom exemplo de esta nova abordagem, na medida em que permite aceder a bases de talento novas, nas quais as empresas poderão encontrar várias das skills atualmente mais procuradas no mundo corporativo.

Além de terem familiaridade com novas tecnologias, como a Realidade Virtual ou a Inteligência Artificial, os jogadores desenvolvem também competências como a criatividade, a resolução de problemas e a liderança, cruciais no atual mercado laboral. De facto, de acordo com o mais recente estudo de Global Insights do ManpowerGroup, sobre o impacto do gaming no mundo do trabalho, 66% dos trabalhadores acreditam que as capacidades desenvolvidas nos videojogos são relevantes no mundo profissional. No entanto, estas competências podem passar despercebidas em processos de recrutamento tradicionais.

Para implementar mudanças no seu processo de recrutamento, as empresas devem adotar uma abordagem a longo prazo e apostar nas competências humanas, que terão um papel cada vez mais relevante no mercado de trabalho.

Numa altura em que o upskilling e o reskilling são estratégias essenciais para a capacitação do talento e reforço da sua capacidade de adaptação às novas funções, as empresas devem dar um passo mais, com a aposta numa atuação proativa, mediante o desenvolvimento de estratégias de pre-skilling, baseadas em programas dedicados, funções e projetos rotativos ou parcerias com instituições educativas, que permitirão cultivar e desenvolver valiosas competências técnicas e humanas, investindo na preparação do talento como uma alavanca para garantir vantagens competitivas duradouras.

Nesta evolução dos processos de recrutamento é ainda indispensável que as empresas utilizem a tecnologia a seu favor. Para tal, devem apostar nas ferramentas de Inteligência Artificial (IA) para ampliar as suas bases de talento e tornar estes processos mais inclusivos e eficientes.

É fundamental que estas ferramentas sejam aplicadas de forma ética, corrigindo vieses e treinando os algoritmos de IA para dar prioridade a atributos como competências técnicas e humanas, bem como valores que a empresa procura incorporar, em vez de se fixar em critérios de contratação anteriores. Desta forma, a introdução de IA nas estratégias de recrutamento pode contribuir para um processo mais justo e focado no potencial dos candidatos.

Num mercado de trabalho em constante evolução, é crucial identificar e cultivar o talento, focando-nos sobretudo na sua capacidade de adaptação e desenvolvimento futuros. Aqueles que deixarem de olhar para as credenciais e experiência passada e se começarem a focar no potencial futuro serão os primeiros a ganhar uma vantagem competitiva duradoura.

  • Pedro Amorim
  • Entreprise Sales Director do ManpowerGroup Portugal, Região Mediterrânea e Europa de Leste

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