Escalada do conflito no Médio Oriente é ameaça às cadeias de abastecimento
Tensão geopolítica é um dos riscos identificados pelas instituições económicas para o crescimento. Novas perturbações nas cadeias de produção e de alimentar pode levar a novo aumento dos preços.
A guerra no Médio Oriente entrou numa nova fase na terça-feira, após o Irão ter anunciado o lançamento de mísseis contra Israel, que prometeu que o ataque terá consequências. A escalada do conflito tem sido apontada como um risco pelas instituições económicas nacionais e internacionais, que alertam para o impacto na atividade económica e nas cadeias de abastecimento.
Pouco depois das primeiras notícias sobre o lançamento dos mísseis, o petróleo WTI subia 5,41% para quase 72 dólares e o Brent 5%, negociando acima dos 75 dólares, apesar de depois terem moderado as subidas. A repercussão no preço do barril do ‘ouro preto’ é precisamente um dos principais riscos identificados por instituições como o Conselho das Finanças Públicas (CFP), mas não só. O impacto nas cadeias de abastecimento também é destacado.
No relatório de atualizações macroeconómicas, divulgado em setembro, a instituição liderada por Nazaré da Costa Cabral assinalava que “a confluência de múltiplos conflitos armados desestabilizadores” atribuía incerteza acrescida às previsões de um crescimento da economia portuguesa, num cenário de políticas invariantes, de 2,3% este ano e de 1,8% no próximo.
“Embora o impacto tenha sido moderado até à data, o Médio Oriente é responsável por uma parte importante da produção mundial de petróleo e serve como rota de passagem de importantes vias marítimas, incluindo para o transporte de gás natural liquefeito (LNG), com potencial para introduzir novas perturbações nas cadeias de produção e de alimentar o recrudescimento do preço das matérias-primas energéticas“, alerta.
O Médio Oriente é responsável por uma parte importante da produção mundial de petróleo e serve como rota de passagem de importantes vias marítimas, incluindo para o transporte de gás natural liquefeito, com potencial para introduzir novas perturbações nas cadeias de produção e de alimentar o recrudescimento do preço das matérias-primas energéticas
O CFP destaca ainda que “a incerteza geopolítica tende a enfraquecer a confiança e o investimento“, ou seja, poderá levar empresas e investidores a adiarem decisões, com reflexo na atividade económica.
Um alerta que também já tinha sido feito pela Comissão Europeia. Segundo simulações do executivo comunitário nas previsões económicas de primavera, publicadas em maio, um novo choque energético – desta vez sobre o petróleo – iria levar a um corte nas perspetivas de crescimento da União Europeia e poderia “reacender as pressões inflacionistas“.
Isto numa altura em que a economia da Zona Euro pouco cresce, penalizada por países como a Alemanha. O índice ZEW relativo aos países da moeda única caiu de 8,6 pontos para 9,3 pontos em setembro. O Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, já prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro de 0,8% em 2024, 1,3% em 2025 e 1,5% em 2026.
A Comissão Europeia destaca, no relatório de primavera, que o impacto do conflito nos preços do petróleo tem sido moderado. Contudo, calcula que eventuais interrupções no fornecimento de petróleo afetariam quer os preços da energia, quer a produção global e o nível geral de preços. Um aumento de preços de 30% levaria a uma perda no crescimento do PIB da União Europeia de 0,2 pontos percentuais (pp.) em 2024 e 1,4 pp. em 2025, bem como a um aumento da inflação em 0,7 pp. em 2024 e 0,6 pp. em 2025.
Comissão Europeia estima que aumento de preços de 30% levaria a uma perda no crescimento do PIB da União Europeia de 0,2 pontos percentuais (pp.) em 2024 e 1,4 pp. em 2025, bem como a um aumento da inflação em 0,7 pp. em 2024 e 0,6 pp. em 2025.
Na mesma linha, o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem alertado para a incerteza em torno da atividade económica devido à situação geopolítica. Nas previsões económicas regionais para a Europa, publicadas em abril, considerou que teria impacto para toda a Europa “a guerra da Rússia na Ucrânia ou um alargamento do conflito no Médio Oriente poderá aumentar a incerteza e afetar as cadeias de abastecimento e os preços das matérias-primas“.
Por sua vez, nas previsões económicas regionais para o Médio Oriente, a instituição de Bretton Woods assumia “o risco de uma nova escalada ou de um conflito prolongado e de perturbações no comércio e no transporte marítimo“.
“Num cenário em que o conflito se agrava, as economias vizinhas seriam afetadas pela redução do turismo, pelas contínuas perturbações comerciais e por possíveis fluxos de refugiados. Além disso, perturbações prolongadas no Mar Vermelho continuariam a ter impacto nos volumes comerciais e custos de transporte, com impacto amplificado no Egito, através da redução das receitas do Canal de Suez”, pode ler-se.
Na terça-feira ao final do dia, a Guarda Revolucionária do Irão reivindicou o ataque contra Israel, justificando como uma represália pelas mortes do líder político do movimento islamita palestiniano Hamas, Ismail Haniye, e do secretário-geral da milícia xiita libanesa Hezbollah, Hassan Nasrallah.
Por seu lado, o porta-voz militar israelita, Daniel Hagari, avisou que “haverá consequências” do ataque iraniano. “Estamos em alerta máximo defensiva e ofensivamente, vamos proteger os cidadãos de Israel. Este disparo [de mísseis] terá consequências. Temos planos e atuaremos no momento e no local que escolhermos”, disse o contra-almirante, citado pela Lusa. As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram ter intercetado um grande número de mísseis disparados pelo Irão contra o país.
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