Walz e Vance empatam em debate entre candidatos a vice-presidente dos EUA com mais substância política
Grupo de eleitores indecisos inquiridos pela NBC News deu a vitória ao democrata, mas a maioria dos analistas mostrou inclinação para um empate, num debate com menos momentos crispados.
Nenhum dos candidatos a vice-presidente dos EUA saiu vencedor claro do debate, com o democrata Tim Walz e o republicano J.D. Vance a contraporem mais políticas que polémicas num frente a frente cordial.
“Achei um debate muito equilibrado”, disse à Lusa a cientista política Daniela Melo, professora na Universidade de Boston. A politóloga indicou que, ao contrário do que aconteceu com os candidatos presidenciais, foi um debate com políticas. “Walz começou nervoso mas depois recuperou”, notou a especialista, que classificou o debate como “um empate”.
Embora ambos tenham sido cautelosos com as palavras, Daniela Melo considerou que o republicano Vance se mostrou mais seguro do princípio ao fim e que foi depois do intervalo que Walz conseguiu ter muitos momentos fortes. “Ambos fizeram o que tinham de fazer: não prejudicaram o candidato [presidencial], mostraram as diferenças em políticas, e não cometeram gafes graves”, sintetizou.
Melo considerou que Vance conseguiu fazer o “sanewashing” das políticas mais problemáticas do candidato presidencial republicano Donald Trump, usando uma expressão que foi amplamente repetida por analistas no rescaldo do debate. É uma referência à estratégia de Vance de fazer ideias extremistas parecer aceitáveis.
No entanto, a estratégia derrapou no final, naquele que a professora considerou ter sido o momento de maior destaque do debate: quando Walz perguntou a Vance sobre o 6 de janeiro de 2021 e a tentativa de subverter os resultados da eleição e o republicano mudou de conversa, recusando-se a admitir que Trump perdeu para Joe Biden em 2020. Foi um momento que a comentadora da CNN Abby Phillip considerou embaraçoso, depois de Vance ter passado todo o debate a tentar reabilitar a sua imagem negativa.
A forma polida, educada e articulada com que Vance falou foi um dos pontos mais referidos nas reações. A senadora Amy Klobuchar, uma das democratas que tinha sido escolhida para fazer a defesa do partido pós-debate, apontou que Vance se mostrou compreensivo e com alguma compaixão ao mesmo tempo que defende políticas cruéis.
“O que vimos esta noite foi a mesa da cozinha versus a Ivy League”, disse o comentador da CNN Van Jones, que frequentou a mesma escola de direito que Vance. “É assim que nos ensinam a fazer, de forma polida. O problema é que J.D. Vance muda de personalidade como as pessoas mudam de camisa”, disse Jones.
O comentador disse que a missão de Vance era mudar a sua imagem e fazer parecer aceitáveis os comentários polémicos que fez sobre mulheres e sobre migrantes haitianos. “Ele mentiu a noite toda”, frisou Jones, caracterizando-o como “muito enganoso”.
Da perspetiva republicana, disse o estratega David Urban, Vance obteve nota máxima. “Conseguiu murros certeiros mas fê-lo com luvas de veludo”, afirmou. “Muito suave, simpático, pareceu presidencial, comandou os factos, não ficou incomodado. É o tipo com quem se quer beber uma cerveja”, acrescentou. Na televisão MSNBC, Rachel Maddow considerou que Vance foi polido mas Walz ganhou o debate.
Um grupo de eleitores indecisos inquiridos pela televisão NBC News também deu a Walz a vitória, mas a maioria dos analistas mostrou inclinação para um empate, num debate que teve menos momentos crispados que o encontro entre Trump e a candidata presidencial democrata Kamala Harris.
Moderado pela CBS News, este foi o último debate que está previsto no ciclo eleitoral. As eleições estão marcadas para 5 de novembro e vários estados já começaram a permitir o voto antecipado e por correspondência. O agregado das sondagens da plataforma FiveThirtyEight dá Harris como líder, com 2,7% de vantagem sobre Trump a nível nacional.
Walz acusa Trump de ser instável e defende direito de Israel à defesa
O candidato democrata a vice-presidente dos EUA Tim Walz acusou o republicano Donald Trump de ser instável e demasiado inconstante para lidar com conflitos internacionais, durante o debate vice-presidencial contra J.D. Vance. “Precisamos de liderança estável”, afirmou Walz, defendendo que a candidata presidencial democrata Kamala Harris garante essa estabilidade numa altura em que o conflito no Médio Oriente está a agudizar-se.
Walz disse que Israel tem o direito a defender-se e que a escalada com o Irão tem origem não só no ataque do movimento islamita palestiniano Hamas a 07 de outubro de 2023, mas também nas decisões da administração de Trump, que provocou a rutura do acordo de não-proliferação nuclear com o Irão.
“O mundo viu um Trump de quase 80 anos a falar do tamanho das multidões”, apontou Walz, referindo-se ao debate presidencial de setembro. “Os seus dois secretários da Defesa disseram que Trump não devia sequer chegar perto da Casa Branca”, continuou o democrata.
Em matéria de política externa e resolução de conflitos, Walz considerou que é necessário entender a importância dos aliados dos Estados Unidos. “O que vimos com Kamala Harris é liderança estável”, afirmou, por oposição a um Trump que os aliados veem a aproximar-se dos líderes russo Vladimir Putin e norte-coreano Kim Jong-un.
“Os nossos aliados entendem que Donald Trump é instável”, reiterou, acusando o ex-presidente de ser permeável à lisonja de líderes autoritários. “Vamos proteger as nossas forças e os nossos aliados e haverá consequências”, contrapôs.
Num debate cordial, com poucos momentos crispados, Walz também foi chamado a responder a uma discrepância no seu próprio currículo. O governador do Minnesota admitiu que errou quando disse que tinha estado em Hong Kong e na China continental durante os protestos pró-democracia de maio e junho de 1989, que culminaram no massacre de Tiananmen. Ele chegou em agosto.
“Às vezes sou cabeça dura”, admitiu. “Cheguei lá nesse verão e falei errado sobre isto. Estava em Hong Kong e China durante os protestos democráticos, e aí aprendi muito sobre o que significa governar”, disse.
Walz chocado por recusa de Vance dizer que Trump perdeu em 2020
O candidato democrata a vice-presidente dos EUA Tim Walz mostrou-se chocado durante o debate com J.D. Vance quando o rival se recusou a admitir que Donald Trump perdeu as eleições em 2020. “Estou bastante chocado com isto. Ele perdeu a eleição. Isso não está em debate”, afirmou Walz, depois de perguntar diretamente a Vance se reconhecia o resultado, sem resposta positiva.
“Agentes da polícia foram espancados no Capitólio e alguns vieram a morrer”, apontou Walz, lembrando que os invasores pediram a forca para o então vice-presidente Mike Pence por ter certificado a vitória do Presidente dos Estados Unidos Joe Biden.
“A decisão que Mike Pence tomou é a razão pela qual não é ele quem está a debater neste palco”, disse Walz. “Foi a primeira vez que um presidente tentou subverter uma eleição justa e transição do poder”, continuou, criticando a “história revisionista” que Vance estava a tentar fazer ao desvalorizar o assalto ao Capitólio.
O democrata considerou que foi “um ataque à democracia” como nunca antes visto no país e, olhando diretamente para a câmara, fez um apelo aos eleitores: “América, vocês têm aqui uma escolha muito clara. Quem vai honrar a democracia e quem vai honrar Donald Trump?”.
Num debate cordial, em que os dois oponentes chegaram a mostrar empatia um para com o outro, Walz passou em revista as grandes propostas da candidata democrata à presidência, Kamala Harris, e evitou atacar diretamente Vance, optando por mandar farpas a Trump.
Os temas do aborto, cuidados de saúde e imigração foram os que mais animaram o governador do Minnesota, que criticou o histórico dos republicanos nestas matérias e as propostas de Trump-Vance se vencerem.
“Somos pró-mulher, a favor de que tomem as vossas decisões”, disse Walz, prometendo reinstituir o direito federal ao aborto que foi revogado pelo Supremo Tribunal e entregue aos estados. “Como é que uma nação pode dizer que a sua vida e o direito a tomar decisões sobre o seu corpo é determinado pela geografia”, questionou Walz. “Somos a favor da liberdade para as mulheres”, acrescentou.
O democrata criticou as tentativas de Trump de eliminar o Affordable Care Act (ACA, também conhecido como Obamacare), que permitiu a mais de 20 milhões de pessoas obterem acesso a seguros de saúde.
Quando Vance defendeu que Trump tinha melhorado o sistema, Walz rejeitou a alegação e disse que foi o senador republicano John McCain quem salvou o ACA. “Quando Trump disse que tinha um conceito de plano para a saúde deu-me vontade de rir”, disse Walz, apontando que foi Harris quem conseguiu pela primeira vez a negociação dos preços de 10 medicamentos para baixar os custos dos doentes.
Na economia, o foco do democrata foi o plano de construir três milhões de casas para combater os preços elevados das rendas e de dar um apoio de 25 mil dólares (22.600 euros) a quem quiser comprar a primeira casa. “Esta é uma diferença filosófica. Trump deu cortes de impostos aos mais ricos. Agora está a propor um imposto de 20% sobre tudo o que importarmos”, disse Walz, referindo-se às tarifas propostas pelos republicanos.
O contraste, indicou, é que os democratas “acreditam na classe média” e querem que os mais ricos “paguem a fatia justa”. Vance tentou ligar a falta de habitação acessível ao aumento da imigração ilegal, algo que Walz refutou.
A imigração foi um tema quente da noite, embora a controvérsia relativa aos migrantes em Springfield, Ohio – que Vance tinha acusado de comerem animais de estimação — tenha sido mencionada apenas de passagem.
“Resolvemos este problema com legislação”, disse Walz, apontando que Trump impediu a aprovação de um pacote bipartidário que iria levar muitos mais recursos à proteção da fronteira sul e à resolução dos pedidos de asilo.
JD Vance pede mudança e mais segurança nas escolas para travar tiroteios
O candidato republicano à vice-presidência dos EUA defendeu mais segurança nas escolas para conter a violência armada, num debate em que advogou que o país precisa de uma mudança que passe por Donald Trump.
Na terça-feira, naquele que foi o primeiro (e possivelmente único) debate vice-presidencial de 2024, JD Vance abordou alguns dos temas que mais pesam contra os republicanos na corrida eleitoral, nomeadamente a violência armada que assola o país e a questão do aborto.
O parceiro de Trump na corrida presidencial pediu mais segurança nas escolas para conter a violência armada, apesar de os republicanos se oporem a retirar armas de assalto das ruas.
“Eu, infelizmente, acho que temos que aumentar a segurança nas nossas escolas. Temos que fazer as portas trancarem melhor. Temos que tornar as portas mais fortes. Temos que tornar as janelas mais fortes e, claro, temos que aumentar os recursos dos agentes nas escolas, porque a ideia de que podemos magicamente acenar uma varinha e [tirar] as armas das mãos dos bandidos” não é realista, defendeu o senador do Ohio.
A questão da violência armada levou a um breve momento de conciliação entre Vance e Tim Walz, depois que o candidato democrata à vice-presidência mencionou que um dos seus filhos testemunhou um tiroteio num centro comunitário. O relato de Walz surpreendeu e entristeceu visivelmente Vance, que lamentou a experiência do filho do governador.
No confronto de candidatos a vice-presidente, Vance também afirmou que “nunca apoiou uma proibição nacional do aborto”, embora, em 2022, quando concorria ao Senado, ter dito que “certamente gostaria que o aborto fosse ilegal nacionalmente”.
No debate, marcado por um registo cordial entre ambos, Vance foi encurralado pelo seu oponente quando surgiu o assunto do ataque ao Capitólio de 06 de janeiro de 2021, tendo-se esquivado de responder à questão sobre se Trump perdeu a eleição presidencial de 2020.
“Isso foi uma ameaça à nossa democracia de uma forma que não tínhamos visto e manifestou-se por causa da incapacidade de Donald Trump de dizer — e ele ainda diz — que não perdeu a eleição”, defendeu Walz, governador do Minesota.
O candidato democrata à vice-presidência perguntou então diretamente a Vance: “Ele [Trump] perdeu a eleição de 2020?”, mas o senador do Ohio recusou-se a responder. “Tim, estou focado no futuro”, disse Vance, que alegou que Trump “entregou pacificamente o poder” ao deixar o cargo de Presidente, numa eleição que perdeu para Joe Biden. “Isso é uma maldita de uma não-resposta”, contestou Walz.
Trump continua a recusar reconhecer a sua derrota nas eleições de 2020 e nega qualquer envolvimento no ataque de 06 de janeiro de 2021, quando os seus apoiantes invadiram violentamente o Capitólio norte-americano para tentar evitar a confirmação da vitória eleitoral de Biden.
No debate, que teve lugar nos estúdios da estação televisiva CBS News em Nova Iorque, Vance disse acreditar que todos os norte-americanos, independentemente da sua condição, merecem ter as suas necessidades básicas atendidas, apelando aos eleitores por uma mudança que passe pelo ex-presidente Donald Trump.
“Acredito que, seja rico ou pobre, você deve poder comprar uma casa, deve poder viver em bairros seguros, não deve ter as suas comunidades inundadas com fentanil, e isso também ficou mais difícil por causa das políticas de Kamala Harris”, atacou o senador.
Kamala Harris é “vice-presidente há três anos e meio” e as “suas políticas fizeram piorar esses problemas”, advogou. “Precisamos de mudança, precisamos de uma nova direção, precisamos de um Presidente que já fez isso antes – e fez bem. Por favor, vote em Donald Trump”, instou.
JD Vance recusa responder se Trump separaria crianças migrantes dos pais
O candidato republicano à vice-presidência dos EUA recusou responder se um segundo Governo de Donald Trump separaria crianças migrantes dos pais, uma política que o ex-presidente colocou em prática sob enormes críticas.
Na terça-feira, naquele que é o primeiro (e possivelmente único) debate vice-presidencial de 2024, JD Vance e o candidato democrata a vice-presidente dos Estado Unidos, Tim Walz, enfrentaram questões das moderadoras da televisão CBS News sobre imigração, com o republicano a ser confrontado com as promessas de deportações em massa feitas por Donald Trump em caso de reeleição.
Vance, senador do Ohio, recusou-se por duas vezes a responder a uma pergunta direta sobre se a deportação em massa prometida por Trump separaria os adultos imigrantes indocumentados dos seus filhos, que poderão ser cidadãos nascidos em solo norte-americano.
O senador de 40 anos optou por criticar a política de fronteiras da atual administração de Joe Biden e Kamala Harris e defender que o país precisa de conter a imigração.
“Temos que estancar a hemorragia”, disse Vance, alegando que os Estados Unidos têm uma crise de imigração porque a vice-presidente e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, quis desfazer as políticas de Trump para as fronteiras.
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