Emmanuel Pelege: “A BNP Paribas Cardif tem 1 milhão de apólices em Portugal”

Emanuel Pelege, CEO da seguradora especializada em proteção de pagamentos, explica como, discretamente, cresceu com parceiros como Cetelem, Cofidis, VW, Toyota e Universo da Sonae.

Emmanuel Pelege: “Estamos sempre à procura de um novo canal como parceiro, para se distribuírem os nossos seguros cujo carro chefe é o produto de proteção de pagamentos”.

A seguradora BNP Paribas Cardif, tem quase 30 anos de atividade em Portugal, espera um volume de prémios anual de 65 milhões de euros e é líder de mercado no ramo perdas pecuniárias, onde predominam os seguros de proteção de pagamentos. A nível global está presente em 30 países faturando 30 mil milhões de euros a nível mundial, dos quais 23 mil milhões resultam de seguros de poupança, vendidos principalmente nos países onde tem forte canal bancário como França, Itália e Bélgica. Os outros 7 mil milhões euros são resultado de seguros de proteção com um produto carro chefe da cadeia designado CPI (Credit Protection insurance), que oferece proteção financeira, proteção de pagamentos.

A partir de Madrid, Emmanuel Pelege, CEO da BNP Paribas Cardif na iberia, foi entrevistado por ECOseguros, num português perfeito de quem casou com uma brasileira e viveu e trabalhou 15 anos no Brasil, justamente na Cardif.

Pode explicar o negócio da Cardif em Portugal?

Somos uma empresa especializada em seguros de proteção de pagamentos no modelo de b2b2c (business to business to consumer), procurando alianças com bancos tradicionais e com companhias financeiras de consumo. Interessam-nos as áreas no mundo da mobilidade como os fabricantes de automóveis, as financeiras, retalho, telecom e utilities, mas estamos sempre à procura de um novo canal como parceiro, para se distribuírem os nossos seguros cujo carro chefe é o produto de proteção de pagamentos.

São feitos seguros diretamente aos consumidores, mas através de redes de venda dos parceiros?

Os seguros são vendidos pela força de venda dos nossos parceiros. Eles aproveitam os pontos de venda físicos em agências e lojas, mas também telemarketing e através do canal digital. Tentamos diversificar para conseguir o contacto com os clientes. O produto tem várias coberturas como cobertura de vida, de invalidez, de incapacidade e de desemprego. Nesse exemplo, coloco as quatro coberturas. Quando uma pessoa vem a falecer, ou em caso de invalidez, vamos indemnizar a dívida do crédito. Quando a pessoa segura está desempregada ou quando tem uma incapacidade, nós vamos pagar o número de mensalidades previsto na apólice.

Em Portugal já trabalhamos com a Ageas. Temos um acordo de resseguro. Nós fazemos o resseguro para os seguros de proteção de pagamentos da Ageas e acho que a aquisição de 9% do BNP Paribas na casa-mãe vai nos ajudar a consolidar essa parceria.

O que seduz na proteção de pagamentos?

Acho que a pandemia voltou a lembrar da sua importância. Durante a Covid a Cardif contribuiu muito a ajudar as famílias que tinham contratado o seguro. E também está presente nos momentos infelizes da vida, como uma incapacidade, ou o desemprego. Sabemos que quando as pessoas contraem um crédito, sobretudo nos créditos imobiliários a longo prazo com prazos de 15 ou 20 anos, uma crise irá acontecer e aí vamos jogar o nosso papel de companhia de seguros e de proteger os nossos segurados.

Nesse caso, o produto que é vendido tem uma componente de vida e uma componente não vida. Daí a Cardiff ter duas seguradoras em Portugal…

Para o cliente é um produto único, uma combinação de coberturas. Mas contabilizamos em duas companhias de seguros distintas para os riscos Vida e Não Vida.

Os seguros podem ser considerados incorporados nos bens e nos serviços ou são negócios à parte?

São assuntos separados, mas a jornada para o cliente é a mesma. Vai ser oferecido um crédito e nesse momento oferece-se o seguro, porque tem tudo a ver.

Então a distribuição é essencialmente pelos vossos parceiros?

Trabalhamos exclusivamente com parceiros e especificamente nesse modelo de b2b2c, essa é uma característica da Cardif. Não trabalhamos em diretos, não trabalhamos através de corretores com exceções de grandes corretores que podem intermediar uma parceria entre uma seguradora e um distribuidor.

O grupo BNP Paribas tomou a participação da Fosun no Grupo Ageas. Vai mudar alguma coisa?

Já existia uma parceria entre o BNP e a Ageas na Bélgica, uma joint venture onde o BNP tem 25%, uma aliança estratégica que vai continuar. Agora a BNP comprou 9% da Ageas, para fortalecer ou consolidar a parceria já existente. Esse tema de negócio não tem mudança. Em Portugal já trabalhamos com a Ageas. Temos um acordo de resseguro. Nós fazemos o resseguro para os seguros de proteção de pagamentos da Ageas e acho que a aquisição de 9% na casa-mãe vai nos ajudar a consolidar essa parceria.

Os produtos e o negócio da Cardiff em Portugal dependem então muito do emprego e do consumo…

Dos créditos hipotecários, de crédito automóvel, de empréstimo pessoal, um cartão de crédito, ou seja de todas as formas de crédito. Oferecemos nossos seguros e proteção de pagamento para proteger a dívida de crédito ou pagar as mensalidades em caso dos eventos negativos.

Qual é a taxa de sinistralidade em Portugal?

Entre 20 e 25%, de custos com sinistros em relação aos prémios emitidos.

Quem gere os sinistros? Quando há uma ocorrência quem atende?

Não somos unicamente um fornecedor de produto, estamos presentes em toda a cadeia de valor. Nesse sentido, em Portugal concebemos o produto, fazemos estudos de marketing, entendemos os clientes, e vamos ajudar na distribuição dos nossos parceiros. Ajudamos na integração de tecnologia e em tudo que é uso dos dados e analytics. Na parte operacional, fazemos toda a parte de pós-venda, como seja a gestão dos sinistros. Chamamos a tudo isto a nossa proposta de valor, queremos chegar ao maior valor possível para o cliente e que o parceiro também nos veja como um sólido parceiro de valor.

Queremos aumentar a penetração do seguro de proteção de crédito, mas também procuramos colocar outros tipos de seguros e temos o apetite para procurar outras alianças além das que nós temos.

Quantos clientes tem a Cardif em Portugal

Temos 1 milhão de apólices. É um modelo de seguro massivo que nós temos a capacidade de gerir muitos volumes em termos de aportes e consequentemente também nas operações de pós-venda, de gestão, etc.

As operações estão em Portugal?

Todas as operações estão em Portugal. Em Portugal temos desde atuários, a pessoas de marketing que ajudam comerciais, pessoas nas operações para gerir o call centre e para gerir sinistros. São 33 pessoas internas e um total de 55 contando externos.

Quanto será a faturação em 2024?

Prevemos faturar uns 65 milhões de euros. Temos crescido de forma muito significativa nos últimos dois anos. Para além de aumentar a penetração do seguro de proteção de crédito também procuramos colocar outros tipos de seguros e temos o apetite para procurar outras alianças além das que nós temos.

Quais são os parceiros mais salientes?

O principal é a Cetelem, a financeira do grupo BNP Paribas e nesse segmento temos também a Cofidis. No mercado de mobilidade automóvel, devemos mencionar a Volkswagen e a Toyota, no retalho e financeira de consumo trabalhamos com o Universo do Grupo Sonae onde somos a companhia de seguros para os cartões de crédito. Porque no mundo bancário, como eu mencionei, indiretamente assim trabalhemos. Somos ainda resseguradores dos produtos Ageas resultantes das operações desta com o Millennium BCP.

Pretendem oferecer mais que proteção de pagamentos?

Além da proteção de pagamentos, também oferecemos seguro de vida, seguro de acidentes, seguro oncológico, seguro de enfermidades graves e seguro de autorização fraudulenta dos cartões de créditos. Temos também uma linha de negócio para a extensão de garantia de carros. Para os interessados também será lançada uma linha de seguro para telemóveis. Ou seja, a cada item tem uma ampla gama de produtos para segurar as pessoas e seus bens dentro desse modelo partnership. O que nos diferencia realmente é a nossa proposta de valor. Queremos realmente ser vistos como uma empresa que inova e que, através da sua agilidade, vai permitir aportar valor aos nossos parceiros, aos clientes e também à sociedade.

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