“Esperamos grande afluência aos Certificados de Aforro a partir de agora”

No dia em que novos limites entraram em vigor, João Bento vincou o maior retorno dos Certificados face aos depósitos. Sobre a comissão dos CTT e nova concorrência dos bancos, diz que está tranquilo.

“Novo afluxo dos portugueses a esta forma de poupança.” É a expectativa que João Bento, CEO dos CTT, expressou ao ECO sobre os novos limites para subscrição de Certificados de Aforro esta segunda-feira, dia em que entrou em vigor a alteração levada a cabo pelo Governo.

O aumento de 50 mil para 100 mil unidades da Série F (e de 250 mil para 350 mil no acumulado com a Série E) é importante, segundo João Bento, porque coincide com uma melhoria rentabilidade altocomparativa deste produtos, numa altura de queda de retornos nos depósitos e de curva descendente das taxas de juro. A perspetiva é de contrariar a ‘fuga’ dos investidores após a criação da Série F em junho de 2023, muito menos vantajosa que a anterior. Para ajudar a dar conta da procura esperada, os CTT têm um canal digital e, desde julho, uma funcionalidade de subscrição na aplicação móvel da empresa.

Em entrevista, João Bento referiu ainda que a comissão que os CTT recebem do Estado pela distribuição dos Certificados deve ficar no patamar mais alto, de 0,565%, e não de 0,26% como nos últimos anos, pois o valor anual de subscrições deverá fica abaixo dos três mil milhões. “O nosso contrato com o IGCP foi revisto há pouco tempo, estamos tranquilos”, diz, adiantando que é também com tranquilidade que os CTT vêm a possibilidade de outros bancos começarem a vender os títulos públicos.

Nos Certificados de Aforro, houve uma alteração publicada em Diário da República esta segunda-feira, nomeadamente em relação ao montante e também às regras de prescrição. Como é que viu estas alterações?

Vi bem e há um conjunto de razões pelas quais isto até pode ter chegado tarde. Por um lado, é muito importante nós termos uma parte da nossa dívida colocada no retalho junto da população portuguesa. É muito importante preservar essa forma de financiamento da República, porque hoje em dia as coisas correm bem, nem sempre correm bem, já correram mal e este canal de financiamento foi sempre muito importante. Portanto, abandonar, como de certo modo aconteceu com quando se alterou as condições da Série E para a Série F… Nós sabemos que estavam, e é público e recorrente essa notícia, a sair dos cofres deste canal de retalho cerca de 100 milhões de euros por mês. Por essa razão é muito importante.

Depois, é também muito importante que isso aconteça do ponto de vista político, se me é permitido, porque acho que fica bem ao Governo português fomentar a poupança das famílias, seja através de que meio for. Os produtos tinham perdido atratividade e agora que já estão a ficar mais atrativos, porque as taxas, comparando com as taxas de depósitos, já estão a ficar mais atrativas e os limites estavam a impedir as pessoas de continuar a poupar. Tínhamos constantemente aos nossos balcões pessoas que queriam investir mais, porque não tinham consciência que não o podiam fazer. E, finalmente, achamos que o momento é certo, porque temos as taxas de juro a descer desde o princípio do ano, tivemos há pouco tempo a primeira descida das taxas de referência pela parte do Banco Central Europeu (BCE), está praticamente anunciada uma segunda, temos a remuneração dos depósitos a baixar e, portanto, os Certificados de Aforro estão outra vez a ficar muito atrativos, tendo em conta que é uma opção sem risco, sem risco de capital, que tem por trás o risco da República Portuguesa.

Com o rating a crescer.

Com o rating crescer. Hoje [segunda-feira] tivemos notícias de uma nova agência de rating que abre a notação da República [a indiana CareEdge] logo com um rating de ‘A’ e, por outro lado, porque no fundo agora passa a ser de novo uma forma mais rentável. Aliás, é uma forma que não tem taxas de subscrição, de manutenção, não tem comissões e, portanto, quando se fazem as contas, passou a ser muito atrativo voltar para os Certificados de Aforro.

João Bento, CEO dos CTT, em entrevista ao ECO - 07OUT24
João Bento, CEO dos CTT, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

A descida das Euribor também vai acabar por afetar esta Série F, porque, depois de a Euribor baixar dos 2,5%, fica muito menos interessante do que era a Série E. Mas continua a ser competitiva?

Continua a ser competitiva, e perante o que interessa sempre comparar, [que é] com as alternativas. E, de facto, ao contrário do que aconteceu durante o último ano, estamos num momento em que passou a ser muito atrativo. Aliás, estamos à espera de grande afluência a partir de agora para ver um novo afluxo dos portugueses em geral a esta forma de poupança.

As comissões que o Estado paga aos CTT para distribuir este produto de retalho têm parâmetros. Se distribuem três mil milhões de euros de Certificados, é uma percentagem; se fica abaixo disso, é outra. No primeiro semestre foram cerca 622 milhões de euros. Se repetimos esse semestre, não vão chegar a essa barreira. Este aumento de plafond para cada investidor poderá compensar e chegar a esse volume?

Nós esperamos que o aumento do limite para os aforradores possa fazer aumentar significativamente a colocação diária. Hoje em dia está muito abaixo do que aconteceu em anos normais. Não temos a certeza — faltam três meses até o final do ano — de que seja possível atingir esse plafond. Em todo o caso, dir-lhe-ia também, para tranquilizar quem nos ouve, que a comissão paga pelo IGCP é uma comissão relativamente baixa face aquilo que é a comissão paga para produtos de poupança alternativos e concorrentes.

A comissão paga pelo IGCP é uma comissão relativamente baixa, face aquilo que é a comissão paga para produtos de poupança alternativos e concorrentes.

João Bento

CEO dos CTT

Portanto, não é cara?

Não, não é cara. Para nós, para os CTT, é obviamente muito importante. Ao longo dos anos, das décadas, criámos o hábito de ser o sítio onde as pessoas poupam em dívida pública. Queremos muito preservar essa imagem e fazemos muito por isso. Temos agora, como é sabido, desde há uns meses, também um canal digital com imensa qualidade, cuja adoção tem vindo a aumentar muito significativamente. Somos remunerados por isso, mas não é uma remuneração que seja assim absolutamente espetacular.

Nestas alterações, tiveram alguma conversa ou querem ter alguma conversa com o IGCP sobre o comissionamento deste tipo de produto?

Achamos que não. O nosso contrato com o IGCP foi revisto há pouco tempo, estamos tranquilos. Estamos sobretudo preocupados em que o IGCP, e naquilo que depende do Governo, possa promover produtos de poupança que sejam interessantes. Nós não falamos muito disso, mas temos também as Obrigações do Tesouro, que são produtos de longo prazo, que há muito tempo deixaram de ser atrativos e não estão competitivos e, portanto, achamos que faz sentido. Ainda há pouco tempo ouvíamos o João Moreira Rato [ex-presidente do IGCP e ex-chairman do Banco CTT] a falar sobre isso numa entrevista, que valia a pena voltar a desenhar produtos de poupança para além dos Certificados de Aforro — que é um produto de curto prazo que depois é usado também para o longo prazo, até porque premeia a permanência. Produtos de longo prazo e outros produtos de outra natureza. É sobretudo isso que nos interessa na nossa relação com o IGCP. Queremos ser parceiros, estar cá para promover a sua colocação.

Temos uma rede física de presença que é imbatível, temos 570 lojas, se for preciso mobilizar temos mais 1.800 agentes, mais 5.000 agentes Payshop e, portanto, se viesse a aumentar muito este tipo de concorrência, [dos bancos nos Certificados] estaríamos cá para responder.

João Bento

CEO dos CTT

São o parceiro tradicional nessa colocação. Depois entrou outro banco [o BiG] e o IGCP quer alargar a distribuição para outros bancos. Como é que vê isso? Pode diluir a procura nos vossos balcões? Segunda pergunta, que os outros bancos têm interesse em vender estes produtos que não são deles próprios, são produtos de third party, ou seja, do Estado?

Procurando manter aqui alguma elegância, diria que não têm. Têm sobretudo interesse em usar os Certificados de Aforro como uma forma de estimular a sua relação com os seus clientes ou com clientes novos, mas, como já tinha dito anteriormente, a remuneração dos Certificados de Aforro para quem os coloca não é muito atrativa face a produtos alternativos, por exemplo, unit links, seguros financeiros e outros. E portanto acredito que não. É por isso que sempre encaramos com bastante tranquilidade a abertura que foi feita à generalidade dos operadores financeiros e agora também a operadores de meios de pagamento. Temos uma rede física de presença que é imbatível, temos 570 lojas, se for mobilizar temos mais 1.800 agentes, mais 5.000 agentes Payshop e, portanto, se viesse a aumentar muito este tipo de concorrência, estaríamos cá para responder.

Essa rede física foi durante muito tempo a via exclusiva para comprar Certificados de Aforro. Já há algum tempo há a digital e, mais recentemente, na app dos CTT, a possibilidade de fazer esse investimento. Como é que isso tem corrido? Tem havido muita afluência?

Tem corrido bem, bastante bem, tem tido muita afluência. É um processo de aprendizagem. Tem sofrido pelo facto de grande parte dos aforradores estarem com os seus limites trancados. Portanto, esperamos agora também um grande afluxo ao canal digital, sobretudo dos aforradores mais novos. Temos, de facto, um aumento progressivo. Esperamos que agora seja muito, muito acelerado. Procuramos também desenvolver na app o módulo de aforro com muita qualidade, estamos sempre atentos ao feedback que nos dão. A nossa app é o sítio onde queremos que todos os serviços B2C possam ser adquiridos, numa lógica omnicanal, portanto, pode começar na app e acabar na loja, ou começar na loja e acabar na app, e assim será também para os Certificados.

Houve há dias, como é sabido, um problema de segurança no AforroNet e o próprio IGCP suspendeu a sua utilização e declarou que havia ver o canal digital dos CTT e vimos um afluxo gigante. Achamos que isso vai continuar a acontecer.

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